Depois de uma leve trégua em janeiro, a produção industrial brasileira voltou a registrar resultado negativo em fevereiro. A queda de 0,9% frente ao mês anterior, segundo a pesquisa Industrial Mensal, do IBGE, foi menor do que as projeções de analistas, que esperavam -1,5%. A revisão do resultado de janeiro – a alta de 2% baixou para apenas 0,3% – ajudou a amenizar a queda de um mês para o outro.
Já na comparação com fevereiro de 2014, a produção foi 9,1% menor, na décima segunda queda consecutiva e a mais intensa desde julho de 2009. A retração mais acentuada de bens de capital, que sinalizam os investimentos, aliada à uma deterioração da confiança de empresários, ao aumento do desemprego e à elevação dos estoques indicam um primeiro trimestre negativo para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).
Máquinas e Equipamentos: -25%
Para o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, estima queda de 1,5% para a produção industrial e recuo de 2% no PIB do primeiro trimestre, puxados pela indústria de transformação e pela construção civil.
Nas projeções do economista do Bradesco Igor Velecico, a produção industrial deve fechar o primeiro trimestre com queda de 2,6% frente aos últimos três meses de 2014. Velecico lembra que os dados da produção industrial de fevereiro mostraram queda nos insumos para construção civil e bens de capital, exatamente os setores que ganharam peso na nova metodologia do IBGE para cálculo do PIB. A produção de bens de capital (Máquinas e Equipamentos, que são um termômetro dos investimentos) caiu 4,1% frente a janeiro e 25,7% na comparação com fevereiro do ano passado. Com isso, ele espera queda de 0,7% no PIB do primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2014.
– Apesar da média da indústria vir melhor, os investimentos parecem ter uma tradução pior para o PIB, seja pelos bens de capital como pelos insumos típicos da construção, que estão em um nível 6% pior do que a média de 2014 – afirma Velecico.
Segundo o estrategista-chefe do banco Mizuho Luciano Rostagno, os indicativos são de forte contração na indústria no primeiro trimestre. Ele estima uma queda de 2% no primeiro trimestre em relação ao último.
– A alta dos juros, o aperto fiscal, a inflação alta e o aumento do custo da mão de obra têm reduzido a margem de lucro das empresas. No primeiro trimestre, o setor industrial, a construção estão cortando forte, o cenário é de alta do desemprego.
O cenário negativo da indústria contou com a deterioração de indicadores como o emprego, a confiança e os estoques. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou fechamento de 25,8 mil vagas na construção civil em fevereiro. Dados de março da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram queda de 9,2% no índice de confiança da indústria, e a Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou estoques maiores em fevereiro.
A pesquisa mostrou recuo generalizado de categorias de uso. Dos 805 produtos pesquisados, 70,2% caíram em relação a 2014, a maior disseminação negativa desde o início dessa série, em janeiro de 2013. Foram destaques negativos veículos automotores, reboques e caminhões (-30,4%), equipamentos de informática (-33,9%) e confecção de artigos de vestuário (-19,7%).
Para o gerente da pesquisa, André Macedo, a queda da indústria pode ter sido potencializada pela greve de caminhoneiros e pelo feriado de carnaval. Ele admite, porém, que, há uma clara “trajetória descendente da produção industrial”.
Por: O Globo