Protocolo laboratorial da Embrapa identifica saúde do solo de forma inédita
Quem conhece a realidade das lavouras e pastos mato-grossenses, sabe dos impactos positivos ao ambiente ocasionados por práticas rotineiras como o plantio direto. Comprová-los cientificamente é ainda um desafio, que começa a ser superado com iniciativas como a bioanálise do solo (BioAS), protocolo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) divulgado durante o Famato Embrapa Show.
A solução, disponível há dois anos para o bioma Cerrado, consiste na inserção de marcadores biológicos nas análises laboratoriais de solo. “Quando analisamos o componente biológico nas amostras, podemos ter uma visão mais completa do grau de saúde do solo. Aspectos que eram visíveis ao produtor rural, como o aumento da biodiversidade nas lavouras, não conseguiam ser mensurados nas análises químicas. Agora, isso mudou”, observa a pesquisadora Ieda Mendes, da Embrapa Cerrados.
A solução apresentada por Ieda coloca o Brasil como pioneiro mundial: somos o primeiro país do mundo a incluir as enzimas arilsulfatase e beta-glicosidase nas rotinas de laboratórios comerciais que fazem a análise de solo.
“A visão do produtor fica ampliada, porque os resultados vão além de indicar se há excesso ou ausência de nutrientes na amostra analisada. É possível construir uma memória química do solo, identificando os impactos diretos das práticas produtivas adotadas”, explica Ieda.
Foram necessários 20 anos de pesquisa até o lançamento do BioAS, em 2020. Neste mês, a tecnologia foi disponibilizada também no Paraná, pois até então estava focada no Cerrado.
Para além de ampliar a capacidade de análise laboratorial, a solução tem alto valor para a sustentabilidade ambiental do agro. “O BioAS nos permite ver o solo como um superorganismo capaz de prestar importantes funções ambientais, da oferta à ciclagem e armazenamento de nutrientes”, argumenta a pesquisadora.
Sustentabilidade econômica
Além dos ganhos ambientais, práticas produtivas como plantio direto, rotação de culturas e integração entre lavoura, pecuária e floresta geram resultados positivos também para a saúde financeira dos produtores rurais.
“Observamos que, em média, as propriedades que adotam o sistema consorciado na produção de leite conseguem aumentar o faturamento com a venda do produto de 55% para 79%”, informa Miqueias Michetti, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Michetti apresentou em minipalestra no Famato Embrapa Show os resultados de um estudo de caso de uma propriedade leiteira que adota integração lavoura-pecuária.
“Os sistemas integrados criam uma ambiência favorável, com pastagens mais nutritivas uma disponibilidade maior de forragem. Dessa forma, os animais expressam melhor todo seu potencial genético, o que os torna mais produtivos. Isso significa um aumento no número de litros vendidos por hectare”, afirma.
Outra experiência bem-sucedida de sistema integrado exposta no Famato Embrapa Show foi o Sistema Gravataí. Trata-se de um consórcio de feijão-caupi com braquiária para pastejo do “boi safrinha” em integração anual com a lavoura de soja. A experiência foi apresentada em formato de pôster interativo. O resultado foi um aumento médio de 5 sacas de soja por hectare na safra seguinte e incremento de até uma arroba de carne por hectare em relação ao uso de braquiárias solteiras.
Evento – Idealizado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e construído em parceria com a Embrapa Agrossilvipastoril e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), o Famato Embrapa Show apresentou de 22 a 24 de junho mais de 60 inovações desenvolvidas por 14 unidades da Embrapa em diversas regiões do Brasil. São tecnologias com foco em sistemas produtivos de
grãos, fibras e pecuária de corte, além de tecnologias de saneamento básico rural.
Unidade móvel e robô facilitam análises laboratoriais de solo
Fertmovel leva análise de solos para mais perto dos produtores, enquanto o Aglibs usa inteligência artificial para realizar análises
Tecnologia boa facilita a vida do produtor rural. Um bom exemplo disso é o Fertmovel, laboratório móvel equipado para entregar uma análise completa de fertilidade de solo rotineira, num prazo máximo de 15 dias. A van que abriga equipamentos e materiais ficou aberta à visitação durante todo o Famato Embrapa Show.
A intenção foi sensibilizar os produtores rurais sobre a importância da análise de solos para a otimização de custos de produção, especialmente quanto à calagem e adubação química. A análise feita pelo Fertmovel abrange indicadores de pH, alumínio e alumínio + hidrogênio, cálcio/magnésio, sódio/potássio e fósforo.
“Nosso intuito é fechar parcerias com instituições e órgãos públicos para disseminarmos essa tecnologia. A Embrapa orienta sobre a compra de furgão, equipamentos, customização, reagentes e facilita o uso dando treinamentos”, explica José Ronaldo de Macedo, pesquisador da Embrapa Solos.
A ideia é que o produtor colete amostras devidamente identificadas e as leve para o ponto de apoio onde serão preparadas para serem analisadas. O técnico ou agrônomo local recebe o laudo e faz a recomendação necessária conforme os resultados obtidos.
Aglibs
Outra inovação tecnológica levada ao Famato Embrapa Show foi o AGLIBS 1.0, robô que dá escala às análises de solo feitas em laboratório. Com equipamento e plataforma criados pela Embrapa, foi desenvolvido em parceria com a startup Agrorobótica e utiliza a mesma tecnologia que a Nasa empregou no Curiosity Rover para explorar o solo de Marte.
“A plataforma utiliza inteligência artificial para realizar análises químicas e de fertilidade do solo, além de certificação de carbono”, explica o analista da Embrapa Instrumentação, Carlos Marmo.
