Integrantes de cinco países africanos estiveram no Brasil para visitas técnicas agrícolas e conversas sobre o projeto Cotton-4+Togo, cuja segunda etapa foi oficializada no fim de 2014. O projeto original iniciou em 2009 e reuniu quatro países que têm como principal produto agrícola o algodão: Chade, Burkina Faso, Benin e Mali. A segunda fase incluiu o Togo, o que renomeou o projeto para Cotton-4 +Togo.
A delegação da África ficou no Brasil entre os dias 27 de abril e 12 de maio. Inicialmente os pesquisadores estiveram na sede da Embrapa, onde foram recebidos pelo chefe da Secretaria de Relações Internacionais, Mario Seixas, em nome do presidente da Empresa, Maurício Antônio Lopes. Seixas ressaltou a importância dos laços da agricultura brasileira com os países da África, em especial o projeto Cotton-4+Togo, para o desenvolvimento da cotonicultura nos cinco países envolvidos.
O agrônomo Bazoumana Koulibaly, chefe do Programa Algodão do Instituto Ambiental e de Pesquisas Agrícolas de Burkina Faso (INERA), elogiou a produtividade das variedades de algodão desenvolvidas pela Embrapa fornecidas ao programa e ressaltou a importância do Manual de Boas Práticas Agrícolas, distribuído aos agricultores no âmbito do projeto. “O manual significou um grande auxílio aos produtores e foi responsável por ótimos resultados”, afirmou o representante do INERA.
Já os representantes do Mali, o agrônomo Fagaye Sissoco e o melhorista Yattara Amadou Aly, do Instituto de Economia Rural do Mali (IER), fizeram uma síntese do Cotton-4 em seu país e destacaram o desempenho de dois materiais brasileiros desenvolvidos pela Embrapa. “Dentre as variedades que utilizamos, os melhores resultados vieram da BRS 293 e BRS 286”.
Além de membros do INERA e do IER, a comitiva esteve formada por especialistas do Instituto Togolês de Pesquisa Agronômica (ITRA), do Instituto Nacional de Pesquisas Agrícolas de Benin (INRAB) e do Instituto de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento do Chade (ITRAD).
Nos dias subsequentes à visita a sede da Embrapa, os pesquisadores foram a Bahia, no município de Luís Eduardo Magalhães, para conhecerem as pesquisas realizadas na parceria entre a Fundação Bahia e a Embrapa. A delegação visitou, também, algumas instituições da região como a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa, BA) e a Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa, GO).
Na Embrapa Arroz e Feijão participaram de reuniões e visitas a campo para conhecer as pesquisas com o algodão desenvolvidas pelo Núcleo Centro-Oeste da Embrapa Algodão e, na oportunidade, conheceram também a Fazendinha Agroecológica da Unidade que realiza pesquisas com sistemas agroflorestais e produção agroecológica.
Esta é a quarta vez que o melhorista Alexis Hougny, do INRAB visita o Brasil. Nas vezes anteriores participou de duas capacitações em seleção varietal e outra em análises estatísticas. As diferenças de culturas e sistemas de cultivos do algodão que possam integrar aos outros sistemas de rotação no Benim foram algumas das propostas apresentadas no protocolo de pesquisa do projeto Cotton-4+Togo: “Com as características das variedades brasileiras de algodão poderemos melhorar a cultura algodoeira no Benim e, desta forma, aumentar nossa competividade”.
Como parte da visita técnica ao Brasil, a delegação africana visitou, ainda, o Grupo JHS, a Associação Sul Matogrossense dos Produtores de Algodão (Ampasul, MS), a Fundação Chapadão e o Grupo Schlatter.
Encerrando a visita ao Brasil, os especialistas africanos retornaram a Goiânia, indo novamente à Embrapa Arroz e Feijão para definição de futuros protocolos de pesquisa a serem conduzidos em cada um dos países participantes do Cotton-4+Togo.
“De uma maneira geral, quando a gente vai para o exterior, o país que nos recebe tende a mostrar o que tem de melhor, mas aqui no Brasil a Embrapa me mostrou, também, as pequenas propriedades de famílias pobres. Isto foi bastante significativo para mim, pois se estas pesquisas são capazes de resolver esta situação aqui, então existe a possibilidade de resolvermos também no Mali”, destacou o melhorista Yattara Amadou Aly, do IER, um dos principais centros de pesquisas agronômicas daquele país.
Para Bonfoh Bedibete, diretor geral do ITRA, instituição que realiza pesquisas com cereais, cacau, genética e o algodão: “o que estabelecemos no protocolo de pesquisa a serem conduzidos em cada um dos países participantes do projeto Cotton-4+Togo foram três áreas prioritárias, ou seja, a pesquisa em genética (aspectos agronômicos), solos (gestão sustentável do solo, aproveitamento de plantas de coberturas e algumas orientações que foram feitas na primeira fase do projeto); e, por fim, na área entomológica (manejo de pragas e doenças)”, observou.
O projeto – Celebrado em 2009, o projeto “Apoio ao Desenvolvimento do Setor Algodoeiro dos Países do C-4 (Benin, Burkina Faso, Chade e Mali)”, ou Cotton-4, teve vigência inicial de três anos e foi estendido até dezembro de 2013. Seu objetivo foi contribuir para o aumento da competitividade da cadeia produtiva do algodão dos países do C-4.
A cotonicultura é o motor da economia desses quatro países, no entanto, era pouco representativa no mercado internacional. Os principais motivos para esse problema eram as características climáticas que dificultam o plantio da cultura, técnicas agrícolas rudimentares e os fortes subsídios de países desenvolvidos produtores de algodão.
Uma reivindicação dos países do C-4 à Organização Mundial do Comércio levou à criação, em 2004, do Mecanismo Consultivo para o Algodão, com o objetivo de trocar informações, apresentar pleitos e permitir diálogo entre doadores e parceiros. No âmbito deste Mecanismo, em 2007, o Brasil manifestou interesse em apoiar os países do C-4 na cultura do algodão e, em outubro de 2008, o Brasil apresentou e distribuiu um documento sobre a cooperação desenvolvida pela ABC junto aos países do Cotton-4 e declarou, em nome do G-20, apoio às demandas dos países produtores de algodão durante as negociações sobre agricultura.
Após resultados positivos como a difusão da produção científica para o desenvolvimento de pequenas comunidades, favorecimento da inclusão social das comunidades envolvidas, fortalecimento da cadeia produtiva do algodão, acesso de pequenos produtores aos resultados produzidos por instituições de pesquisa, entre outros, uma nova versão do projeto, atualmente em execução, foi assinada em dezembro de 2014 com a inclusão do Togo.