A prevenção adequada pode reduzir o índice destes problemas recorrentes, que muitas vezes podem motivar a aposentadoria precoce dos equinos atletas
Os membros torácicos dos equinos são responsáveis por sustentar uma maior porcentagem do peso do animal, também são as estruturas que mais sofrem impactos e que exercem mais força em quase todas as atividades realizadas pelos cavalos. Por serem constantemente mais exigidos, os tendões e ligamentos destes membros estão mais suscetíveis às mais variadas formas de lesões.
“Tendões e ligamentos são estruturas muito semelhantes entre si, cuja diferença está na função anatômica e biomecânica que eles exercem, os tendões unem os músculos aos ossos e os ligamentos unem superfícies ósseas distintas. Ambos são estruturas finas e bastante resistentes, mas que podem facilmente sofrer processos inflamatórios, estiramentos ou rupturas”, explica Pollyana Braga, médica-veterinária gerente da linha de equinos da Ceva Saúde Animal.
A claudicação ou manqueira é o sintoma mais evidente de que algo não está bem com as estruturas que compõem aquele membro do animal. Os processos inflamatórios são os mais comuns nestas estruturas, sendo desmite a denominação da inflamação de ligamentos e tendinite a denominação de inflamação dos tendões. Juntas, elas são as maiores responsáveis pela queda de performance nos equinos, principalmente em cavalos adultos. Animais mais jovens que realizam movimentos muito amplos e exagerados têm maior predisposição a desenvolver desmites e tendinites no futuro.
Em lesões agudas de desmite ou tendinite é fácil observar um edema local, aumento da temperatura na região lesionada e dor durante a palpação do tendão ou ligamento. Já nas lesões crônicas, a palpação destas estruturas é menos dolorida para o animal e é perceptível que o tecido se torna mais grosso e fibroso, uma consequência da desorganização das fibras de colágeno que formam estas estruturas.
“Nos equinos de esporte, a maior parte das lesões ocorre na região central da porção metacarpiana média, envolvendo os tendões flexores e ligamento suspensório. A recuperação de um animal com tendinite ou desmite é sempre lenta, e muitas das vezes não é uma recuperação completa, pois as fibras rompidas dificilmente retornam ao seu estado anterior de elasticidade, podendo tornar-se mais suscetível à novas lesões”, conta Pollyana.
Com tratamentos que demandam ao menos 21 dias de repouso completo dos animais, fator que atrapalha muito o seu condicionamento físico e treinamento como um todo, prevenir ao máximo que estas inflamações teciduais aconteçam é a melhor estratégia que pode ser adotada pelos praticantes de esportes equestres.
Prevenção antes, durante e após a atividade física
O primeiro passo para evitar as desmites, tendinites e outras lesões do sistema musculoesquelético dos equinos atletas é realizar o alongamento e aquecimento adequado destes animais antes de iniciar a atividade física, seja em rotina de treino ou em competição. “Aquecer e movimentar as articulações, tendões e ligamentos de forma adequada e condizente com a carga de esforço ao qual o animal será submetido é essencial. Assim a circulação sanguínea regional aumenta, a lubrificação destes tecidos é intensificada e estas estruturas ficam mais bem preparadas para suportar o esforço que lhe será exigido”, reforça a médica-veterinária.
Durante as práticas esportivas, as já conhecidas ligas de trabalho são adereços importantes para dar suporte aos tendões, além de atuar como proteção física contra batidas entre membros ou em obstáculos dispostos ao picadeiro. Com a pressão correta exercida pela liga, as estruturas ficam mais firmes e seguras para realizar sua função de forma adequada, imprescindível para os animais que já tiveram quadros de tendinite.
Ao final do trabalho, a ducha auxilia no resfriamento dos tecidos e alivia a tensão do animal, auxiliando também na redução da frequência cardíaca, além de promover a limpeza do suor e eventuais sujidades que possam estar no cavalo. Após o procedimento, é importante cuidar especificamente dos tendões e ligamentos.
“As ligas de descanso também são grandes aliadas na prevenção das desmites e tendinites, pois servem como estabilizadoras e promovem conforto e proteção, enquanto mantém as estruturas aquecidas. Isso ajuda a evitar inchaços e melhora a circulação nos membros. Diversos produtos tópicos podem ser usados em associação às ligas de descanso para potencializar o seu efeito, principalmente aqueles a base de salicilato de metila, como o NGF-5®”, Pollyana sugere. “Este composto aumenta a circulação regional e promove ação analgésica e anti-inflamatória nos tecidos e articulações, primordial para equinos de alta performance ou que tenham executado atividades mais extenuantes que o rotineiro, como provas e campeonatos. Ele também é muito indicado para uso imediato após torções ou batidas”.
Pollyana reforça que tendinites e desmites recorrentes muitas vezes são motivo da aposentadoria precoce dos equinos atletas, especialmente se existe alguma demora no diagnóstico e tratamento. A prevenção adequada nem sempre evita por completo que o equino possa vir a desenvolver tendinites e desmites, mas reduz consideravelmente os quadros de lesões e não devem ser menosprezadas.
Fonte: Mayra Dalla Nora