Feno de alfafa: retorno líquido supera algumas atividades agrícolas

Para que o Brasil continue sendo protagonista no crescimento sustentável a taxas superiores às registrada no mundo, atuando de modo eficiente e com retorno econômico e social, deve-se dar ênfase a recursos que visem garantir a agregação de valor aos produtos. Além disso, é mandatário rendimentos positivos e que remunerem adequadamente os fatores de produção no longo prazo. Uma cultura multifacetada com grande potencial de uso, como a alfafa, pode sustentar este protagonismo.

Originária da Ásia Menor, é cultivada desde 700 a.C pelos árabes, Irã e Afeganistão, apesar de grande parte das pesquisas com esta cultura terem sido conduzidas em países de clima temperado, principalmente nos Estados Unidos. A alfafa é uma leguminosa tetraploide, perene e que, normalmente, vive de quatro a oito anos, às vezes mais, dependendo da variedade e clima, mas, principalmente, dos tratos culturais. O recomendável é manter um stand com pelo menos 300 plantas/me o replantio ou rotação de cultura quando atingir menos de 100 plantas/m², que, dependendo do manejo e da região, daria-se com três anos de cultura economicamente viável, podendo, em alguns casos, chegar a cinco anos.

Esta planta tem uma particularidade entre as leguminosas, possui um sistema radicular profundo, o que a torna muito resistente, especialmente às secas, apesar de responder muito bem à irrigação, principalmente em região tropical. Cultivada em várias latitudes, a alfafa possui alta produtividade, elevado teor proteico, alta digestibilidade e boa aceitabilidade por várias espécies animais. Sua capacidade de fixar nitrogênio atmosférico no solo a qualifica para participar de sistemas de cultivo em rotação de cultura gramínea – leguminosa, assim como sua baixa sazonalidade na produção de forragem a distingue de várias forrageiras tropicais.

Um estudo de três anos conduzido pela Universidade de Minnesota nos Estados Unidos comparou o retorno líquido por hectare para várias atividades agrícolas, mostrando retornos positivos para alfafa não irrigada de 227,5 dólares; soja de 75 dólares e milho de 37,5 dólares.

O custo de produção por área de alfafa (Tabela 1) e o custo de produção e de venda de alfafa processada de diferentes maneiras (Tabela 2), mostram claramente que o valor de venda suplanta o de produção de alfafa independentemente do tipo de processamento utilizado, quer como pré-secado, feno ou pellets.

No Brasil, não há estudos comparativos sobre o retorno econômico das principais commodities como alternativa à produção de feno ou pellets de alfafa para venda no mercado local ou internacional. Assim, o economista da Embrapa Gado de Leite, José Luiz Bellini Leite, comparou o seu retorno líquido com outras culturas, semelhantemente ao estudo conduzido em Minnesota (Tabela 3).

Tabela 1. Custo de produção de 1 ha de alfafa.

Tabela 2. Custo de produção e valor de venda no mercado nacional.

A produção anual de feno por área será tomada conforme estudos conduzidos por Meireles (2019) e pela Embrapa na Região Sudeste (Tabelas 1 e 2). Os preços e as produtividades das commodities selecionadas serão tomados conforme referência oficial da CONAB (Indicadores da Agropecuária. Observatório Agrícola, ano XXVIII, n. 8, agosto de 2019.

Tabela 3. Análise comparativa da receita líquida com a produção e comercialização do feno de alfafa comparativamente a algumas commodities.

A tabela 3 mostra que o feno de alfafa produzido com irrigação c

ompete no mercado nacional com o algodão, milho e soja, proporcionando uma renda líquida por área superior a estas culturas. Foram adotados valores conservadores para a produtividade da alfafa que pode chegar a 20 toneladas por hectare ano, conforme dados da Embrapa na Região Sudeste do Brasil. Dependendo da produtividade e dos custos de produção, o feno de alfafa mostra-se como alternativa para os produtores nacionais, principalmente aqueles que querem diversificar a produção e agregar valor aos seus produtos comercializados. Se optar por compor sistemas em rotação de cultura com uma gramínea (algodão, milho), por suas características de fixação de nitrogênio, traz benefícios econômicos e ambientais adicionais, pela redução na quantidade de fertilizante nitrogenado necessário para a cultura subsequente. Estudos complementares podem ainda evidenciar que a alfafa na forma de pré-secado tem excelentes condições de competir e obtém preços muito expressivos no mercado nacional e de pellets no mercado internacional.

O preço atual da tonelada de feno de alfafa no mercado internacional, conforme a qualidade, varia de US$ 220-240 para a categoria “Good”, US$ 240-260 para “Prime” e de US$ 260-280 para “Supreme”. O preço do pellet supera US$ 270 a tonelada. Vale a pena para o produtor fazer “as contas”, considerando as condições de produção em sua região.

Fonte: MilkPoint