O modelo produtivo alimentar brasileiro foca na produção de alimentos para atender às cadeias globais, tendo como consequência a baixa diversidade de cultivo, o que resulta em maior dependência de insumos químicos e na necessidade de abertura de novas áreas para plantio. Os institutos Fronteiras do Desenvolvimento, Regenera e Clima e Sociedade, em conjunto com iniciativas locais, buscam condições mais favoráveis para a implementação de soluções de comércio justo e transparente de produtos agrícolas locais, saudáveis e sustentáveis em Belém do Pará. Para isso, realizam o lançamento dos guias “Boas Práticas para a Comercialização de Alimentos Agroecológicos” e “Guia de Comunicação para a Comercialização Justa de Alimentos Agroecológicos” nesta quarta-feira (dia 20), às 10 h, durante o evento “Da Amazônia para Belém: Como fortalecer o comércio justo de alimentos agroecológicos?”, online e gratuito via plataforma zoom.
As publicações são resultados do Projeto “Da Amazônia para Belém: fomento a sistemas locais de alimentos regenerativos” com os principais achados e elaborações resultantes do trabalho de pesquisa realizado na cidade de Belém entre 2021 e 2022. Nelas, são apresentadas soluções de comércio justo e transparente para produtos agrícolas locais, saudáveis e sustentáveis na capital paraense, mas que também podem ser replicadas ou adaptadas por diversos formatos de comercialização em todo o país.
“A cidade de Belém foi escolhida por ser uma capital amazônica com patrimônio sociocultural e ambiental de valor inestimável. E mesmo assim, ainda não tem dentro da sua economia alimentar um grande destaque para esses produtos, embora tenha uma grande demanda potencial” diz Fabrício Muriana, do Instituto Regenera.
Os guias foram criados para ampliar o alcance do projeto. O guia “Recomendações e Boas Práticas para a Comercialização de Alimentos Agroecológicos” traz seis dimensões que devem ser abordadas para alavancar a comercialização justa. Já o segundo, “Guia de Comunicação Para Comercialização Justa de Alimentos Agroecológicos”, aborda o fato de que saber se comunicar é importante não apenas para informar as pessoas sobre a existência e estimular a preferência pelos produtos locais, mas também cumpre um papel pedagógico, de fazer com que o consumidor compreenda que existem maneiras mais éticas, sustentáveis e saudáveis de se relacionar com a comida.
Durante o desenvolvimento das publicações, os principais gargalos para o desenvolvimento da comercialização de alimentos agroecológicos foram a falta de um local estruturado para comercializar os produtos, o alto custo do transporte dos produtos até as feiras, a falta de formalização legal para poder vender no varejo e o preconceito com a produção local e/ou proveniente da floresta em pé. “Como consequência, vemos a perda de diversidade cultural e alimentar, fazendo com que cada vez mais os produtos agroecológicos percam espaço para culturas produtivas que desconsideram aspectos como sazonalidade e diversidade de culturas”, explica Beatriz Duarte, do Instituto Fronteiras do Desenvolvimento.
“Identificamos até a existência de desertos alimentares na região de Belém, que são locais onde a população não tem acesso a alimentos in natura ou processados, sendo forçadas a percorrerem longas distâncias para conseguir comprá-los. Esse desafio e outros identificados em Belém são similares em outras cidades brasileiras, fazendo com que as diretrizes e soluções apresentadas nos guias possam ser adaptadas e aplicadas em outras regiões”, adianta Maurício Alcântara, do Instituto Regenera.
Uma das soluções citadas por Alcântara nas publicações para melhorar o transporte dos produtos até as feiras é realizar o transporte de forma compartilhada. Ou ainda ter a figura de um “atravessador solidário”, que intermedeia a produção daqueles que não querem participar das feiras, ou não contam com veículos para o transporte ou ainda não têm produção suficiente para justificar a ida à feira. Esse e os demais caminhos para o desenvolvimento para a comercialização de alimentos agroecológicos podem ser acessados no site do projeto do Projeto “Da Amazônia para Belém: fomento a sistemas locais de alimentos regenerativos”.
Fonte: ALTER Conteúdo Relevante