Há mais de uma semana o governo decidiu pautar a cobertura da imprensa, que, com raras exceções, aceitou gostosamente a orientação. Com variações, a cobertura destaca que há menos pessoas nas ruas neste 12 de abril do que naquele 15 de março. Assim, fica estabelecido, dada essa leitura estúpida, que um protesto político só é bem- sucedido se consegue, a cada vez, superar a si mesmo. Isso é de uma tolice espantosa, na hipótese de não ser má-fé. A população ocupou as ruas em centenas de cidades Brasil afora. Mais uma vez, PT, CUT, ditos movimentos sociais e esquerdas no geral levaram uma surra também numérica. Mais uma vez, o verde-e-amarelo bateu o vermelho da semana passada. E é isso o que importa.
De resto, é impossível saber o número de manifestantes deste domingo. Algum veículo de imprensa mandou jornalista cobrir o protesto em Januária, em Minas; em Orobó, em Pernambuco, ou em Ourinhos, em São Paulo? Haver menos gente na Avenida Paulista ou na orla de Copacabana, no Rio, não tem nenhuma importância. Num levantamento prévio, dá para afirmar que o “fora Dilma” foi ouvido em cidades de pelo menos 24 Estados e no Distrito Federal (ainda falta atualização). E — daqui a pouco chego lá — contem com o PT para turbinar os próximos protestos.
Consta que o governo respirou aliviado com o número menor, embora o Palácio do Planalto, ele mesmo, tenha, desta vez, resolvido se calar. Parece que não haverá Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo para cutucar a onça com a vara curta. A boçalidade ficou por conta da militância virtual e paga (farei um post a respeito). Respirou aliviado por quê?
INFORMATIVO DE MERCADO
SOJAO mercado futuro de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) deve seguir pressionado pelos fundamentos baixistas de estoque confortável nos EUA e avanço da colheita e comercialização de uma safra que deve ser recorde na América do Sul. Analistas acreditam que apenas a esp eculação sobre o clima nos EUA durante a temporada de plantio pode motivar novos ralis de preços no curto prazo. Era esperado clima mais seco no sul dos EUA, onde o excesso de chuvas atrasava o plantio, e aumento da umidade no Meio-Oeste, onde produtores preparam o solo para a semeadura.
Ontem, o vencimento maio caiu 2 cents (0,21%), a US$ 9,5150/bushel. “Investidores estão percebendo o avanço na colheita da América do Sul, e está difícil encontrar justificativas altistas”, explicou o analista Stefan Tomkiw, da Jefferies Bache. “O mercado está dominado por fatores mais baixistas.” Na semana passada, o contrato maio acumulou queda de 3,50%.
Além de a colheita ter acelerado no Brasil, já tendo sido concluída em Mato Grosso do Sul e atingindo 99% da área em Mato Grosso, segundo dados da AgRural, o ritmo de exportação do País está aumentando, disse Tomkiw. Ontem, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) elevou a previsão para a colheita de soja brasileira em 2014/15 de 93,25 milhões de toneladas para 94,28 milhões de toneladas. O novo número representaria aumento de 9,5% ante 2013/14.
Quanto à logística, mesmo a restrição de acesso ao Porto de Santos por causa do incêndio não se refletiu na CBOT na semana passada. “O mercado acompanhou, mas não teve efeito em preço”, explicou o analista. “A demanda não chegou enxugar o estoque no porto.” Na sexta-feira, o incêndio no pátio da Ultracargo/Tequimar, em Santos, chegou ao fim. “Não há mais fogo e o local é seguro”, anunciou o comandante do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, coronel Marco Aurélio Alves Pinto, líder da operação no complexo industrial da Alemoa. Com as chamas apagadas, o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), confirmou que o acesso à margem direita do porto começou a ser liberado “de forma gradual”. Segundo informações do gabinete de crise formado na cidade, entre 12 mil e 18 mil caminhões estão parados em estradas e bolsões na região, aguardando autorização para seguir viagem.
Além da oferta sul-americana, os estoques ainda robustos da safra 2014 /15 norte-americana contribuem para pressionar os preços. “O que tem colocado o mercado para baixo é a previsão de estoque final alto, de 10,07 milhões de toneladas, e a expectativa de que a área de soja nos EUA ainda pode ainda aumentar”, disse o analista Caio Toledo, da XP Investimentos.
Nesta segunda-feira, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) deve divulgar o segundo relatório de acompanhamento de safra da temporada. Entretanto, analistas não esperam a divulgação de números de plantio e condições das lavouras de soja desta vez.
