O Grito do Ipiranga, movimento iniciado em Ipiranga do Norte em 2006, completa 10 anos neste dia 21 de abril. O protesto que começou a 450 km de Cuiabá teve como sua principal ação o fechamento da BR-163 isolando o Norte de mato Grosso por vários dias e logo ganhou a adesão de produtores rurais do Brasil inteiro. A luta era contra a baixa cotação da soja no mercado externo e altos preços dos insumos, bem como a precária logística.
O Grito do Ipiranga significou a sobrevivência do agronegócio mato-grossense e foi um divisor de águas no setor promovendo a sua união e fortalecimento de entidades como a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) e da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).
“O movimento foi um divisor de águas, onde impulsionou a Aprosoja e a união do setor. Trouxe-nos ganhos importantes e a união do setor de fato foi a maior”, comentou ao Agro Olhar o presidente da Aprosoja, Endrigo Dalcin.
O Grito do Ipiranga começou em Ipiranga do Norte e logo expandiu para os principais municípios produtores do Médio-Norte: Sorriso, Sinop, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum. Aos poucos ganhou adesão em todo o Mato Grosso, incluindo com protestos nas principais avenidas de Cuiabá. Ao fim, 10 estados brasileiros aderiram à manifestação.
A principal ação foi o fechamento da BR-163, isolando o Norte de todo Mato Grosso. Na região de Sorriso aproximadamente 30 armazéns chegaram a ser interditados.
“Foi por conta de toda a dificuldade que o nosso setor passava naquele momento que resolvemos nos unir e nos manifestar. Mas o Grito do Ipiranga me ensinou mais. Que não é queimando pneu que vamos conseguir melhorias, que apenas reclamar do governo não resolveria, mas se organizando por meio de associações e entidades”, salienta o vice-governador Carlos Fávaro.
Na ocasião empresários de diversos segmentos aderiram ao movimento dos produtores, tanto que os transportadores de cargas se uniram à iniciativa e junto com os produtores realizaram o bloqueio de rodovias federais em 12 municípios do Estado por quase dois meses.
Na época, os agricultores protestavam pedindo a negociação das dívidas rurais, políticas de sustentação, preços mínimos, conservação das BR’s, fiscalização, mais infraestrutura de transportes para Mato Grosso, entre outros.
“O Grito do Ipiranga acabou ganhando repercussão devido à luta e a crise pela qual o setor produtivo passava. Hoje, o setor conseguiu equilibrar as contas e liquidar boa parte das dívidas daquela época. Alguns ainda estão pagando. A agricultura no Brasil era difícil naquela época, por não remunerar e hoje vivemos uma nova dificuldade, porém provocada pelo clima. Os preços estão melhores, porém não como gostaríamos devido ao alto custo de produção”, afirma o produtor de Sinop, Antônio Galvan.
O dialogo com o governo federal foi outra melhora aponta pelo setor produtivo, tanto que hoje existe a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Segundo Galvan, o setor teme novos “apertos” diante a situação econômica do país e a baixa produtividade da safra 2015/2016 provocada pela falta de chuvas.
“Naquela época o governo federal entendeu a nossa situação e alongou o prazo, mas os juros viraram uma bola de neve. A situação hoje no Brasil é uma incógnita. Não sabemos nem como será o Plano Safra”, ressalta Galvan.
O Grito do Ipiranga originou no mesmo ano (2006) o movimento batizado de “Tratoraço”, que levou mais de 20 mil produtores e centenas de tratores para Brasília (DF).
Uma cerimônia em comemoração aos 10 anos do Grito do Ipiranga, em Ipiranga do Norte, é realizada nesta quinta-feira, 21 de abril. Mais de 2,5 mil pessoas são esperadas no Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de Ipranga do Norte.