Com a crise de abastecimento de milho no mercado brasileiro, o governo decidiu zerar a tarifa de importação para países que não pertencem ao Mercosul. Na prática, os Estados Unidos seriam o principal fornecedor do grão neste momento. A questão, agora, é entender como isso afeta os preços do milho no Brasil. Analistas divergem sobre os efeitos da retirada da alíquota de 8%.
A expectativa de abastecimento com o grão de fora do Mercosul não forçou queda nos preços do mercado interno nesta terça-feira, quando a decisão foi confirmada pelo governo. E nem deve pressionar as cotações do milho no futuro também, avalia Paulo Molinari, da Safras&Mercado.
“Mesmo com isenção de taxa extra Mercosul, o preço não deve cair. Se o comprador quiser hoje milho dos Estados Unidos, esse produto só vai entrar no Brasil em junho ou julho. Não é assim, aperta um botão e vai todo mundo comprar um milhão de toneladas”, afirmou o consultor da Safras&Mercado.
No curto prazo, os efeitos da decisão se mostram reduzidos, como avaliou Molinari. Já no médio prazo, a retirada da alíquota para importação de milho fora do Mercosul pode abrir espaço para aumento de importação com maior facilidade e maior volume e reduzir o diferencial de preços entre mercado interno e porto, especialmente quando houver escassez de produto no Brasil.
O consultor da FCStone, Étore Baroni, alerta para outro efeito importante da decisão do governo brasileiro. A possível elevação das cotações no mercado futuro internacional.
“O Brasil hoje exporta 35 milhões de toneladas de milho, ou seja, 30% da exportação mundial . Se ele passar a importar via EUA é sinal que além de não abastecer o mundo vai trazer milho dos EUA . Trazendo milho dos EUA, o estoque americano cai, pois tem que abastecer os importadores tradicionais mais o Brasil. Estoque americano caindo sobe o preços na CBOT. Subindo CBOT, a importação fica mais cara e a paridade de preço do porto sobe e o milho no interior que precifica porto no segundo semestre continua caro”, explica Baroni.
Ao que tudo indica, zerar alíquota para importação de milho extra Mercosul deverá gerar efeitos limitados, especialmente se a intenção do governo era melhorar a margem da indústria de carnes no Brasil. Setor esse que está sofrendo com os picos de altas do milho devido a escassez do produto.
Já do outro lado, alguns produtores de milho se queixam da decisão, como o Fábio Acácio. “Com a retirada dos impostos, as empresas compradoras vão se abarrotar de milho. Daqui a 60, 90 dias começa a colheita. Nós vamos colher pouco e ainda teremos que vender a um preço de R$ 15 a 18 reais e com tributos, é uma piada de mau gosto né?”. avalia o agricultor.
Por: Kellen Severo