Bruno Matta, engenheiro ambiental e CEO da climate tech brCarbon
As emissões brutas brasileiras de gases do efeito estufa aumentaram 12% em 2021 em relação a 2020, colocando o Brasil como o quinto maior emissor global. A agropecuária, um dos pilares da economia nacional, responde por 25% das emissões totais do país e isso não deve mudar significativamente em curto prazo. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima e tudo indica que os números de 2022 serão, novamente, preocupantes. Enquanto a redução da emissão dos gases do efeito estufa segue um desafio para o mundo, o mercado de crédito de carbono é reconhecido cada vez mais como uma alternativa valiosa e vantajosa para todos os envolvidos.
O mercado de carbono foi criado em 1992 e estabelecido oficialmente em 1997, a partir do Protocolo de Kyoto, quando cada nação participante assumiu metas para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. Em 2015, o Acordo de Paris atualizou essas políticas. E mundo afora, o mercado avança a passos rápidos. No Brasil, avançamos neste ano com um esboço base para a regulamentação, mas o mercado ainda é exclusivamente voluntário, ou seja, não há regulamentação oficial e participa quem quiser. As nítidas vantagens, no entanto, fazem com que o setor viva um momento de franca expansão.
A premissa é a seguinte: as reduções nas emissões dos gases do efeito estufa geram créditos que têm valor econômico. Uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) vale um crédito de carbono, que pode ser negociado e vendido. Por exemplo, na área florestal, buscam-se proprietários de terras para aderir à iniciativa. Ao abrir mão do direito de desmatar legalmente suas áreas florestais, eles podem acessar recursos financeiros do mercado voluntário de carbono.
De acordo com o código florestal brasileiro, os proprietários de terras devem conservar 80% da cobertura florestal e 35% das áreas de cerrado em propriedades localizadas na Amazônia Legal. As áreas com cobertura florestal superior a esse percentual podem ser usadas para pecuária ou projetos agrícolas, mediante autorização. Mas quem investe no mercado de crédito do carbono preserva essas áreas.
Na agricultura, a adoção de boas práticas é uma alternativa para a redução do carbono atmosférico, como cobertura e redução do revolvimento do solo, rotação de culturas, uso de bioinsumos e integração lavoura-pecuária-floresta, de forma a aumentar a fertilidade e o carbono do solo e reduzir o uso de fertilizantes, o que diminui custos e aumenta a produtividade. E, da mesma forma, os proprietários destas terras acessam créditos do mercado de carbono.
Mas a principal novidade vem na pecuária, com a identificação de um projeto piloto para reduzir a emissão de gases do efeito estufa na criação de bovinos e aumentar o bem-estar animal. A fermentação ruminal, processo natural de digestão nos bovinos, gera emissão de grandes quantidades de metano na atmosfera, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Além do manejo de pastagens e o aumento da diversidade de gramíneas no pasto, a novidade consiste em fornecer um aditivo a ser ingerido pelo animal, que faz com que ele emita menos metano no processo de ruminação.
O aditivo reduz a formação de metano, o qual é formado pela microbiota ruminal, durante o processo de degradação do alimento. Ou seja, na prática, vai diminuir o arroto do gado. Depende da raça do animal e do aditivo, mas o potencial de redução fica entre 30% a 40%. E o proprietário desse animal poderá acessar recursos financeiros via crédito de carbono.
O mercado de crédito de carbono, seja no setor florestal, na agricultura ou na agropecuária, traz efeitos concretos na redução da emissão de gases do efeito estufa e, ao mesmo tempo, gera renda extra para os produtores e proprietários de terras. Uma aposta certeira para quem está realmente disposto a fazer a sua parte no combate ao aquecimento global. E a hora de agir é agora.
Fonte: Alexandre Lenzi