Mitos e verdades sobre a pecuária foram debatidos durante live
Maria Ester Fava (fazendeira), Eloisa El Hage (Acrimat e Agroligadas) e Lucimara Chiari (Embrapa) falaram sobre avanços no setor da economia que mais cresce no Brasil
Um dos mitos esclarecidos pela pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Lucimara Chiari, durante a live “mulheres na pecuária” – realizada pela Associação dos Criadores de Nelore de Mato Grosso (ACNMT) – se refere ao uso da água pelo rebanho, que na prática equivale a 93% advinda de água da chuva e 4% de poços artesianos e/ou reservatórios nas propriedades.
“É comum críticas baseadas apenas no senso comum, quando as pesquisas científicas mostram que na produção de carne somente 3% é da chamada “água cinza” (água doce recuperada usada no processamento de alimentos). O problema é que grande parcela da população faz críticas ou repassa informações sem checar a fonte”, avalia Lucimara que se dedica à área de pesquisa nos últimos 15 anos.
A pesquisadora também citou ainda outro equívoco que é associar a produção na pecuária à emissão de gases do efeito estufa (entre eles o metano) e mesmo à degradação ambiental. Ela explica que a Embrapa Gado de Corte desenvolveu um projeto em parceria com a empresa Marfrig e com isso já disponibilizou nas gôndolas de uma importante rede de supermercados carne carbono neutro, e agora estão trabalhando em outro protocolo de produção o da carne baixo carbono.
“Tivemos recentemente um infeliz episódio de uma empresa de cerveja que fez uma campanha de marketing deixando subentendido o questionamento sobre a sustentabilidade da cadeia produtiva da carne, talvez por desconhecimento. Mas há 20 anos o setor da pecuária adotou o programa de boas práticas com os pilares ambiental, social e econômico”, acrescenta a médica veterinária Eloisa El Hage.
Afinal, será que a cerveja esqueceu que também é um produto do agro? Para Eloisa, é comum haver esse tipo de contradição nas opiniões, por isso a profissional – que também é diretora da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e pecuarista – abraçou há três anos o projeto Agroligadas. “Reunimos produtoras rurais, técnicas, comunicadoras e outras mulheres do agro com o objetivo de gerar conteúdo qualificado e com isso resgatar o elo positivo do campo com a cidade”.
Sem um pingo de medo, Maria Ester Tiziani Fava, 56 anos, tornou-se exemplo por fazer investimentos importantes na Fazenda Estrela do Sul, em General Carneiro. Resultado: a propriedade foi eleita, em 2018, pela Revista Rural uma das mais sustentáveis do país na categoria bronze. No ano seguinte, “Téia” ganhou o Prêmio Mulheres do Agro em 2019 (parceria Bayer/ABAG), ficando em 3º lugar na categoria grande propriedade.
“Outra inverdade que costumam atribuir ao setor é a “ilegalidade”, como se o produtor não tivesse a fazenda como fonte de sustento para a si e a família (pilar econômico). Da mesma maneira que os demais empresários brasileiros, buscando atender as leis vigentes que são boas e rigorosas. Eu, por exemplo, sempre tive licenciamento ambiental, isso na época da antiga LAU (Licença Ambiental Única), todas as ações executavas na minha propriedade possuem documentação”, afirma a pecuarista.
Desafios e oportunidades – Lucimara avalia positivamente todos os avanços introduzidos pela “pecuária 4.0” que se utiliza inclusive a inteligência artificial, porém alerta para o cumprimento de exigências básicas pelos produtores, entre eles, o manejo sanitário do rebanho. “Não podemos mais ter o surgimento de casos de cisticercose nos animais, é incompatível”.
Além disso, ela destaca a importância dos cuidados com o solo, o pasto e a escolha de matrizes reprodutoras que não podem ser improdutivas e/ou subférteis. A pesquisadora afirma que é importante corrigir definitivamente alguns erros do passado para se utilizar da melhor forma as novas tecnologias, que não dão conta do manejo da pastagem, capacitação de pessoal e uma boa consultoria. “Esse conjunto de mudanças precisa andar junto”.
Bem-humorada, Téia acrescenta que o pecuarista deve parar de se ver como “o primo pobre” do agro, com a mentalidade pequena, pois para atender aos padrões atuais de produção nacional e internacional com consumidores cada vez mais exigentes, é necessário fazer investimentos positivos na fazenda. “Quando aceitei que uma ONG entrasse na minha propriedade ouvi muitos alertas, mas foi a melhor decisão que eu tomei, mesmo havendo ainda muito a se fazer, avancei e hoje posso dizer que tenho um negócio produtivo e com perspectiva de grande crescimento”.
A live foi realizada nas redes sociais da Nelore Mato Grosso está disponível para consulta: @neloremt (Instagram); também neste link https://cutt.ly/qx61f6y
Números da pecuária – Mato Grosso possui o maior rebanho bovino do país, com mais de 30 milhões de animais, dos quais 80% da raça Nelore ou ‘anelorado’. A ACNMT reúne criadores de todo o estado, com sede no Parque de Exposição Jonas Pinheiro, em Cuiabá. http://www.neloremt.org.br.
Fonte: Portal MT