Programa ‘Cozinhas & Infâncias’ leva educadores de 590 escolas da rede municipal de São Paulo para a cozinha

O módulo realizado pelo  Instituto Comida e Cultura, a Prefeitura Municipal de São Paulo e a Faculdade de Saúde Pública da USP será realizado no dia 29 de junho, das 9h às 17h, na cozinha da Faculdade de Saúde Pública da USP

Agora a cozinha também é um espaço de interações e atividades pedagógicas! O último módulo do programa “Cozinhas & Infâncias”, do Instituto Comida e Cultura (ICC), será realizado na cidade de São Paulo e acontecerá no dia 29/06, próxima quinta-feira, das 9h às 17h, com a participação especial de Bela Gil, fundadora do Instituto. O encontro terá práticas na cozinha da Faculdade de Saúde Pública da USP. O projeto conta com a parceria do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP para avaliação dos resultados.

A expectativa é de que milhares de crianças sejam beneficiadas com as vivências e compartilhamento de experiências entre educadores propostas por este projeto. O Instituto Comida e Cultura (ICC), que atua em projetos junto à rede municipal de educação infantil e fundamental, entende a alimentação saudável como o resultado de um processo construído a muitas mãos, além de uma poderosa ferramenta no combate à má nutrição, a obesidade infantil e até mesmo às mudanças climáticas. A intenção é aproximar os educadores do rico universo dos alimentos e seus impactos, além de apoiá-los nas atividades no chão da escola.

“Nós professores reconhecemos as dimensões históricas, afetivas e culturais da alimentação. Aqui na Cozinha compartilhamos muitos conhecimentos, mas também saberes e vivências sobre como transformar alimentos que a natureza nos proporciona em deliciosas preparações culinárias”, afirma a professora Betzabeth Slater Villar, professora associada e responsável pelas aulas práticas que acontecem na Cozinha didática (PTCAN), da Faculdade de Saúde Pública da USP.

A partir de uma parceria firmada entre o ICC, a Coordenadoria de Alimentação Escolar da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (CODAE/SME-SP) e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), teve início em março deste ano a formação ‘Cozinhas & Infâncias: cidades’. O Instituto concluiu a formação 282 professores e nutricionistas de todo o conjunto de Escolas Municipais de Educação Infantil e dos Centros Municipais de Educação Infantil (EMEIs e CEMEIs) da rede municipal de São Paulo. No próximo semestre, outros 308 educadores participarão do curso, envolvendo, até o final do ano, quase 600 profissionais de educação.

Maria de Fátima Brum, coordenadora da CODAE, reafirma a importância da alimentação escolar como direito garantido pela constituição na promoção da saúde, aprendizado e bem-estar de bebês, crianças, jovens e adultos. Ela observa a escola como um espaço privilegiado para realização de ações de educação alimentar e nutricional.

O objetivo foi o de preparar educadores, apresentando conhecimentos sobre a história da alimentação humana e da culinária brasileira, habilidades culinárias e alimentação saudável.

O material didático preparado pelo ICC é pautado no conceito da alimentação saudável e a trajetória da cultura culinária brasileira. Quem norteia os passos do ‘Cozinhas & Infâncias’ é o Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB), visando levar o tema da alimentação e suas múltiplas dimensões aos currículos escolares de todo o Brasil.

A expectativa é de que milhares de crianças sejam beneficiadas com as vivências e compartilhamento de experiências entre educadores propostas por este projeto.

“Diante deste novo cenário político no Brasil, acreditamos que podemos caminhar para muito além do combate à fome. Com programas como o ‘Cozinhas & Infâncias’, por exemplo, ampliamos o acesso ao conhecimento entre educadores e crianças das escolas de educação infantil, que têm papel fundamental na promoção da alimentação adequada, saudável, biodiversa e inclusiva”, defende Bela Gil, uma das fundadoras do ICC.

De maneira integral, o programa ainda navega pelos tópicos: cultura, história, sistemas alimentares, biodiversidade, nutrição, educação para as relações étnico-raciais e o ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena.

Ao cozinhar com as crianças é possível trabalhar assuntos complexos como os processos produtivos e seus impactos socioambientais, a origem dos alimentos, a ancestralidade, a cultura intrínseca aos diferentes alimentos e modos de preparo e o resgate de receitas tradicionais feitas com ingredientes nativos.

A Professora Cleris Quadros, uma das educadoras que participou da formação, nascida e criada em uma comunidade quilombola de Tocoiós (Francisco Badaró, MG), compreende a necessidade da formação de hábitos alimentares saudáveis das gerações futuras. Ela declara: “90% das crianças desconhecem de onde vêm os alimentos. Sempre apresentam respostas vagas às nossas indagações durante as rodas de conversa ou respondem: do mercado!” E completa, “muitas não sabem que plantamos sementes para que tenhamos alimento”. Para ela, o curso fornece mais ferramentas para apresentar às crianças e suas famílias as diversas possibilidades de consumo de ‘alimentos de verdade’, partindo do princípio de respeito à natureza, à valorização do trabalho de quem produz o alimento e do quanto pode ser prazeroso o alimento preparado e consumido em família.

“É preciso ampliar a consciência alimentar por meio da educação interdisciplinar, inclusiva e decolonial. Portanto, esperamos que esta iniciativa sirva de inspiração para novas parcerias intersetoriais que possibilitem a ampliação para outros territórios no Brasil”, deseja Bela.

Desde março deste ano, o ICC também leva o programa ‘Cozinhas e Infâncias’ para a Chapada dos Guimarães, MT. E a ideia é continuar a estender o projeto para outras regiões do Brasil.

Fonte: Mariana Cruz | Agência ERA