Modelo digital é utilizado em 100% dos planos de manejo florestal no Acre

Modeflora é adotado em seis estados da Amazônia: Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Amazonas e Pará.

Desde 2008, já foram manejados 415 mil hectares de floresta com uso da tecnologia na região.

Análises confirmam redução de 31,5% nos custos da atividade florestal, em relação ao manejo convencional..

Tecnologia fornece informações precisas sobre a topografia da área de manejo e a localização exata das árvores.

Modelo possibilitou maior eficiência no manejo florestal madeireiro, o que tornou a atividade mais rentável, com menor impacto ambiental.

Tecnologia sustentável permite conferir o volume de madeira explorada e se integra com sistema de monitoramento do Ibama

O Modelo Digital de Exploração Florestal (Modeflora), tecnologia lançada pela Embrapa Acre, completa 15 anos, com adoção em 100% dos planos de manejo do estado do Acre. A ferramenta confere maior eficiência ao planejamento e execução das operações de campo, proporciona economia no processo de produção e permite o monitoramento das etapas de manejo, além de facilitar o trabalho de fiscalização e controle dos órgãos ambientais. Esses resultados ajudaram a tornar a atividade florestal mais produtiva e sustentável.

A automação da atividade de manejo florestal é uma tendência na Amazônia. De acordo com estudos de impacto realizados pela Embrapa, com a participação de empresas do setor florestal e instituições ligadas ao meio ambiente, o Modeflora é adotado em seis estados da Amazônia (Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Amazonas e Pará). Desde 2008, já foram manejados 415 mil hectares de floresta com uso da tecnologia na região. Análises confirmam redução de 31,5% nos custos da atividade florestal, em relação ao manejo convencional. Somente em 2021, a aplicação da ferramenta digital no manejo de 40 mil hectares de florestas rendeu uma economia de, aproximadamente, R$ 11 milhões ao setor florestal amazônico. 

O pesquisador da Embrapa Marcus Vinício Neves d’Oliveira (foto à direita) explica que o Modeflora representa um salto qualitativo no manejo de florestas tropicais, por possibilitar informações precisas sobre a topografia do terreno e a localização exata das árvores na área a ser manejada, entre outros aspectos essenciais para planejar a atividade com segurança. A tecnologia ajudou a garantir maior eficiência e competitividade ao manejo florestal madeireiro e tornou o negócio mais rentável, com menor impacto ambiental. 

“Antes do modelo digital, o planejamento da atividade de manejo envolvia desenhar a área de forma manual e realizar longas caminhadas na floresta, para marcação e localização física das árvores. A ausência de informações precisas ocasionava equívocos, como a abertura de pátios de estocagem em área de baixa densidade de árvores e de estradas em áreas de proteção ambiental. As ferramentas digitais possibilitam agilidade no inventário florestal e a definição de locais adequados para os pátios de estocagem e estradas na floresta, de acordo com as condições do ambiente modelado, padrão de distribuição das espécies, concentração de árvores de valor comercial e outros aspectos que influenciam a dinâmica de execução do manejo florestal e conferem sustentabilidade à atividade”, conta o pesquisador. 

As geotecnologias nas florestas do Acre

O uso de geotecnologias no manejo de florestas acreanas tem como marco uma resolução conjunta dos então Conselho Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia (Cemact) e Conselho Estadual de Florestas do Acre, publicada em 2008. De acordo com o engenheiro florestal Renato Mesquita, analista do Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac), órgão responsável por autorizar e acompanhar a atividade florestal, a normativa incentivou o processo de digitalização dos planos de manejo florestal no estado e contribuiu para ampliar o uso do Modeflora por empresas florestais. 

“Embora não seja uma exigência para aprovação dos planos de manejo florestal, em função dos ganhos proporcionados, o próprio mercado buscou se adaptar para adoção da tecnologia digital, já que o manejo de florestas nos moldes tradicionais é demorado e oneroso. Por facilitar tanto a elaboração como a execução e acompanhamento do planejamento, o Modeflora melhorou a eficiência da atividade florestal. Hoje, todos os planos de manejo do estado são executados com ferramentas do Modeflora. Além disso, a tecnologia também contribui para a identificação de ilícitos, como o desmatamento ilegal em áreas manejadas”, ressalta o analista.

Dados do Imac mostram que, na última década, foram licenciados 279 planos de manejo no Acre. O engenheiro florestal Igor Agapejev de Andrade, sócio-proprietário da Tecman, empresa de consultoria em projetos florestais e ambientais, um dos empreendimentos licenciados no estado, destaca que as geotecnologias proporcionam maior agilidade ao trabalho de levantamento e rastreamento da produção e tornam mais transparente a execução dos planos de manejo.

