A elevada especialização com que os profissionais da área de agrárias saem hoje da faculdade é um obstáculo para a disseminação dos sistemas integrados de produção. A declaração é do zootecnista Paulo César de Faccio Carvalho, professor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A partir dessa discussão, o pesquisador da Embrapa Luiz Adriano Maia Cordeiro informou que será gerado um documento final com o conteúdo da sessão Integração lavoura-pecuária-floresta, realizada durante a Conferência Governança do Solo, em Brasília, organizada pelo Tribunal de Contas da União, e que as contribuições do professor Carvalho e dos demais participantes poderão subsidiar ações do Ministério da Educação no sentido de colocar o tema como estratégico na formação dos profissionais de ciências agrárias.
“O aluno tem que escolher no segundo ano a especialidade em que vai atuar e sai da faculdade com uma superespecialização entendendo muito de uma única área do conhecimento”, afirmou Carvalho. Para o professor, essa formação é um dos maiores desafios atuais para a disseminação dos sistemas integrados de produção. “Sistemas são complexos. Não é fácil entendê-los e somos avessos à complexidade. É mais tranquilo nos especializarmos em produção de soja, por exemplo, mas quando a colocamos com outras culturas, essa especialização já não é suficiente,” exemplifica.
A solução, segundo o professor, seria uma formação acadêmica holística, o que era comum há pouco mais de duas décadas. No entanto, o currículo acadêmico foi se afunilando a ponto de o profissional se formar hoje sem precisar conhecer muitas disciplinas importantes. Ele afirma que um grande obstáculo para a inserção de sistemas agrícolas nos currículos de graduação é a geração de conhecimento. Os sistemas exigem experimentos elaborados e de longo prazo e, se envolver silvicultura, o tempo de pesquisa é ainda maior. Depois de obter resultados, eles não serão necessariamente extrapolados para outras regiões, que precisarão de experimentos locais.
A ordem de plantio das espécies, o espaçamento das árvores, o número de linhas, os tipos de solo, as condições de cada safra e muitos outros itens influenciam nos resultados. “São inúmeras variáveis a serem consideradas. É como um baralho de infinitas cartas. Por isso, é tão difícil fazer experimentos em ILPF e pelo mesmo motivo não temos resultados para todas as configurações,” disse Carvalho defendendo o uso de modelagem computacional para executar simulações de diferentes arranjos. Essas pesquisas são fundamentais, segundo ele, para geração de conhecimento a ser repassado aos estudantes.
Outro gargalo desse problema são as instituições de ensino que ainda não incorporaram o tema em seus currículos. Um levantamento realizado por Carvalho encontrou somente quatro cursos de Agronomia que possuíam sistemas integrados de produção como disciplina. “Temos um longo caminho para disseminar essas tecnologias na academia e em outros setores também. Nesse ponto, a Embrapa teve um papel notável na divulgação da ILPF e se hoje os sistemas têm alguma visibilidade na agropecuária é graças especialmente à Embrapa”, concluiu.