Os ativos têm algum respiro nessa manhã depois de um início de semana negativo. Após o prelúdio da Brainard, diretora do Fed, na terça-feira, a ata da última reunião do Fed confirmou o início do enxugamento do seu balanço — leia-se, redução de liquidez na economia e consequente aperto das condições financeiras –, e o mercado confirmou, ontem, a sua dificuldade em tratar do assunto (mesmo depois de 6 meses de discussões abertas sobre o assunto).
O documento sinalizou um ritmo máximo de redução de US$ 95 bilhões/mês, o dobro da velocidade do Quantitative Tightening de 2018 (QT entra definitivamente na sopa de letrinhas do mercado financeiro). Alguns membros do FOMC também endossaram a ideia de pelo menos uma alta de 0,50 ponto percentual neste ciclo. O lado positivo da ata foi, sem dúvida, a transparência na condução do balanço, ponto importante para que os investidores tentem estimar seus respingos sobre os juros futuros.
A primeira resposta das Treasuries confirma um ponto importante do nosso cenário: os juros reais tendem a subir nos EUA com a saída de um bolso fundo na ponta compradora (Fed) e, olhando apenas para os efeitos do QT — não podemos esquecer que a alta dos Fed Funds acontece concomitantemente –, com a curva tendendo a ganhar inclinação (longos subindo mais que os curtos). Esse movimento de ontem aconteceu justamente com uma redução das inflações implícitas, o que mostra a relevância do balanço na “reancoragem” das expectativas de inflação por lá.
A velocidade de subida dos juros reais é crucial para o desempenho dos demais mercados. Quanto mais rápido, maior a seletividade dos investidores e, assim maior o risco de piora do humor; a condescendência com erros e incertezas sobre países, setores e empresas decai com o “ativo livre de risco global” pagando melhor (Treasuries).
Para o Brasil, a implicação mais clara é que eventuais excessos de ativismo fiscal/eleitoral que alimentem as incertezas sobre as contas públicas e o equilíbrio macro tenderão a ser penalizados, mais do que nos últimos meses. A narrativa positiva pró-Brasil não mudará do dia para noite, qual seja, commodities e juros altos como linhas de proteção dos nossos ativos. Mas os ventos externos continuam a mudar de direção e nem todos os ativos domésticos estão tão baratos quanto em janeiro.
Para finalizar, vale citar o tweet do presidente Jair Bolsonaro antecipando a redução da bandeira tarifária vigente sobre a energia elétrica. O fim da bandeira de escassez hídrica, alterada para verde segundo a mensagem, representaria um desconto de até 20% na conta de luz. A decisão não altera o nosso IPCA projetado para o ano, que já contemplava uma bandeira verde em maio, mas antecipa parte desse impacto para abril.
Fonte: Idealhks