Painel organizado pela TNC Brasil, WWF Brasil e Iniciativa Verde durante a Conferência do Clima em Sharm el-Sheikh, em novembro, irá apresentar exemplos de sucesso na restauração florestal.
As discussões sobre o aquecimento global e o Acordo de Paris voltam ao centro das atenções na COP27. Reunidos em mais uma Conferência do Clima, dirigentes mundiais buscam acordos e estratégias para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até o fim do século. De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), 2025 é o limite para que a média das emissões de gases do efeito estufa comecem a efetivamente cair.
Um dos caminhos apontados por cientistas para mitigar essas emissões e combater o aquecimento global é manter a floresta em pé, já que as árvores são responsáveis por retirar boa parte do carbono da atmosfera. Nesse sentido, conservar e restaurar a cobertura vegetal são ações cruciais que levaram a ONU a instituir a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, que começou em 2021 e vai até 2030. O objetivo é deter a degradação dos ecossistemas e restaurá-los, pois, somente com ecossistemas saudáveis podemos melhorar a subsistência das pessoas, combater as mudanças climáticas e deter o colapso da biodiversidade.
A restauração de ecossistemas beneficia não somente o meio ambiente, mas também a sociedade e a economia. E o Brasil, dono de umas das maiores coberturas florestais do mundo, tem um papel fundamental nesse processo.
Promover essa restauração é um desafio que envolve não apenas o compromisso político do setor público, mas principalmente o engajamento de proprietários rurais, sem os quais a restauração não ocorre, e também de setores produtivos, que são um dos grandes beneficiados com a produção de serviços ecossistêmicos, como água e compensação de suas emissões de gases do efeito estufa.
De olho nesse potencial, TNC Brasil, WWF Brasil e Iniciativa Verde levam à COP27 o painel “Restauração é um bom negócio: cases reais e impactos socioeconômicos” que irá o mostrar o enorme potencial socioeconômico do setor e apresentar exemplo reais de empresas, produtores rurais e investidores que estão apostando, com sucesso, nessa agenda. Entre os participantes estão a diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais da TNC Brasil, Karen Oliveira; a gerente de relações externas da Partnerships for Forests (P4F), Juliana Tinoco; o sócio e líder para ESG da JGP, José Pugas; e o cofundando do No Carbon Milk, Osvaldo Stella Martins.
Exemplos
Um desses exemplos está no interior do Pará, em São Félix do Xingu. A produtora rural, Rosely Dias, investiu em restauração florestal com cultivo de cacau e outras espécies nativas em sistemas agroflorestais (SAF), por meio do Cacau Floresta, um projeto da TNC que completa uma década neste ano.
“Nós estamos no coração da Amazônia, na APA Triunfo do Xingu, e me orgulha plantar de forma sustentável cacau, frutas e hortaliças, viver com a alta produção, além de deixar esse legado para os meus netos e bisnetos. A nossa parte nós estamos cumprindo com o meio ambiente”, conta Rosely.
A cerca de 2.700 km dali, em São José do Barreiro, São Paulo, na região da Mantiqueira, o casal Luiz Ricardo Alves e Grice Farias são donos de 30 hectares e integrantes do Programa Conservador da Mantiqueira, iniciativa de diversas organizações da qual a TNC Brasil faz parte. Por meio do Programa, o casal destinou 7,5 hectares de sua propriedade à restauração florestal e o programa de crédito de carbono que tem parceria com o Mercado Livre.
“Somos produtores orgânicos de frutas e hortaliças e sempre tivemos essa preocupação em conservar as minas e fazer a recuperação das áreas degradadas com boas práticas ambientais e de maneira sustentável”, explica Luiz Ricardo.
Também no estado de São Paulo, vem o exemplo da Rizoma Agro / Fazenda da Toca. A empresa, fundada por Pedro Paulo Diniz, é líder no desenvolvimento de agroflorestas em larga escala e na produção de grãos, leguminosas e ovos em sistemas regenerativos orgânicos. Os ovos orgânicos da Fazenda da Toca foram os primeiros a receberem o selo Carbon Free, da Iniciativa Verde, comprovando a neutralização das emissões de gases do efeito estufa associadas à produção avícola. A compensação, que no Carbon Free é feita por meio do restauro florestal.
Outros exemplos são o NoCarbon Milk,primeiro leite carbono neutro do Brasil, mostrando que é possível a produção de proteínas animais de maneira sustentável; a Belterra, que fomenta a implantação de Sistemas Agroflorestais, e o Hub Agroambiental, que acelera projetos de recuperação florestal.
O Carbon Free teve início há 15 anos e foi o primeiro programa de compensação de emissões desenvolvido pela Iniciativa Verde com o objetivo de captar recursos para a restauração. Agora, em parceria com a Jundu Carbon, a Iniciativa Verde está utilizando novas tecnologias para desenvolver um modelo de certificação de créditos de carbono que vai ajudar os projetos de restauração de pequena e média escala a terem acesso a este mercado hoje restrito pelos elevados custos de transação.
Estudos
Em 2018, a TNC Brasil publicou o “Economia da Restauração”, um compilado de estudos sobre o tema e um desses estudos, feito pelo Instituto Escolhas em 2016 , mostrou que para recuperar os 12 milhões de hectares de mata nativa seriam necessários de R$ 31 bilhões a R$ 52 bilhões, em valores da época. Além disso, a Restauração tem capacidade para gerar um retorno econômico de R$ 23 bilhões e de R$ 3,9 bilhões a R$ 6,5 bilhões em arrecadação de impostos, também em valores da época.
No entanto, a restauração não deve ser tratada como simplesmente um ônus e sim, pensada como investimento para o caminho de um futuro sustentável, buscando ações que promovam uma economia de baixo carbono competitiva, responsável e inclusiva, integrando as agendas de conservação, uso sustentável das florestas, agricultura e pecuária e mitigação e adaptação às mudanças climáticas, sempre de olho na garantia de recursos naturais para as novas gerações.
Isso porque, além dos ganhos ambientais, essa reversão da degradação ambiental pode trazer múltiplos benefícios sociais e econômicos como a geração de emprego e renda por meio da cadeia da restauração. É o que mostra o estudo inédito realizado pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (Pacto), Aliança Pela Restauração na Amazônia e Coalizão Brasil, Clima, Floresta e Agricultura, com apoio de importantes instituições da agenda de restauração do Brasil, como a TNC Brasil e World Resources Institute (WRI) Brasil.
O estudo mostra que, no Brasil, a restauração florestal ativa tem capacidade de gerar 0,42 emprego por hectare. O que significa dizer que é gerado um emprego a cada 2 hectares restaurados.
De acordo com o Líder da estratégia de restauração florestal para América Latina da TNC, Rubens Benini, a restauração de ecossistemas beneficia a sociedade em múltiplas esferas contribuindo com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. “Diferentemente dos resultados de longo prazo, os empregos são gerados desde o início do processo de restauração, que abrange da coleta de sementes e produção de mudas até o plantio, manutenção e monitoramento, de modo descentralizado no território e beneficiando populações vulneráveis”, explica.
Fonte: TNC Brasil