Segundo dados divulgados na segunda-feira (13/06) pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), o saldo da balança comercial de lácteos foi de -53 milhões de litros em equivalente-leite no mês de maio, uma diminuição de 33 milhões, ou aproximadamente 62% em comparação ao mês anterior. Ao se comparar ao mesmo período do ano passado (maio/2021), o saldo foi mais negativo, sendo que o valor em equivalente-leite nesse período foi de -41 milhões de litros, representando uma diferença de aproximadamente 22%. Confira a evolução no saldo da balança comercial láctea no gráfico 1.
Gráfico 1. Saldo mensal da balança comercial brasileira de lácteos.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
No mês de maio as exportações tiveram uma forte queda, de aproximadamente 48% em relação ao mês anterior, com um decréscimo de 10,7 milhões de litros no volume exportado. Ao se comparar com 2021, as exportações também foram inferiores em maio, com um decréscimo de -6,0 milhões de litros, representando um recuo de aproximadamente -34,5% no volume exportado. Dessa forma, após passar por um aumento expressivo nos volumes de lácteos destinados às exportações, no mês de maio as exportações voltaram a perder força.
Gráfico 2. Exportações em equivalente-leite.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
Do lado das importações, o cenário também foi reverso do que o observado em abril. O mês de maio apresentou um aumento de 52% nas importações, com um acréscimo no volume de importações de 21,9 milhões de litros em equivalente-leite. Analisando o mesmo período do ano passado, também nota-se um aumento entre os volumes importados; em maio de 2021, 58,1 milhões de litros em equivalente-leite foram importados, já em 2022 esse valor teve uma variação positiva de aproximadamente 10%, totalizando um aumento de 5,8 milhões de litros em equivalente-leite comparando-se os anos, o que pode ser observado no gráfico a seguir:
Gráfico 3. Importações em equivalente-leite.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
Esse aumento nos volumes importados e recuo das exportações acarretaram em um saldo mais negativo da balança comercial de lácteos para o mês de maio, recuando para os patamares observados em março.
Este cenário é consequência da dinâmica que vem sendo formada ao longo dos últimos meses, com o recuo dos preços internacionais, conforme indicado pelo leilão Global Dairy Trade, visto que os preços médios praticados na plataforma de comercialização internacional passaram por sucessivas quedas, em meio a menor demanda por parte da China. Este fato impulsionou uma disruptura do cenário que estava vigente, contribuindo para elevar a competitividade dos produtos internacionais.
O dólar, que vinha operando em patamares elevados, também registrou quedas ao longo do mês de maio, devido a políticas monetárias, tanto do Brasil, quanto dos Estados Unidos, associado ao retorno econômico da China e melhora no apetite por risco.
Outro fator que contribuiu para este cenário foi a ascensão dos preços dos derivados lácteos no mercado interno. A baixa disponibilidade de leite acarretou em sucessivos aumentos nos preços médios praticados, elevando a competitividade dos produtos internacionais e afetando a viabilidade das exportações, em alguns momentos tornou-se mais vantajoso comercializar no mercado nacional do que destinar às exportações, ocorrendo um desestimulo às exportações.
Em relação aos produtos mais importantes da pauta importadora em maio, temos o leite em pó integral, os queijos, o leite em pó desnatado e o soro de leite, que juntos representaram 89% do volume total importado. O leite em pó integral teve uma elevação de 31% em seu volume importado. Os produtos que tiveram maior variação com relação a importação foram o leite em pó desnatado, os queijos e as manteigas, com aumentos de 158%, 37% e 121%, respectivamente.
Os produtos que tiveram maior participação no volume total exportado foram o leite em pó integral, o leite condensado, o leite UHT, o creme de leite e os queijos, que juntos, representaram 75% da pauta exportadora. O leite em pó integral teve um recuo de 65% em seu volume exportado, e o leite condensado um recuo de 35%, sendo os dois produtos principais comercializados, representando juntos 40% da pauta exportadora.
A tabela 1 mostra as principais movimentações do comércio internacional de lácteos no mês de maio deste ano.
Tabela 1. Balança comercial láctea em maio de 2022.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados COMEXSTAT.
O que podemos esperar para o próximo mês?
Conforme relatado, no artigo “GDT: preços internacionais dos lácteos voltam a subir” os preços no mercado internacional de lácteos voltaram a ganhar força no início do junho, e no último leilão os preços médios avançaram. Os preços futuros também estão com um cenário altista, frente ao retorno econômico da China após um período de lockdowns.
Este cenário está ocorrendo em grande parte por conta da retomada gradual da China. Historicamente, o primeiro trimestre do ano é um dos trimestres que a China mais importa derivados lácteos, e com o controle sanitário dos últimos meses, estas negociações foram prejudicadas. Desta forma, o país deve buscar suprir esta queda no volume negociado nos próximos meses. Esta elevação dos preços internacionais tende a diminuir a competitividade dos produtos internacionais, desestimulando as importações.
Fortalecendo este cenário, o dólar, que vinha sofrendo recuos consecutivos, voltou a ganhar força, impulsionando o desestimulo às importações, e favorecendo as exportações.
Um outro ponto de atenção que impacta negativamente nas importações nos próximos meses é a disponibilidade de produtos por parte do principal parceiro comercial brasileiro neste mercado, o Mercosul. Os países do bloco estão com parte de sua produção já comercializada, o que pode dificultar novos negócios e afetar o volume importado pelo Brasil.
Em contrapartida, os preços dos derivados lácteos no mercado interno estão operando em patamares elevados, devido ao cenário de baixa disponibilidade de leite no mercado, o que contribui para aumentar a competitividade dos produtos importados.
Nesse cenário, mesmo com alguns fatores jogando contra às importações (aumentos dos preços internacionais, baixa disponibilidade do Mercosul e elevação da taxa de câmbio) o produto importado ainda é competitivo, portanto, espera-se que as importações sigam ganhando força nos próximos meses e que a janela de exportações continue fechada.
Fonte: MilkPoint