Maior companhia de agroquímicos da Índia, a United Phosphorus Limited (UPL) fechou a compra de 40% do capital da revenda e trading mato-grossense SinAgro, conforme antecipou ontem o Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor. A operação marca uma nova tacada da companhia indiana para diversificar seus negócios no Brasil, além de ser um passo adiante na consolidação do mercado de distribuição de insumos em Mato Grosso, Estado que lidera a produção brasileira de grãos. O valor da transação não foi revelado.
Criada em 2001 no município de Primavera do Leste, a SinAgro tem forte atuação nas regiões sul e leste de Mato Grosso, norte de Mato Grosso do Sul e oeste da Bahia. No total, são 20 lojas dedicadas à distribuição de defensivos, sementes e fertilizantes, além de armazenagem – a capacidade estática da companhia é de 408 mil toneladas. Uma das pioneiras nas operações de barter (troca de insumos por entrega futura de grãos) no Cerrado, a SinAgro passou, a partir de 2006, a se dedicar também à comercialização de soja e milho e atualmente origina cerca de 1 milhão de toneladas dos dois produtos – que já respondem por metade da receita da companhia.
A SinAgro encerrou 2014 com um faturamento de R$ 1,5 bilhão, e a previsão é alcançar R$ 1,7 bilhão este ano, conforme Marcos Vimercati, fundador e atual presidente da empresa. “A expectativa é que a UPL possa nos ajudar a ter uma gestão interna melhor”, disse. Além de fortalecer a estrutura de capital, os recursos oriundos da venda de 40% da empresa serão usados também para reduzir a alavancagem e os atuais custos financeiros da SinAgro. A companhia tem uma política de risco ainda incipiente, e o objetivo é que a entrada da indiana melhore essa gestão e a governança da empresa mato-grossense.
A consultoria FG Agro assessorou a SinAgro na transação, que reflete um movimento de consolidação no mercado de revendas de insumos em Mato Grosso. Nos últimos dois anos, outras grandes corporações estrangeiras entraram no capital de empresas desse segmento no Estado. Foi o caso da japonesa Mitsubish, que é acionista controladora da Agrex (antiga Ceagro Los Grobo), e do fundo americano Amerra, que adquiriu cerca de 25% da trading e revenda Fiagril.
“Esse processo de consolidação decorre da rentabilidade do negócio de ‘barter’, do crescimento acelerado dessas empresas e do acesso que elas proporcionam aos produtores locais de grãos”, explicou o sócio da FG Agro, Filipe Pontoglio. Para ele, outras companhias no Cerrado estão se preparando para esse tipo de parceria, melhorando governança e estrutura de capital. “Outros negócios serão fechados em breve”, afirmou Pontoglio.
As conversações entre UPL e SinAgro levaram pouco mais de nove meses. Para a UPL, o negócio permitirá não apenas a aproximação com o agricultor e o aumento da capacidade de distribuição no Cerrado, mas também a entrada em dois segmentos até então inexplorados pela companhia no país: a de trading e produção agrícola. A SinAgro mantém 63 mil hectares com soja, milho e algodão nas regiões de Primavera do Leste (MT) e no Vale do Araguaia. Compõe ainda a Serra Bonita Sementes, uma joint venture formada com a Fiagril e a goiana Boa Safra Sementes.
“Há muito tempo vínhamos buscando acesso a áreas de plantio”, disse Carlos Pellicer, CEO da UPL no Brasil. Presente no país desde 2011, quando adquiriu o controle da subsidiária brasileira do grupo alemão DVA, a UPL opera com defensivos genéricos (pós-patente) e nutrição vegetal. No início de 2014, a indiana anunciou o investimento de US$ 30 milhões na ampliação de sua fábrica em Ituverava (SP) e na construção de um centro de pesquisas em Campinas (SP), onde fica sua sede no Brasil. Globalmente, a UPL faturou US$ 2,2 bilhões em 2014.
A intenção com a parceria é fortalecer a SinAgro onde ela já atua, mas não está descartado um esforço de expansão – ainda dentro do Cerrado. A empresa mato-grossense calcula deter 26,5% do mercado de insumos no conjunto das regiões onde trabalha.
Pellicer destacou, ainda, que a SinAgro continuará com a suíça Syngenta como “a bandeira número um” de suas revendas, e que os produtos da UPL entrarão como complementos. “E a UPL também continuará trabalhando com outras revendas e cooperativas”.
Do faturamento total da UPL, em torno de 14% vêm do Brasil atualmente, mas a meta é avançar a 25% nos próximos cinco anos, de acordo com o executivo. Com ações negociadas na bolsa de Mumbai, a UPL tem um valor de mercado de US$ 2,85 bilhões.
A transação com a SinAgro ainda depende de aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o que as empresas esperam que aconteça dentro de 30 a 45 dias.
Por: Fabiana Batista e Mariana Caetano | De São Paulo