Produtos brasileiros do Comércio Justo para o mundo

Modelo alternativo de negócios, o Comércio Justo tem feito a diferença na vida de famílias que vivem da agricultura no Brasil. Em um momento em que o planeta enfrenta uma crise climática que ameaça a humanidade, os produtores e trabalhadores rurais integrantes do sistema Fairtrade (Comércio Justo) dão a sua contribuição através da gestão responsável e sustentável dos recursos naturais, que é uma das primícias do sistema.  

Por ser um canal de comercialização mais direto entre produtores e consumidores, o Comércio Justo proporciona relações comerciais mais justas, com o pagamento de melhores preços pelos produtos Fairtrade. Para tanto, os produtores e trabalhadores Fairtrade devem cumprir uma série requisitos, que abrangem questões sociais, como o respeito aos direitos humanos, e ambientas, como a proteção e preservação do meio ambiente.

Atualmente, cerca de 10 mil famílias de pequenos(as) produtores(as) e trabalhadores(as) agrícolas que cultivam café, laranja, mel, castanha de caju, limão, manga, mamão, uva, guaraná, soja, ervas finas e especiarias – em mais de 50 associações e cooperativas de pequenos produtores e em fazendas integrantes do Comércio Justo – recebem os benefícios do Fairtrade.

E para divulgar o Comércio Justo e quais são os benefícios para os produtores e consumidores, anualmente são promovidas uma série de atividades nos países produtores, como o Brasil, e nos principais países consumidores, em sua maioria integrantes do continente europeu.

Esse ano, o tema central da campanha mundial foi: “Ao semear o Comércio Justo colhemos esperança”. Esse tema foi amplamente divulgado pelas Organizações de Pequenos Produtores (OPPs) certificadas Fairtrade e pelas Cidades e Universidades Pelo Comércio Justo em diversos eventos de comemorações realizados em maio, Mês do Comércio Justo, e que se prolongam ao longo do ano.

A intenção dos eventos é promover os conceitos, princípios e valores do movimento mundial do Comércio Justo. Também se busca sensibilizar os consumidores e/ou futuros consumidores para o consumo responsável e sustentável, mostrando como os recursos provenientes da venda desses produtos beneficiam todos os envolvidos no sistema.

O Presidente da Cooperativa dos Produtores do Alto da Serra (ApasCoffee), que fica em São Gonçalo do Sapucaí (MG) e presidente da Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil (BRFAIR), Mauricio Alves Hervaz comenta sobre a importância das ações realizadas.

“É importante mostrar aos brasileiros o que é o Comércio Justo. Os produtores certificados trabalham com sustentabilidade e são desenvolvidos diversos projetos sociais e ambientais nas propriedades e comunidades. O consumidor precisa entender que os produtos do Comércio Justo, como café e suco de laranja, são feitos com sustentabilidade e parte do recurso são para ações sociais”, enfatizou.

Segundo ele, as atividades realizadas durante o mês de maio e as demais durante todo o ano fortalecem o sistema Fairtrade, e levam informações aos produtores e consumidores. No Brasil, o principal produto do Comércio Justo é o café. “O mercado interno de cafés especiais e certificados é grande, e todas as ações de divulgação e marketing fortalecem e fomentam esse comércio interno”, afirmou.

UNIVERSIDADES PELO COMÉRCIO JUSTO – A Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), ambas de Minas Gerais, são reconhecidas, no Brasil, como “Universidades pelo Comércio Justo”. O reconhecimento é uma das ações do projeto Universidades Latino-americanas pelo Comércio Justo, que vem sendo fomentado pela Coordenadora Latino-americana e do Caribe de Pequenos (as) Produtores (as) e Trabalhadores (as) de Comércio Justo (CLAC) em diversos países da América Latina e Caribe desde 2015.           

No Brasil, o projeto conta com o apoio da Associação das BRFAIR, que em parceria com a CLAC, tem trabalhado ativamente para estabelecer e fortalecer as conexões entre as Organizações de Pequenos Produtores (OPPs) Fairtrade e as universidades.

CIDADES PELO COMÉRCIO JUSTO – Também fomentado pela CLAC em parceria com a BRFAIR, o projeto “Cidades Latino-Americanas pelo Comércio Justo” é um exemplo de iniciativa que visa fortalecer o Fairtrade no Brasil. No país, quatro cidades brasileiras têm o título de Cidades Latino-Americanas pelo Comércio Justo: Boa Esperança, Poço Fundo e Santana da Vargem, em Minas Gerais; e Muqui, no Espírito Santo. A cidade mineira de Nova Resende está no processo de reconhecimento.

