O tema, que começa a preocupar os agricultores, esteve presente em diversos debates da 16ª Expodireto Cotrijal. O economista Carlos Cogo, que participou do 7º Fórum do Milho, destaca que mesmo se algum produtor quisesse se antecipar e fazer as compras de agroquímicos agora, teria dificuldades porque as empresas não informam preços. “Está todo mundo nesta indecisão. Não sabem que ajustes vão colocar. Isso explica por que as vendas estão paradas em alguns casos”, observa. Ele destaca que desde a última safra o dólar subiu 29%. “Esses porcentual será repassado a todo o pacote de insumos dolarizados. Estou falando de pelo menos um reajuste de 30% num grupo que pesa 65% (no total dos custos)”, detalha.
As consequências deste aumento podem se tornar ainda mais graves se o dólar cair depois que o produtor adquirir os insumos, a partir de julho. Uma queda impactaria no valor das exportações. “Se ele estiver mais baixo, para nós é uma tragédia”, afirma o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, para quem os itens dolarizados que mais pesam nos custos são os fertilizantes (26%) e os agroquímicos, (28%), o que justifica a apreensão.
Luz avalia que o cenário dificulta o planejamento na lavoura. Para a compra de máquinas, a recomendação é que o produtor que se encontra em uma situação estável e tem um bom planejamento aproveite para investir enquanto os juros não sobem. “Se não tem planejamento, prudência. Não é hora de fazer investimento por desejo, por impulso.” O economista ressalta que, além do dólar, os custos serão influenciados pelos aumentos na energia elétrica, no óleo diesel e nas taxas de juros.
Entre os produtores de soja, o dólar em alta ajuda a compensar a queda do preço. Mas já é visto com preocupação para o período seguinte. O presidente da Associação dos Produtores de Soja no Estado (Aprosoja RS), Décio Teixeira, diz que o adubo aumentou de R$ 1,2 mil para R$ 1,6 mil a tonelada — um acréscimo de 33%. Por isso, acredita que o produtor se resguardará e recomenda uma boa pesquisa ao efetuar negócios.
No caso do arroz, o dólar em alta até ajuda a valorizar o produto para cerca de 15% da produção gaúcha, que tem como destino o mercado internacional. “O dólar valorizado nos dá mais competitividade. Entretanto, estamos muito apreensivos em relação aos custos”, explica o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros (Federarroz), Henrique Dornelles. Ele estima que os insumos dolarizados compõem pelo menos 30% dos custos da produção do cereal.
A tendência hoje é a manutenção dos níveis atuais. “Provavelmente vamos presenciar a alta da taxa de juros nos EUA. O real vai se manter desvalorizado ou desvalorizar ainda mais”, destacou o consultor da MB Agro, agrônomo Alexandre Mendonça Barros, durante participação no do 26º Fórum Nacional da Soja.
Para o vice-presidente da CCGL, Darci Hartmann, o mercado internacional já começa a sinalizar sobre a possibilidade de exportação de leite em pó, em razão do dólar em alta e do reajuste do produto no mercado internacional. Hoje, a tonelada do produto custa 3,2 mil dólares. Quando chegar a 3,5 mil dólares, será vantagem negociar, segundo ele.