Milho verde, pamonha, curau, angu, canjica, pipoca, mingau, sopa, suco. Esses são alguns dos atributos culinários que temos como referência do milho. Poderíamos listar aqui outras dezenas de aplicações deste que é considerado o “cereal das Américas”. Assim como seu uso nas cozinhas de norte a sul do continente, sua diversidade genética tem a mesma riqueza e ganha agora uma importante atualização.
Um estudo apresentado no Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) identificou distintos micro-centros e regiões de diversidade genética do milho em distintos biomas das terras baixas da América do Sul – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa. “A espécie ainda encontra-se sob diversificação, sob o manejo dos agricultores familiares, tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e indígenas”, conta a pesquisadora Flaviane Malaquias Costa, autora da tese de doutorado, orientada pela Profa. Elizabeth A. Veasey.
Flaviane, Natalia de Almeida Silva, Rafael Vidal, Elizabeth A. Veasey e Charles R. Clement, compõem a equipe do projeto “Raças de Milho das Terras Baixas da América do Sul: ampliando o conhecimento sobre a diversidade de variedades crioulas do Brasil e do Uruguai”, coordenado pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade – InterABio.
A pesquisadora frisa que as contribuições trazidas pelo levantamento abrangem temáticas propostas pelos distintos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). A pesquisa envolveu a participação de 261 agricultores familiares e tradicionais, sendo que 129 foram entrevistados. O Projeto integrou uma Rede de 29 instituições do Brasil e do Uruguai. “Nosso escopo demonstra a realização de uma pesquisa aplicada e a sua interface direta com a sociedade, o que gerou impacto social”, completa. A pesquisa reforça que todas as áreas apresentaram variedades de milho com nomes locais exclusivos, o que indica que em cada local existe uma diversidade própria, já que o nome da variedade é considerado um indicador de diversidade e um importante marcador de caracterização da diversidade.
Além disso, os usos e as preferências atribuídas às variedades locais de milho estão associadas às características que os agricultores consideram importantes, especialmente para a alimentação, que influenciam a seleção das suas variedades locais. Flaviane conta que foram identificados 34 valores de usos culinários associados às variedades locais, representados por usos alimentares diretos, potencial culinário e atributos alimentares apreciados pelos agricultores. “Foram identificadas 29 raças de milho e três complexos raciais, dentro das quais 16 são novas raças, que nunca haviam sido catalogadas pela literatura anteriormente”. Como produtos do projeto, a classificação das raças com suas características morfológicas, distribuição geográfica e usos principais, gerou a publicação de um livro e um catálogo, que consistem na terceira referência do estado da diversidade de raças do nosso território, não atualizada desde 1977.Os resultados da pesquisa encontram-se também publicados no artigo “A new methodological approach to detect microcenters and regions of maize genetic diversity in different areas of Lowland South America”, no periódico científico Economic Botany.
O trabalho compõe parte da tese de doutorado, agraciada com o Prêmio de Tese Destaque na USP – 10a edição, nas áreas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, em 2021.“Os dados gerados por este estudo atribuem respaldo científico às raças e variedades locais de milho e aos sistemas agrícolas tradicionais da região, bem como poderá subsidiar políticas públicas envolvendo estas áreas”, finaliza Flaviane.
Fonte: Caio Rodrigo Albuquerque