Com uma tecnologia totalmente nacional de hardware e software, o equipamento faz a coleta de solo georreferenciada em campo. As amostras são enviadas para os centros fotônicos da Agrorobótica e são processadas em tempo real.
“A análise de fertilidade do solo é automatizada para trazer produtividade agrícola e atender a demanda mundial por segurança alimentar. Além disso, é um serviço inovador que coloca o agricultor no mercado internacional de crédito de carbono”, comenta o CEO da Agrorobótica, Fábio Angelis.
O Fertmovel e o Aglibs foram dois dos mais de 60 ativos tecnológicos da Embrapa apresentados durante o Famato Embrapa Show, que ocorreu de 22 a 24 de junho, no Cenarium Rural, em Cuiabá (MT). O evento foi realizado de forma conjunta pelo Sistema Famato, Senar-MT e Embrapa.
Evento – Idealizado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e construído em parceria com a Embrapa Agrossilvipastoril e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), o Famato Embrapa Show apresentou de 22 a 24 de junho mais de 60 inovações desenvolvidas por 14 unidades da Embrapa em diversas regiões do Brasil. São tecnologias com foco em sistemas produtivos de
grãos, fibras e pecuária de corte, além de tecnologias de saneamento básico rural.
Pulses e culturas especiais são opções para Mato Grosso atingir novo mercados
Mato Grosso é destaque mundial na agricultura, especialmente em produção de soja, algodão e milho. Mas o cultivo dos pulses e culturas especiais está crescendo no estado e abrindo um leque de novas possibilidades de mercado para os produtores rurais.
“Precisamos ter alternativas para a segunda safra e quanto mais culturas, melhor e temos a possibilidade de desenvolvermos mercados que nem imaginávamos. No caso dos pulses, por exemplo, temos países asiáticos que são grandes consumidores e podem ser nossos clientes”, diz Ricardo Arioli, coordenador técnico do Famato Embrapa Show, realizado em Cuiabá (MT).
Durante o evento, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou alternativas para os agricultores como o amendoim, pulse cuja cultura será ainda mais impulsionada pela implementação de uma indústria no município de Nova Ubiratã, que deve consumir a produção de uma área de 30 mil hectares.
O feijão caupi é outra leguminosa que vem caindo no gosto do agricultor mato-grossense como opção de rotação e de receita.
“O milho tem uma janela estreita e, aproveitando as chuvas, o produtor rural pode utilizar o cultivo do feijão nesta área”, diz Adão Cabral, pesquisador da Embrapa Meio Norte. A cultivar adaptada a Mato Grosso, a BRS Imponente, atende à demanda dos mercados internacionais. São 125 mil hectares cultivados no estado.
Nas culturas especiais, a área de gergelim está em crescimento em Mato Grosso. “A cultura está em pleno avanço porque tem muitas utilidades para o gergelim. É interessante como rotação de cultura, mas precisa de empresas consumidoras no estado”, afirma Luiz Gonzaga Chitarra, pesquisador da Embrapa Algodão.
Trigo – O trigo é uma cultura que vem sendo introduzida em Mato Grosso há alguns anos de forma gradual. Tradicionalmente cultivado no frio, já existem cultivares desenvolvidas pela Embrapa para o Centro-Oeste. “Há falta de trigo para abastecer o mercado interno brasileiro, então é uma oportunidade de expandir o cultivo para o Cerrado e suprir essa demanda”, afirma Anderson Ferreira, da Embrapa Trigo.
Há quatro cultivares recomendadas para o Cerrado: BRS 254, BRS 264, BRS 404 e BRS 394, tanto para cultivo irrigado como para sequeiro. Segundo Ferreira, as avaliações feitas no Centro-Oeste mostraram que com irrigação a produtividade foi de 160 sacas por hectare e, em sequeiro, 50 sacas por hectare.
“É importante lembrar que o trigo irrigado tem um pacote tecnológico mais caro e o de sequeiro, embora menos produtivo, também é rentável para o produtor”.
Como gargalos, o pesquisador aponta a doença bruzone, que pode acometer a cultura, e ainda políticas públicas para que o estado se desenvolva de forma a absorver a produção do trigo.
Soja – A área de soja convencional cresce em Mato Grosso devido à rentabilidade observada pelo produtor rural nas últimas safras. O estado é responsável por 50% do plantio de soja convencional do Brasil, segundo o Instituto Soja Livre.
No Famato Embrapa Show, cinco cultivares foram apresentadas como opções para o plantio no estado: BRS 8381, BRS 8581 – variedades já consolidadas, a BRS MG 534 e os lançamentos BRS 7781 e BRS 7582.
“São cultivares que possuem características como resistência à ferrugem asiática, à nematoides de galha e de cisto, bem como materiais de ciclo curto e longo e alta produtividade”, explica Eduardo Vaz, gerente executivo do Instituto Soja Livre.
Variedades transgênicas também foram trazidas para o evento pela Embrapa. A BRS 5980 IPRO, com duas transgenias e resistência a glifosato e lagartas, e a BRS 7380 RR, com resistência ao glifosato.
“Trouxemos estas variedades porque têm resistência a nematoide de galha e cisto, muito bem adaptadas aos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo”, diz Ilson Alves Afonso, da Fundação Cerrados.
Evento – Idealizado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e construído em parceria com a Embrapa Agrossilvipastoril e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), o Famato Embrapa Show apresentou de 22 a 24 de junho mais de 60 inovações desenvolvidas por 14 unidades da Embrapa em diversas regiões do Brasil. São tecnologias com foco em sistemas produtivos de grãos, fibras e pecuária de corte, além de tecnologias de saneamento básico rural.
Fonte: Senar-MT