A vez da pluma

O Brasil tem apresentado números impressionantes na produção de algodão, em saltos de incremento de área e de colheita. Mas o País deve continuar produzindo ainda mais algodão na safra 2019/20, depois desse desempenho tão significativo? A temporada 2018/19 estava estimada em 2,8 milhões de toneladas, alta de 31% em relação às 2,1 milhões de toneladas da temporada anterior, que já havia sido, até então, a maior de todas. O resultado era estimado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Com esse volume, o País se tornará o quarto maior produtor mundial de pluma.

Como os cotonicultores brasileiros também são, em sua grande maioria, produtores de soja e de milho, a área plantada com a fibra é decidida em função da perspectiva de preço de cada commodity para a safra seguinte, além das previsões climáticas, como El Niño e La Niña. Segundo o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, ainda era cedo, em maio de 2019, para projetar possível aumento na área plantada no próximo ciclo, uma vez que isso dependeria de fatores dos mercados interno e externo. “Mas de fato as turbulências vividas no mercado da soja em virtude da China podem influenciar os produtores na decisão de quanto plantar de algodão no período 2019/20”, comentou.

O consumo mundial da fibra é balizado principalmente pela demanda asiática, onde se concentra grande parte da indústria têxtil. Na safra 2017/18, o continente asiático importou 97,5% do algodão brasileiro exportado. “A previsão de excedente do produto no mundo no ciclo 2019/20 nos coloca em estado de atenção, de modo que a oferta não ultrapasse a demanda em escalas que derrubem os preços mundiais da fibra natural”, declarou Garbugio. A Abrapa e as associações estaduais analisam as condições macroeconômicas e internas para tomarem as decisões mais acertadas em relação ao plantio anual.

De acordo com ele, o aumento da produção exige planejamento e ações da cadeia produtiva, que se prepara para escoar e armazenar o produto, além de fluxo mais longo de beneficiamento e embarques e de capitalização do produtor.

O consumo da matéria-prima na indústria nacional deve ficar em cerca de 750 mil toneladas de pluma em 2019. A indústria brasileira de têxteis condiciona qualquer aumento de demanda ao fortalecimento da confiança e à retomada do consumo das famílias.

Ao longo da safra 2018/19, só a China havia importado 36% da exportação de mais de 1 milhão de toneladas de algodão em pluma. Esse resultado foi registrado até o final de abril de 2019. Outros países que também estão importando mais algodão do Brasil são Indonésia, Vietnã, Bangladesh e Turquia. “Essa preferência pela fibra brasileira está atrelada a qualidade, padrão, sustentabilidade e rastreabilidade do produto”, destaca Garbugio, que é produtor de algodão em Mato Grosso.

Além desses países, a Coreia do Sul e o Taiwan poderiam aumentar a demanda de fibra nacional para a safra 2019/20, conforme Garbugio. Isso porque a Abrapa mantém negociações constantes com o continente asiático, trazendo os principais compradores para mostrar os parâmetros de excelência utilizados na produção e no beneficiamento e participando de negociações naquele continente.

IMPULSO CHINÊS

As relações comerciais entre o Brasil e a China estavam favorecidas pela tarifação de 25% do algodão proveniente dos Estados Unidos, principal concorrente da pluma brasileira na exportação. Ao final da temporada 2018/19, segundo Milton Garbugio, presidente da Abrapa, a perspectiva é de que o País alcance o segundo lugar no ranking dos maiores exportadores mundiais de algodão, impulsionado principalmente pela demanda chinesa. Inclusive, em meados de abril de 2019, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China aprovou uma quota de importação de algodão de 800.000 toneladas para 2019.

Mesmo com o cenário positivo de crescimento de importações do algodão pela China, a Abrapa observa que o número real do estoque chinês é dúvida mundial. “Entretanto, existe sinalização de que estes estoques estão sendo reabastecidos aos poucos. Também há mudança ocorrendo no comportamento de plantio de culturas agrícolas na China, em que o País está substituindo o cultivo de fibras por alimentos, para disponibilizar mais alimentos à sua população”, esclarece. Dessa maneira, o trabalho é consolidar cada vez mais as relações comerciais com a China, porém também estreitar laços com os outros países com grande potencial de compra, para não depender só do momento de mercado.

Fonte: Editora Gazeta