Por Tisa Moraes
Em um cenário de incerteza política e econômica, que tem levado a oscilações nas cotações do setor de pecuária de corte, um encontro realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em Bauru nesta semana teve o objetivo de conscientizar os pecuaristas da região a informar os valores negociados da arroba do boi para ajudar a aprimorar, cada vez mais, o preço Cepea.
O centro integra o Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz” (Esalq), vinculado à Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba. Nesta semana, a chefe da equipe que elabora as cotações diárias da pecuária de corte, Mariane Crespolini, ministrou palestra para conscientizar os produtores em torno de uma união necessária, especialmente neste momento que o País atravessa.
Além das informações obtidas com pecuaristas, o indicador é formado pelos dados transmitidos por frigoríficos e escritórios intermediários de compra e venda. Segundo Mariane, como estes dois últimos realizam negociações todos os dias, normalmente fica mais fácil tornar a captação de preços uma rotina.
“Mas precisamos que os pecuaristas corroborem estes dados”, diz, salientando que, somente no Estado, existem 120 mil produtores. As informações são recebidas por telefone, e-mail ou pelo aplicativo Cepea Boi e o sigilo é garantido.
MOTIVO
Conforme lembra o criador Oswaldo Furlan Junior, um dos motivos sobre a importância de contribuir para formar uma cotação cada vez mais próxima da realidade é que o indicador é utilizado pela Bolsa de Valores para balizar os contratos futuros e as negociações de boi a termo. “O produtor precisa entender que ele precisa ser informante do Cepea, para que a cotação seja cada vez mais justa e correta”, frisa.
O encontro desta semana, que reuniu 42 pecuaristas, também teve a finalidade de discutir os rumos do setor no mercado interno e externo. Por uma conjunção de fatores – como o escândalo de corrupção envolvendo a JBS, a Operação Carne Fraca e o fechamento do mercado dos Estados Unidos por conta da formação de abscessos na carne após a vacinação contra a febre aftosa – o preço da arroba do boi gordo registrou a mais significativa queda dos últimos 20 anos.
Apesar de a baixa ter ocorrido em maio e, agora, as cotações estarem em alta, o momento ainda é considerado delicado para os produtores. “Estamos na entressafra e reduziu muito o volume de animal pronto para abate e, com menor oferta, os preços reagem. A alta é de 6,11% em julho, as exportações estão indo muito bem, mas a recuperação é lenta e o cenário ainda é muito instável”, explica Mariane.
Para se tornar um colaborador do Cepea, o pecuarista deve entrar em contato pelo telefone (19) 3429-8835 ou [email protected]. Como contrapartida, o produtor tem acesso gratuito às informações e análises de mercado eleboradas pelo centro.
GRUPO SE UNE CONTRA A CRISE
O atual panorama, contudo, favoreceu a união entre os produtores. Em 2014, por iniciativa do produtor Oswaldo Furlan, foi criado o Grupo de Pecuaristas de Bauru (GPB), em que quase 1 mil produtores trocam informações sobre o mercado, além de realizarem compras e vendas coletivas de bovinos e insumos, de farelo a óleo diesel.
O grupo funciona por meio do aplicativo Telegram e reúne pecuaristas de todo o País. “Com esta cooperação, conseguimos nos manter informados sobre a situação dos frigoríficos, evitando eventuais calotes, além de obter preços melhores nas compras coletivas”, pontua Furlan.
Ele conta que, devido ao sucesso da iniciativa, outros grupos foram sendo criados, inclusive com a participação de acadêmicos e pesquisadores, incluindo os do próprio Cepea. “E eles nos dão a oportunidade de aprender cada vez mais”, completa.
Criadores interessados em fazer parte do GPB ou de outros grupos derivados dele podem entrar em contato com Oswaldo Furlan pelo telefone (14) 99772-1570.
PERFIL
Nascida em Araraquara e filha de produtor rural, Mariana Crespolini, 27 anos, ingressou no Cepea há sete anos como estagiária e, hoje, coordena uma equipe de 15 pessoas no setor de pecuária de corte. O núcleo é responsável por fazer a cotação diária do preço mínimo, médio e máximo do boi gordo, vaca, bezerro e boi magro em 24 regiões do Brasil. Graduada em gestão ambiental pela Esalq, com intercâmbios estudantis nos Estados Unidos e Portugal, ela é mestre pela Unicamp, onde cursa, hoje, o último ano de doutorado, que deverá ser concluído na Escócia.
Crédito e Fonte: Jcnet