Paola Figueiredo, gestora da CLAC no Brasil, comemorou o crescimento do movimento no país. “Boa Esperança é referência para outras cidades. Fizemos a mentoria para outras cidades e, hoje, no Brasil, somos quatro cidades pelo Comércio Justo e outras já estão aderindo ao movimento, fazemos parte de uma rede de mais de duas mil cidades no mundo, com Boa Esperança sendo pioneira. Temos uma parceria forte com o poder público, com o comércio local e principalmente com as escolas. Isso gera um impacto importante para o futuro”, afirmou.

Em Boa Esperança, o Comitê Gestor comemorou 10 anos do início do projeto na cidade com diversas atividades. O evento ocorreu no espaço Xícara da Silva, onde participaram produtores e produtoras da Cooperativa dos Costas, autoridades, representantes do comércio local, de escolas, parceiros e moradores. Foi lançada a linha de cafés da Cooperativa Dos Costas: orgânico, gourmet e o café feminino Daisy’s com a marca Fairtrade. Outro marco foi a premiação dos estabelecimentos comerciais com 01 ano de Selo do Comércio Justo, já que dos 10 comércios detentores do selo, 07 completaram um ano de participação na iniciativa.

Em Poço Fundo, as atividades em comemoração ao Mês do Comércio Justo ocorreram na concha acústica da cidade. Representantes da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam) e Cooperativa de Pequenos Cafeicultores de Poço Fundo (Coocaminas), com o apoio do Poder Público Municipal, realizaram uma feira com os produtores do projeto de turismo rural “Caminhos do Bem” e palestras foram realizadas conscientizando os produtores e comunidade local sobre a importância do sistema Fairtrade. Teve ainda uma feira de artesanato, degustação de café e o lançamento de um documentário: “Natureza, simplicidade, equilíbrio e arte”.

Em Santana da Vargem, para fomentar nos jovens o interessem pelo sistema Fairtrade, os alunos do 5º Ano das escolas municipais e estaduais do município receberam o papel de Embaixadores do Comércio Justo na cidade. Eles visitaram a Cooperativa de Pequenos Agricultores de Santana da Vargem (Coopasv) e tiveram a oportunidade de aprender sobre o processo de produção do café, desde a plantação até a xícara. Também degustaram cafés especiais e participaram de discussões sobre a importância da preservação do meio ambiente e da sustentabilidade. A intenção foi proporcionar uma compreensão mais profunda sobre o impacto do Comércio Justo em suas comunidades e no mundo.

Em Muqui, a Cooperativa de Cafeicultores do Sul do Estado do Espirito Santo (Cafesul), realizou ações na feirinha dos agricultores, onde cooperados vendem seus produtos com o objetivo de diversificar a renda familiar. Também foram realizadas ações de conscientização sobre o fortalecimento do papel feminino na produção e criada uma agenda de visita às escolas do município, com o intuito de divulgar a importância do Comércio Justo na cidade e no Brasil.

O Presidente da Cafesul, Carlos Renato Alvarenga Theodoro lembrou que as ações são realizadas em todo o mundo. “No mês de maio se trabalha os conceitos do Comércio Justo e da economia solidária nas comunidades. É muito importante para o fortalecimento da marca e para mostrar a nossa preocupação com as questões ambientais, sociais e econômicas dos produtores e das organizações certificadas Fairtrade do mundo”, enfatizou.

Representantes da Cooperativa Agropecuária dos Produtores de Nova Resende e Região (Coopervitae), Cooperativa Agropecuária Fair Trade de Nova Resende e Região (Coopernovarum), e da Associação dos Cafeicultores de Petúnia e Região (Acaper), realizaram atividades no município, com apoio de parceiros como o Sicoob e a Prefeitura Municipal de Nova Resende. O comitê gestor do Comércio Justo da cidade participou da feira de produtos locais na Praça Santa Rita, com uma degustação de Cafés Especiais Fairtrade, e aproveitou a oportunidade para conscientizar a população sobre a importância do movimento do Comércio Justo.

O que é o Fairtrade (Comércio Justo)

O Comércio Justo é um movimento social e econômico, cujas experiências pioneiras datam do final de 1940 como respostas alternativas ao modelo de comércio convencional. Visando promover relações comerciais mais justas, contribuir para a melhoria das condições de vida e trabalho de produtores e trabalhadores, e conscientizar sobre o papel do consumidor na escolha por produtos certificados, o Fairtrade é um sistema de garantia que assegura o cumprimento dos critérios pré-estabelecidos pelo movimento.

A Fairtrade International (FI) é uma organização internacional que engloba diversos agentes envolvidos e define as normas para todo o sistema. As organizações de produtores, os exportadores e os importadores são monitorados e certificados. Os produtos resultantes desse sistema recebem a marca “Fairtrade”.

Fonte: Nova Comunicação