Preços dos alimentos deve desacelerar em 2023, mas inflação de 2022 acende alerta

O economista Leandro Rosadas explica que o IPCA acelerou no final de 2022, o que impacta nas compras dos brasileiros. Já a educadora financeira Aline Soaper orienta como economizar na hora de ir ao supermercado

A inflação de alimentos e bebidas tende a desacelerar em 2023, mas os preços ainda altos devem preocupar os consumidores. Essa é a conclusão dos especialistas, diante da inflação oficial para esse ano, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve fechar 2023 em 5,36%, segundo o último relatório Focus do Banco Central. No final de 2022, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), já tinha alertado sobre essa preocupação, em especial no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação da cesta de compras para famílias com renda até cinco salários mínimos.

De acordo com o economista Leandro Rosadas, especializado na gestão de supermercados, varejos, atacarejos e hortifrutis, os preços de alimentos e bebidas subiram 11,64% em 2022, com um acréscimo de 1,59% – se considerada apenas a alimentação em domicílio. Já para a educadora financeira Aline Soaper, os preços dos alimentos devem começar a desacelerar ao longo de 2023, mas ainda é preciso economizar para não pesar no bolso.

“Tivemos itens de alimentação que subiram 130,14% no acumulado em 2022, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro, como é o caso da cebola. Mas outros itens também tiveram alta considerável, como foi o caso do inhame, com 62,96%, da farinha de mandioca, com 38,56%, do milho em grão, com 35,24%, e da farinha de trigo, com 31%. Leites e derivados em geral subiram 22,07%, enquanto frutas tiveram alta de 24%. Entre os motivos das altas está a guerra da Rússia com a Ucrânia, países que são responsáveis por quase 30% da exportação de cereais do planeta. A seca no Brasil prejudicou as safras, elevando os preços dos produtos”, explica Rosadas.

A grande preocupação é que os aumentos nos preços dos alimentos e a demora para a desaceleração da inflação afetem, principalmente, a população mais pobre. Em termos proporcionais, esse grupo destina uma parcela maior do orçamento para a aquisição de produtos básicos. Ainda, segundo o economista Leandro Rosadas, em 2023, a provável desaceleração da economia global tende a conter a demanda por commodities e frear os preços. Somado a isso, a previsão da safra de grãos, cereais e leguminosas de 2023 tende a alcançar 293,6 milhões de toneladas no país, como indicou a estimativa divulgada no final de 2022, pelo IBGE. Mas, segundo Leandro Rosadas, a guerra entre Rússia e Ucrânia será um dos termômetros para essa desaceleração no preço dos alimentos.

Diante desse cenário, a educadora financeira Aline Soaper, especialista em finanças pessoais, ressalta que, do ponto de vista dos consumidores, pelo que as pesquisas projetam, mesmo com a possível desaceleração dos preços dos alimentos em 2023, é necessário continuar a economizar para a conta do supermercado não pesar no bolso. Além disso, ela ressalta que, em 2022, por exemplo, foi recorrente o uso de cartão de crédito para comprar alimentos, como revelou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Além disso, uma pesquisa da empresa Nextop — especializada no segmento de tecnologia, segurança e prevenção de perda — mostrou que, em 2022 quase 5 milhões de itens foram abandonados nos carrinhos pelos consumidores. Entre esses itens estavam leite, óleo de soja e farinha de trigo, que apresentaram altas recorrentes em 2022.

Pensando nesse cenário econômico, a educadora financeira separou algumas dicas para economizar na hora de ir às compras em 2023:

Pesquisa de preços:
“A pesquisa de preços, por parte dos consumidores, deve ser constante. Observar os dias da semana que os supermercados fazem promoções de itens específicos, por exemplo, é fundamental para evitar gastos”, explica a educadora financeira. Neste caso, no entanto, é preciso ter cuidado para não gastar mais indo muitas vezes ao supermercado. “Faça a lista e vá ao mercado com a mesma lista, anotando o que já foi comprado no dia anterior para não repetir. E fuja da tentação! Compre apenas os itens essenciais”, acrescenta a especialista.

Adaptar os gastos à realidade da família:
“Todas as famílias querem uma mesa farta, mas é preciso adaptar o orçamento à realidade atual utilizando técnicas que vão evitar o endividamento. Em especial evitando o uso do cartão de crédito para compras no supermercado. Isso porque, às vezes os consumidores parcelam as compras do mês, e no mês seguinte terão que comprar novamente, e ainda estarão pagando o mês anterior”, explica Aline Soaper.

Substituição de produtos:
“Trocar produtos que aumentaram muito de preço por itens com valor menor é uma ótima alternativa para economizar nos gastos da família. Além disso, dê preferência às marcas que oferecem melhor custo x benefício, seja ela uma marca branca, seja uma embalagem que oferece uma quantidade maior de litros e kg por preço. Isso vale para itens básicos como proteínas, por exemplo, trocar a carne bovina por outra mais em conta, assim adaptando cardápios com itens mais baratos. No caso de frutas e verduras, muitas feiras têm a hora da “xepa”, onde dá sim para encontrar itens bons para o consumo com preços mais em conta”, finaliza a educadora financeira.

Fonte:  Ana Carolina Ferreira da Silva