A demanda por proteção (hedge) contra a desvalorização cambial nunca foi tão grande entre as empresas brasileiras. A alta do dólar levou a um aumento de quase 40% em posições compradas na moeda americana no ano passado, para US$ 223 bilhões, de acordo com dados da Cetip, responsável pelo registro da maior parte dos contratos. O volume se manteve forte em janeiro, com um crescimento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado.
A “corrida” por proteção parte principalmente de empresas que possuem importações. Como o pagamento da mercadoria em geral ocorre meses depois da contratação, as companhias que não compram a proteção ficam expostas à variação cambial. O hedge funciona como uma espécie de seguro: o ganho ou perda do lado financeiro é compensado pelo valor da mercadoria em dólar na hora do pagamento. Na sexta-feira, a moeda americana era negociada a R$ 2,8314. No acumulado do ano, a moeda americana tem alta de 6,46%.
As empresas com dívida em moeda estrangeira também aumentaram a procura por hedge. Em janeiro, o registro de “swaps”, operação que equivale a uma troca no indexador da dívida no balanço, atingiu R$ 11,9 bilhões, uma alta de 55%. No ano passado, os swaps cresceram 18%, para R$ 114,4 bilhões – o registro ocorre apenas na moeda local.
A busca pelo “seguro” contra a oscilação da moeda começou a crescer no segundo semestre de 2013, quando o dólar deu o primeiro salto diante da expectativa do fim dos estímulos monetários nos Estados Unidos. Mas ganhou força no ano passado, com a incerteza nos mercados nos meses que antecederam as eleições.
A demanda parte de empresas de praticamente todos os setores e é resultado direto da maior volatilidade cambial, segundo Paulo Waack, diretor de tesouraria do Bradesco. Ele afirma que muitas empresas têm como política proteger apenas parte de sua exposição a moedas estrangeiras quando a flutuação do câmbio é menor. “Quando a moeda fica mais volátil, é natural um aumento na procura por mais proteção”, diz.
O custo historicamente alto é apontado como um dos fatores que afasta as companhias do hedge. Esse custo é dado pela diferença entre os juros no Brasil e no exterior, que ficou maior com a alta recente das taxas no país. De forma indireta, esse mesmo diferencial de juros ajudou a ampliar o registro de operações de hedge, já que tornou os empréstimos em moeda estrangeira mais atrativos para as empresas nacionais, segundo o diretor do Bradesco.
Embora seja caro, o hedge se tornou necessário para a maior parte das companhias com exposição a moedas estrangeiras, de acordo com Ricardo Bicudo, superintendente de vendas e distribuição do Banco Votorantim. “Uma desvalorização de 10 a 15 centavos de dólar em poucos dias, como ocorreu recentemente, pode corroer as margens de uma empresa”, afirma.
Como o custo da proteção aumenta conforme o prazo, a maior parte dos contratos é fechada por períodos curtos. Do total de operações registradas, 64% vencem em até seis meses, segundo Fábio Zenaro, gerente-executivo de produtos e negócios da Cetip.
As companhias não estão preocupadas apenas com uma possível alta do dólar. A posição vendida no contrato de dólar a termo (com preço e prazo determinados) também foi recorde e atingiu US$ 177 bilhões em dezembro passado. “O exportador costuma entrar vendendo dólares quando acredita que a moeda atingiu um determinado teto”, diz Zenaro. A trajetória da moeda americana foi bastante irregular em 2014 e variou entre R$ 2,194, no fim de junho, e a máxima de R$ 2,734 em dezembro.
O aumento do hedge cambial ocorreu não só em volume como em número de empresas, que passou de 3.267 para 4.049 na Cetip no fim do ano passado. No Itaú BBA, até 20% das operações foram realizadas por clientes que contrataram derivativos pela primeira vez, segundo Eric Altafim, responsável pela área de produtos para o segmento corporativo do banco.
Entre as novidades está a maior procura por proteção contra a oscilação do dólar por companhias de médio porte. “O acesso ao hedge hoje é mais fácil e independe do tamanho da empresa”, afirma Renato Collaço, responsável por produtos para médias empresas, que passaram a ser atendidas pelo Itaú BBA em 2013. Nesse segmento, as operações acontecem de forma mais pontual, geralmente atreladas à compra de insumos ou equipamentos no exterior, segundo o executivo.
Em um ano que promete ser difícil para a economia e de incerteza sobre a trajetória do dólar, a tendência é que a contratação de proteção continue em alta. “Neste momento, as empresas querem tranquilidade para se concentrar na atividade principal”, afirma Altafim.
Por: Vinícius Pinheiro