Vinícius Corrêa, filho de produtor rural, é um jovem de 25 anos que saiu de Paraopeba e foi para Belo Horizonte estudar, sem nunca cortar as raízes com o campo. Após se tornar Engenheiro Mecânico, ele decidiu voltar para a terra natal e ajudar o pai na propriedade, mas sem muitos planos. “Eu imaginava que retornaria para a roça, porque sempre tive esse desejo, mas não tão cedo”, comentou, lembrando-se da promessa de conquistar independência financeira primeiro e, só depois, investir em alguma atividade rural.
O caminho foi inverso e de surpresas positivas. “Eu diria que sou um abençoado”, completou. A virada de chave foi quando o avô, Helvécio Corrêa, de 88 anos, o convidou para assumir os negócios da fazenda Boqueirão, cuja atividade econômica e de base familiar gira em torno da bovinocultura de corte e leite e mercado de compra e venda de gado.
Entretanto, o trabalho não foi fácil no começo. Faltavam organização de rotina, definição do manejo, planejamento e outras melhorias nos processos. A lida acontecia naturalmente, e a família não sabia onde estavam e aonde queriam chegar. “Éramos retrógrados, com ações tidas como ultrapassadas, do tipo que deixava o bezerro mamar no peito da vaca antes da ordenha. Também não fazíamos controle de apartação de lote e pesagem de leite, por exemplo,” revelou.
Para sair do negativo durante três meses consecutivos e aprimorar a gestão, o jovem teve o apoio do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade e passou a contar com o Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Balde Cheio. Antes, a produção de leite era de 250 litros por dia. Com as orientações do técnico de campo Douglas Pires, este número saltou para 650 litros, um aumento de 160%. A entrega mensal, que era de 7.500l mensais, passou para 19.000l. A propriedade saiu de um resultado preocupante de -R$2 mil e foi para R$20 mil, com 62 vacas em lactação.
Para isso, algumas ações foram necessárias. As principais interferências foram na dieta do rebanho, atenção na divisão de lotes, investimento em recria e reposição de animais, melhoramento genético por meio da transferência de embriões, substituição da silagem de sorgo por silagem de milho na dieta e imersão no universo da gestão. E, apesar de já conhecer bem o funcionamento da fazenda, Vinícius passou a pensar em tudo como negócio, com prestação de contas periódicas e em planilhas e análise individual dos animais. Tudo sob os olhares criteriosos do técnico de campo.
Aprimorar, criar, investir e crescer, hoje, são palavras presentes no vocabulário do jovem, que traduz a trajetória como desafiadora, mas totalmente possível e de sucesso graças à informação que chega ao campo, conhecimento e apoio dos que já passaram pela experiência. Segundo ele, ainda há um longo caminho a percorrer, e o mais interessante é que todas as ações que geraram os resultados positivos estão relacionadas à mudança de mentalidade. “Até porque, o cenário não era favorável para aderirmos a soluções que envolvessem investimento financeiro”, destacou.
Para Douglas Pires, esse é um exemplo clássico de sucessão rural bem sucedida e sólida, em que a produção de leite dá condições e boas perspectivas econômicas e sustentáveis para a continuidade do trabalho de outras gerações, respeitando a história e cultura do local. “Temos a família, que é bastante unida, como a base estrutural do negócio. Todos vêm se conscientizando de que a fazenda é uma empresa e, neste contexto, deve haver planejamento, gestão e metas”, comentou, orgulhoso do produtor atendido.
“Não me arrependo de nada e acredito que foi no tempo de Deus. Aos jovens que querem seguir o mesmo caminho, haverá recompensas, mas o ambiente não aceita preguiça, amadorismo e procrastinação. Então, faça o que tem que ser feito”, disse o jovem produtor.
Fonte: Jo Moreira FAEMG