Milho dos Estados Unidos está sendo ofertado a granjas do Ceará com entrega em contêineres, uma forma atípica de transporte do produto carregado normalmente em navios graneleiros, em um momento em que o Brasil lida com uma escassez do cereal e busca importações, disse nesta sexta-feira um representante das indústrias locais.
Granjas cearenses receberam um navio de milho da Argentina no fim de fevereiro e fecharam negócio semelhante para descarregar um segundo navio em agosto, em meio à dificuldade de abastecimento com grãos locais, segundo a Associação Cearense de Avicultura (Aceav).
Mais três carregamentos de milho a granel da Argentina estavam sendo negociados, mas as discussões foram colocadas em revisão após as notícias, confirmadas no Diário Oficial desta sexta-feira, de que o governo zerou a tarifa de importação de milho de fora do Mercosul, que barateia o produto ofertado por exportadores como os Estados Unidos.
“Estava fechando o terceiro (navio com a Argentina) quando se soube da isenção, e agora vamos aguardar”, disse à Reuters o vice-presidente da Aceav, Marden Vasconcelos.
O corte na tarifa foi uma iniciativa das autoridades brasileiras para tentar aliviar a falta de milho no país e os elevados preços do grão, após meses de intensas exportações, que exauriram os estoques domésticos.
Operadores norte-americanos estimaram que agora o milho dos Estados Unidos poderá chegar entre 35 e 70 dólares por tonelada mais barato aos portos brasileiros na comparação com as poucas cargas disponíveis no mercado local. As importações dos EUA também poderão ficar 6 dólares por tonelada mais baratas que as originadas na Argentina.
Vasconcelos destacou, no entanto, que se o milho dos EUA for oferecido ao mesmo custo do argentino, será dada preferência aos parceiros de longa data do país vizinho.
Ele revelou ainda que na quinta-feira uma trading internacional ofereceu a compradores do Ceará milho norte-americano transportado em contêineres –todos os negócios até o momento têm ocorrido em navios graneleiros.
“Eu, particularmente, fiquei surpreso, porque achava que o custo (de cargas em contêineres) pode ser maior. Mas essa oferta aumenta nossas alternativas”, disse o executivo.
Segundo ele, os preços para um eventual negócio ainda estão sendo negociados. Ele evitou dar detalhes.
As compras de milho da Argentina realizadas pelo Nordeste até o momento –notadamente para o Ceará e para Pernambuco– têm sido realizadas por grupos de três ou quatro grandes granjas, que têm condições financeiras para compras em grandes quantidades.
Caso os envios de milho dos Estados Unidos se confirmem, será a primeira vez desde o fim da década de 1990 que o Brasil irá adquirir volumes significativos do grão norte-americano.
Nos últimos anos, Brasil e Estados Unidos competem para colocar no mercado internacional os grandes excedentes de milho que colhem anualmente.
Agentes do mercado projetam que a janela de desembarques de milho estrangeiro no Brasil será fechada no fim do primeiro semestre, quando Paraná, Mato-Grosso e outros Estados começarão a colher a segunda safra da temporada 2015/16. A chamada “safrinha” responde por dois terços da produção anual do Brasil.
(Reportagem adicional de Karl Plume, em Chicago)