COTAÇÕES DO COMPLEXO SOJA NA BOLSA DE CHICAGO
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CBOT/Agência Estado
O mercado doméstico registrava movimentação de pequenos volumes, com vendedores hesitantes após a queda de preços recente. O dólar à vista no balcão subiu 0,62%, para R$ 3,0870, mas fechou a semana com variação negativa acumulada de 1,3%.
Em Mato Grosso, produtores da região de Ro ndonópolis preferiam segurar a safra e negociavam apenas volumes pontuais, aguardando preços mais remuneradores. Na sexta-feira, a indicação de compradores era de R$ 57/saca para retirada imediata em propriedades da região, nível em que chegaram a rodar volumes pontuais, contou Marcos Hildenbrandt, da Mauá Corretora. Segundo ele, os preços caíram R$ 3/saca na semana passada. “Produtores esperam valores acima de R$ 60.” O agente relatou que a venda antecipada da safra 2015/16 avançou nas últimas semanas, mas perdeu força na semana passada. Havia propostas na sexta-feira de US$ 18/saca, mas o corretor disse não ter fechado negócios.
O indicador de preços da soja Esalq, calculado com base nos preços do mercado disponível em cinco praças do Paraná, fechou em baixa de 0,19%, a R$ 62,88/saca. Em dólar, o indicador ficou em US$ 20,37/saca (-0,83%).
EVOLUÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO FÍSICO DE LOTES
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Cepea/Agência Estado
Com os preços mais baixos da soja, produtores devem começar a negociar mais milho nos próximos dias. Mesmo que as cotações do cereal estejam também mais fracas, a avaliação é de que é oportuno fechar alguns contratos à espera de uma reação dos preços da soja. O volume movimentado, no entanto, deve ser pequeno, pois indústrias de ração e produtores de carnes – os compradores mais ativos no mercado spot – têm adquirido milho apenas para suprir necessidades pontuais. O câmbio também não favorece a comercialização antecipada do milho safrinha. O dólar cedeu 1,3% na semana passada.
Na sexta-feira, foram negociadas 300 toneladas em Rondonópolis, no sul de Mato Grosso, a R$ 20,50/saca para retirada imediata em fazenda, para confinamento da região, informou Marcos Hildenbrandt, da Mauá Corretora. Os preços caíram na semana passada e foram negociados apenas lotes pontuais, contou o agente. “Com o aumento da ofe rta de outras regiões do País, compradores de outros Estados indicam preços ainda mais baixos, de R$ 19 a saca”. A venda antecipada da safra de inverno estava paralisada na semana passada. Hildenbrandt contou não ter visto negócios desse tipo há 30 dias, quando eram negociados lotes a R$ 20/saca. Na sexta-feira, a indicação de compradores era de R$ 18,50, para entrega e pagamento em julho, mas não foram registrados negócios. O corretor estima que entre 20% a 30% da safrinha 2015 da região foi comercializada até o momento.
O indicador do milho Cepea/Esalq/BM&FBovespa fechou a sexta-feira em baixa de 0,42%, a R$ 28,35 a saca de 60 quilos. Em dólar, o preço ficou em US$ 9,18/saca (-1,08%).
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Cepea/Agência Estado
Na sexta-feira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou sua estimativa de produção de milho no Brasil na safra 2014/15. A primeira safra foi estimada em 30,29 milhões de t, uma redução de 4,3% ante a observada no ciclo anterior. Já a segunda safra deve crescer 0,6%, para 48,69 milhões de t. Com isso, a produção total do cereal em 2014/15 deve alcançar 78,99 milhões de toneladas, queda de 1,3% ante 80,05 milhões de t no período anterior.
Na Bolsa de Chicago, o milho registrou queda na sexta-feira, completando cinco sessões consecutivas de baixas. Os futuros do cereal são pressionados pela expectativa de oferta ampla e demanda enfraquecida. O vencimento maio perdeu 1,00 cent (0,26%), para US$ 3,77 por bushel.
Participantes seguem atentos à revisão das estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O governo norte-americano elevou em 2,8% a projeção de estoque final, para 1,827 bilhão de bushels (46,4 milhões de tone ladas). Entretanto, o número foi menor que o esperado por analistas, o que limitou as perdas no final da semana.
A redução foi reflexo da estimativa de menor uso doméstico para ração, para 5,25 bilhões de bushels (133,35 milhões de toneladas), uma queda de 0,94% na comparação com a projeção anterior. Analistas avaliam também que a demanda externa está enfraquecida, em virtude do excesso de oferta do cereal em todo o mundo.
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