A presidente Dilma Rousseff afirmou na manhã desta sexta-feira, 20, que o governo fará tudo dentro da legalidade no que diz respeito às empresas envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras. Ao ser questionada como avaliava a relação do governo com as empresas para que elas não venham a quebrar, a presidente considerou que é preciso levar em conta a importância das companhias para a geração de empregos, mas que isso não pode impedir as investigações.
“As empresas, os donos das empresas e os acionistas serão investigados. Porque a empresa não é um ente que esteja desvinculado dos seus acionistas. Agora, o que o governo fará é tudo dentro da legalidade”, afirmou ao final de cerimônia de recebimento de credenciais de embaixadores. “Nós iremos tratar as empresas tentando principalmente considerar que é necessário criar emprego e gerar renda no Brasil. Isso não significa de maneira alguma ser conivente ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que seja”, acrescentou. “Doa a quem doer”, reafirmou.
Dilma ainda destacou ser necessário distinguir a ação da Petrobras e a ação daqueles que praticaram malfeitos contra a estatal. “Eu não vou tratar a Petrobras como a Petrobras tendo praticado malfeitos. Quem praticou malfeitos foram funcionários da Petrobras, que vão ter de pagar por isso. Quem cometeu malfeitos, que participou de atos de corrupção, vai ter de responder por eles”, disse.
A presidente comentou que sempre houve corrupção no País, mas o que há de diferente, agora, é que existe “um processo de investigação como nunca foi feito antes”. Para ela, isso é um passo importante dado no Brasil, “que temos de olhar e valorizar”.
“Nós, atualmente, todos os órgãos, não tem engavetador da República, não tem controle sobre a PF, não nomeamos pessoas políticas para os cargos da PF e isso significa que junto com o MP e todos os órgãos do Judiciário está havendo um processo de investigação como nunca foi feito antes”, disse. “Não que antes não existisse (corrupção). É que antes não tinha sido investigado e descoberto porque, quando você investiga, descobre a raiz das questões. E quando surgem as raízes, você impede que aquilo se repita e seja continuado”, afirmou.
“Veja, a gente olhando os dados que vocês mesmos divulgam nos jornais. Se em 1996 e 1997, tivessem investigado e tivessem, naquele momento, punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante mais de dez anos, quase vinte anos praticando atos de corrupção”, exemplificou. “A impunidade leva água para o moinho da corrupção”, completou. ()
Oposição quer Lula na CPI da Petrobras para explicar encontro com empreiteiros
Lideranças da oposição no Congresso Nacional defenderam nesta sexta-feira a ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à nova CPI da Petrobras, que será instalada na semana que vem na Câmara dos Deputados. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta sexta-feira, 20, revelou que Lula e seu sócio Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, têm recebido emissários de empreiteiros que são alvos da Operação Lava Jato desde o fim do ano passado.
Os emissários têm pedido interferência política de Lula para evitar o colapso econômico das empresas, após uma série de prisões preventivas em curso e as consequências financeiras das investigações.
O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), afirmou que o ex-presidente tem de dar explicações sobre seu envolvimento com empreiteiros envolvidos no escândalo de corrupção e desvio de recursos da Petrobras. “Ninguém pode deixar de dar uma resposta. Se ele for honesto, se disporia a depor na CPI. Nenhum homem público pode se negar a falar sobre o que fez”, disse.
Para Rubens Bueno, Lula sempre teve um envolvimento próximo com os dirigentes das empreiteiras investigadas na operação. Bueno citou o fato de que o ex-presidente teria viajado em jatinhos das empresas e promovido, antes e depois de seu mandato, as empreiteiras em obras dentro e fora do País. Ele observou que, como ainda não foram definidos os espaços de cada partido nas comissões, não sabe se o PPS terá assento na comissão e, dessa forma, poderia formalizar o pedido de convite, que poderá ser aceito ou não pelo convidado, no caso Lula.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), é a favor do pedido para chamar o ex-presidente. Caiado lembrou que na CPI mista sobre a estatal que funcionou ano passado já havia apresentado requerimentos para ouvir Lula e também Dilma. Os dois pedidos, contudo, foram rejeitados – no caso da Dilma, por falta de amparo legal por não se poder fazer esse tipo de pedido.
“Vejo a ida dessas duas pessoas como extremamente relevantes. Temos que buscar a falar de quem tem que dar a última palavra, não é o (Pedro) Barusco, o (Renato) Duque, e o (João) Vaccari, porque essas pessoas são como o Delúbio, as tarefeiras”, disse. “Lula e Dilma são os autores intelectuais do processo”, completou.
O presidente do Democratas, senador Agripino Maia (RN), também se disse favorável a ida do ex-presidente à CPI. Mas ressalvou que não se pode fazer “espetaculosidade” do assunto. Segundo ele, o caso é muito mais sério do que uma eventual ida de Lula ao Congresso. Segundo ele, o importante é saber, por meio de outras formas de apuração, qual o envolvimento dele com os investigados na operação.
Agripino Maia cobrou que a presidente Dilma Rousseff se pronuncie sobre os encontros de seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com representantes de empreiteiros da Lava Jato.
Por: Revista ISTOÉ