Umas das plantas daninhas mais desafiadoras do mundo, o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) já é encontrado por todo o território brasileiro. Mas o que vem tirando o sono dos produtores rurais é o aumento da presença de biotipos que apresentam resistência múltipla a alguns dos principais herbicidas usados para o controle da planta daninha. Isso tem dificultado seu manejo, que possui um ciclo que pode durar de 120 a 180 dias e tem alto poder de disseminação, chegando a mais de 120 mil sementes por planta/ciclo. Com características de rusticidade, o capim pé-de-galinha é relativamente resistente a seca e a altas umidades, se desenvolve em solos com diferentes níveis de fertilidade e em solos compactados.
Essas peculiaridades, somadas à baixa eficiência de controle, podem causar potenciais perdas de produtividade de até 80% nas lavouras de soja e milho
Pressão de seleção
Na década de 1960 foi relatado o primeiro caso de resistência de plantas daninhas a aplicação de herbicidas. Porém, nos últimos anos, o Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas (HRAC) tem registrado um aumento considerável nos casos de resistência.
Podemos definir como resistência a capacidade da planta continuar seu desenvolvimento após o contato com herbicidas em doses que seriam suficientes para o controle de plantas da mesma espécie. Isso ocorre devido a alta exposição em suscetíveis aplicações dos mesmos mecanismos de ação.
No ambiente, os biotipos possuem características individuais e no meio deles possivelmente existem aqueles que, de alguma forma, apresentam menor sensibilidade a algum herbicida que pode ser atribuída a distintas características, como alteração do local de ação do herbicida, amplificação gênica, metabolização do herbicida e compartimentalização do herbicida. Dessa forma, com a aplicação intensiva de um mesmo mecanismo a cada aplicação realizada, selecionamos somente os indivíduos com menor sensibilidade, até que teremos um indivíduo resistente. E automaticamente quando ocorre essa perda de eficiência de algum mecanismo, partimos para aplicação de outro. Dessa forma começamos o processo de seleção mais uma vez e no final teremos um indivíduo com resistência múltipla.
Manejo múltiplo para multiplicar resultados
O manejo de plantas daninhas deve ser encarado como um manejo de sistema. Devemos esquecer a ideia de principais plantas daninhas da cultura e sim pensar em principais plantas daninhas do sistema produtivo. Se não controlamos bem essas plantas para a implantação da 1ª safra, ela vai sobrar na segunda safra, sobrecarregando a necessidade de manejo e, assim, se forma o ciclo da ineficiência e dos chamados “manejos por vingança”.
Quando focamos no manejo de pé de galinha, isso se evidencia ainda mais, por se tratar de uma planta com alto potencial de se desenvolver e multiplicar.
Podemos elencar alguns pilares principais para o manejo:
– Manejo de cobertura do solo (palhada ou plantas de cobertura);
– Manejo outonal em áreas de pousio;
– Utilização de herbicidas pré emergentes;
– Rotação e escolha de diferentes ativos com diferentes mecanismos de ação (avaliar características);
– Rotação de diferentes biotecnologias de sementes;
– Tecnologia de aplicação.
O manejo de plantas resistentes de capim-pé-de-galinha é um tema constante para o time de pesquisadores dos Centros Tecnológicos AgroGalaxy (CTAs). Como resultado temos visto que, em algumas situações, onde nos foram relatadas possíveis resistência das plantas de capim amargoso, elas não foram confirmadas, pois a aplicação em fases iniciais foi positiva. As Aplicações de Graminicidas (Dins) associados a glifosato, adjuvante carreador matriarca D e Óleos, com até 2 perfilhos têm apresentado níveis consideráveis de controle. Já os resultados negativos estão acontecendo pelas entradas tardias nas aplicações.
Em plantas com desenvolvimento avançado, observamos ótimos resultados quando realizamos aplicação sequencial de Glufosinato de amônio, de 7 a 10 dias após a primeira aplicação.
Outras duas interações positivas foram os resultados da aplicação de herbicidas pré-emergentes no manejo outonal. Alguns tratamentos apresentaram controle satisfatório de fluxo de emergência de sementes após 90 dias da aplicação. Porém, para esse posicionamento, características dos pré-emergentes devem ser levadas em consideração, por se tratar de um período com baixa pluviosidade e alta exposição luminosa.
Em todos os trabalhos realizados é unânime: os melhores resultados de controle estão atrelados a tecnologia de aplicação. Isso se traduz em uso de bons adjuvantes, posicionamento de bicos, melhores horários de aplicação, condição ambiental favorável e fase adequada de controle.
Como conclusão, não podemos deixar essas plantas adentrarem na propriedade rural. É recomendável que o produtor faça a limpeza correta de cercas e maquinários que estiveram em áreas já mapeadas com essas plantas. Porém, se já há a planta daninha resistente presente na área, evite que ela germine, por isso use bons pré-emergentes. Se ela germinou, evite que ela se desenvolva, para isso, use bons pós emergentes nas associações ideais. Se mesmo assim ela continuar seu desenvolvimento, evite que ela sementei, então programe aplicações sequenciais com bons herbicidas. Mas se mesmo assim ela sementar, ajuste melhor o manejo para o próximo ciclo. Ou seja, só teremos bons resultados no combate ao capim-pé-de-galinha se compreendermos o seu sistema e utilizarmos as melhores ferramentas de manejo nos momentos adequados.
Fonte: Ana Paula Melo Nunes