A predição acurada do Consumo de Matéria Seca (CMS) de vacas leiteiras em lactação é essencial para formulação de dietas adequadas e rentáveis.
Na edição do NRC (2001), o comitê propôs uma equação para predição do CMS de vacas em lactação, considerando apenas fatores relacionados ao animal (i.e., produção de leite, peso corporal (PC) metabólico e semana de lactação), os quais poderiam ser facilmente obtidos a campo. Ressalta-se que fatores relacionados à dieta não eram considerados no modelo.
O comitê assumiu que a principal abordagem para formulação de dietas é a predição do CMS e então dos requerimentos nutricionais dos animais antes do processo de formulação em si.
Na edição atual (NRC, 2021), uma nova equação para predição do CMS de vacas em lactação considerando apenas fatores do animal foi derivada por De Souza et al. (2019). Além do banco de dados ser maior em relação ao utilizado na edição anterior (31.635 observações semanais de 2791 vacas em lactação), outras variáveis foram inseridas e/ou modificadas no modelo, tais como ordem de parto (primíparas e pluríparas), escore de condição corporal (ECC), energia do leite (ELeite, Mcal/dia) e dias em lactação (DEL), a seguir:
O modelo proposto apresentou maior acurácia e precisão em predizer o CMS de vacas no meio (76-175 DEL) e final de lactação (176-368 DEL) em relação ao modelo anterior, presumidamente por considerar a ordem de parto e o ECC.
Deve-se destacar que ambos os modelos tenderam a superestimar o CMS de vacas com alto consumo no início de lactação (1-75 DEL), possível reflexo da maior distensão ruminal de vacas com alto CMS (De Souza et al., 2019).
O novo modelo indicou que quanto maior o ECC, menor o CMS, o que é atribuído a maior oxidação hepática (NRC, 2021). Contudo, a relação entre CMS e ECC não foi a mesma para vacas primíparas e pluríparas. Em geral, o CMS diminuiu em 0,7 e 2,7 kg/dia para vacas primíparas e pluríparas, respectivamente. Assim, maior atenção deve ser direcionada a superalimentação de vacas pluríparas visando evitar reduções do CMS.
Além disso, vacas pluríparas apresentaram maior redução do CMS no início de lactação em relação a vacas primíparas, possivelmente porque vacas primíparas ainda estão em crescimento e têm queda menos acentuada na produção de leite em relação a vacas pluríparas (Souza et al., 2019).
A principal crítica acerca da equação que considera características do animal é que os efeitos da composição da dieta no CMS não são considerados. É sabido que tanto fatores físicos (e.g., distensão ruminal) e metabólicos atuam em conjunto na regulação do CMS (NRC, 2021).
Assim, uma equação derivada por Allen et al. (2019) foi adotada pelo NRC (2021) para predição do CMS de vacas em lactação considerando a composição da dieta.
As seguintes variáveis foram inseridas na equação: produção de leite (PL), FDN de forragem (FDNf), digestibilidade do FDNf (FDNDf) e a relação FDA/FDN (indicador de fragilidade da forragem), como se segue:
O modelo indicou que o CMS diminuiu à medida que o FDNf aumentou, resultado da limitação de consumo por distensão ruminal (Allen et al., 2019). Adicionalmente, dietas com maior proporção de leguminosas (indicado pela maior relação FDA/FDN) resultaram em maior CMS. Apesar do FDNDf não ter afetado diretamente o CMS, essa variável interagiu com a produção de leite.
O modelo indicou que vacas acima de 33,1 kg/d responderam positivamente ao aumento da FDNDf, ao passo que vacas com menor produção apresentam redução do CMS. Isso significa, em termos práticos, que forragens de alta qualidade devem ser direcionadas a vacas de alta produção.
Adicionalmente, o comitê esclarece que outros fatores que podem afetar o CMS não foram considerados nas equações, tais como: fontes de fibra a partir de subprodutos, tamanho de partícula, fermentabilidade do amido, proteína e gordura na dieta, de modo que ajustes pontuais são necessários.
Fonte: MilkPoint