“Participei do primeiro curso sobre o Modeflora e percebi que a tecnologia iniciava uma nova era no manejo florestal. Antes, para executar a atividade era preciso ir a campo com grandes equipes. Com o Modeflora reduzimos o número de pessoas envolvidas nesse trabalho e as despesas com mão de obra, especialmente na etapa de abertura de picadas e estradas, um dos aspectos que mais oneram a atividade florestal. Essas vantagens baixaram os custos do processo produtivo e despertaram o interesse de empresas do setor”, destaca Andrade.

Para adoção da tecnologia foi necessário implementar uma extensa agenda de capacitação, envolvendo conhecimentos sobre geoprocessamento, cartografia, sistema de informação geográfica, modelagem de dados espaciais e georreferenciados e elaboração de mapas. “Já treinamos mais de mil profissionais do setor florestal e órgãos fiscalizadores do Acre e outros estados, além de estudantes de graduação e pós-graduação que hoje atuam no manejo de florestas, em diferentes localidades da Amazônia. Em função do cenário de inovação tecnológica, que requer novos conhecimentos e habilidades com as geotecnologias, a demanda por capacitações tem sido contínua”, diz o analista da Embrapa Daniel Papa.

Drones e inteligência artificial para manejar a floresta 

Lançado em 2007, o Modeflora reuniu inovações tecnológicas como o uso do Sistema de Posicionamento Global (GPS), Sistema de Informação Geográfica (SIG) e Sensoriamento Remoto (SR), para fornecer informações de alta precisão sobre a floresta. Com o tempo, o modelo se renovou e agregou geotecnologias como o Lidar (Light Detection and Ranging) – sistema de perfilamento a laser que fornece imagens da floresta em 3D – e os drones, ferramentas que utilizam princípios de inteligência artificial (algoritmos), redes neurais e aprendizagem profunda. Essas tecnologias se alinham ao “Manejo Florestal 4.0”, conceito de produção florestal baseado na automação, geração, transmissão e tratamento de dados de alta precisão.  

Para d’Oliveira, esse “upgrade” tecnológico tem contribuído para aprimorar continuamente o Modeflora e aumentar a sua eficiência. A associação de novas geotecnologias ampliou a capacidade do sistema de gerar informações que facilitam a tomada de decisões mais assertivas no manejo florestal. “A partir de imagens de alta resolução, conseguimos ampliar o conhecimento sobre aspectos do relevo e hidrografia das áreas manejadas e desenvolver modelos que permitem verificar a dinâmica de crescimento da floresta e estimar com mais precisão o volume de madeira e os estoques de biomassa e carbono existentes nesses locais”, enfatiza.

Na avaliação do pesquisador Evandro Orfanó, um dos principais desafios do inventário em florestas tropicais nativas ainda é a localização de árvores de importância econômica, devido a dificuldades como a transposição de cursos hídricos e visualização dessas espécies em função da densa vegetação.

“No manejo tradicional era preciso percorrer grandes distâncias a pé, para identificar cada árvore na floresta e verificar o potencial de produção da área. Com os drones, mapeamos previamente a copa das árvores e coletamos informações que facilitam essa localização e uma avaliação precisa da área a ser explorada, questão essencial para uma produção sustentável”. 

O pesquisador também lembra que, com as técnicas tradicionais de manejo, uma equipe de planejamento mapeia apenas 20 hectares de floresta por dia, enquanto hoje, com uso de um drone, é possível mapear aproximadamente mil hectares diariamente, um ganho fantástico em desempenho na atividade. “A combinação de diferentes ferramentas tecnológicas proporciona, ainda, outros ganhos na atividade florestal, incluindo a cubagem (medição) de madeira em pátios de estocagem, atividade que otimizou o monitoramento pós-exploratório, essencial para avaliar, de forma efetiva, o impacto ambiental da atividade florestal”, reforça Orfanó.

Informações integradas

Outro ganho proporcionado pelas tecnologias digitais foi a integração dos planos de manejo com o Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor), plataforma on-line do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) utilizada por órgãos ambientais do Acre e outros estados para aprovar projetos de manejo florestal. Mesquita explica que contar com informações automatizadas e georreferenciadas no sistema agilizou as avaliações e o licenciamento, tanto do plano de manejo como do plano operacional anual de exploração. Antes, o processo era físico e toda comunicação com o requerente, e com o responsável técnico, se dava de forma presencial, fator que tornava moroso o processo de licenciamento.

“Essa integração também possibilita informações sobre a execução dos planos de manejo, que ajudam a identificar se as atividades estão ocorrendo conforme o planejamento, antes das vistorias presenciais, aspecto que representa um avanço no monitoramento da atividade florestal. Além disso, como essa base de dados georreferenciados é permanente, temos parâmetros para retornar a uma área manejada, 10 ou 15 anos depois, e avaliar os impactos da atividade de manejo na dinâmica da floresta. Sem os recursos tecnológicos do Modeflora, isso não seria possível”, completa.

Fonte: Assessoria de imprensa – Embrapa