Sem acordo com o governo sobre a criação de uma tabela para o preço mínimo do frete, caminhoneiros realizaram protestos e bloqueios em rodovias em pelo menos cinco Estados nesta quinta (23).
A adesão foi maior na região Sul, com a participação de Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, mas também foram registrados protestos em Minas Gerais e em Mato Grosso. Em alguns casos, no entanto, os bloqueios duraram menos de uma hora. Não foram registrados grandes transtornos.
A categoria contabilizou mais adesões. “Fizemos 102 pontos de protesto, atingindo seis Estados”, afirmou Diego Mendes, representante de caminhoneiros autônomos na região Norte e Nordeste. Ele afirma que, no Ceará, a BR-116 foi fechada por 250 caminhões no período da tarde.
Segundo as lideranças, que mobilizam os motoristas principalmente por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp, o movimento será fortalecido nesta sexta (24).
“A mobilização está só começando. A partir desta sexta contamos com o apoio de outros Estados”, disse Idair Parizotto, secretário do Sindicato dos Caminhoneiros de Francisco Beltrão, do Paraná.
Nesta quinta (23), o ministro Miguel Rossetto (Secretaria Geral da Presidência) afirmou que o movimento era pequeno. Segundo ele, o governo respeitaria o direito de manifestação, mas usaria a força policial para impedir fechamento de rodovias.
INFORMATIVO DE MERCADO
SOJA
A greve de caminhoneiros no Brasil, que começou ontem, deu suporte aos futuros de soja na Bolsa de Chicago (CBOT). Embora a percepção do mercado até o momento seja de que a paralisação deve ser menos intensa do que a greve que ocorreu entre fevereiro e março, entidades de produtores manifestaram temor de impacto sobre o fluxo para exportação. A demanda firme por soja dentro dos Estados Unidos foi outro fator importante de sustentação para as cotações da oleaginosa. Ainda assim, os dados fracos de exportações norte-americanas limitaram os ganhos.
Ontem, o vencimento julho subiu 8,25 cents (0,85%) e encerrou a US$ 9,80/bushel. Caminhoneiros do País iniciaram uma greve na quinta-feira após não terem chegado a acordo com o governo federal sobre um preço mínimo para o transporte de mercadorias. O analista Gustavo Schnekenberg, da Agrinvest, destacou que circularam várias notícias de bloqueios, mas as negociações no mercado físico foram pouco afetadas por enquanto. “Investidores estão colocando um prêmio em cima da soja por causa da paralisação”, disse o analista. “O Brasil é a principal origem de soja no mundo agora. Se não conseguir exportar, importadores devem mudar para a Argentina ou voltar para os EUA. E demanda maior por soja dos EUA acaba aumentando preço por lá.”
Por enquanto, a especulação do que pode ocorrer se os protestos ganharem força deve direcionar os preços. A paralisação anterior, entre fevereiro e março, prejudicou o transporte de soja das regiões produtoras para os portos do País. “Fica a dúvida sobre até que ponto essa greve será grave como a última”, explicou Schnekenberg.
O ritmo de embarques do Brasil até o momento é considerado positivo. O analista estimou que no acumulado do mês até 14 de abril, com 9 dias úteis, haviam sido embarcados cerca de 4,3 milhões de toneladas, conforme números de consultorias privadas. Por dia, são cerca de 477 mil toneladas, “volume bem mais alto do que os meses anteriores”. Se a greve não se intensificar, o volume embarcado pode ficar próximo do recorde de abril do ano passado, 8,25 milhões de toneladas. “Mantendo esse ritmo pode chegar a um número bem próximo.”
Na noite de ontem, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que havia pelo menos 17 rodovias federais com interdições pelo País por conta de protestos de caminhoneiros. O órgão informa que das 17 interdições, apenas uma – na BR 116, na altura no quilômetro 204, no município de Tabuleiro do Norte (Ceará) – estava totalmente bloqueada. As demais eram parciais. Os trechos interrompidos estavam em Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) afirmou em comunicado que o impacto de paralisações nas estradas organizadas por movimentos de caminhoneiros no curto prazo será “prejuízo na comercialização da soja”. “Este é o momento de pico de comercialização e precisa haver fluxo”, disse o presidente da Aprosoja-MT, Ricardo Tomczyk. A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) teme que a nova greve dos caminhoneiros atrase o escoamento de soja e farelo com entrega agendada para o Porto de Paranaguá. Em função das chuvas dos últimos dias, o carregamento das commodities para os navios no terminal atrasou, segundo Costa. “Com previsão de tempo abrindo amanhã (hoje), haverá retomada dos carregamentos e necessidade de deslocamento de produto”, assinalou.
Além da situação no Brasil, o fortalecimento da demanda doméstica por soja norte-americana no último mês ajudou a sustentar as cotações. “Mas, para atingir o volume previsto pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de 48,8 milhões de t, esse número tem que continuar vindo tão forte quanto. É difícil saber se vai continuar nesse ritmo”, disse Schnekenberg. Ele ressaltou que investidores estão atentos aos casos de gripe aviária nos EUA em busca de pistas sobre a disseminação da doença, mas o potencial de impacto nos preços é restrito por ora, uma vez que há casos em poucos Estados.
Entretanto, o enfraquecimento da procura externa por soja norte-americana limitou os ganhos. Os Estados Unidos venderam 102,1 mil toneladas de soja da safra 2014/15 na semana encerrada em 16 de abril, queda de 67,3% em relação ao apurado na semana anterior e 29% inferior a média das últimas quatro semanas. Para entrega em 2015/16, foram negociadas 8,1 mil toneladas. Analistas consultados pela Dow Jones esperavam vendas totais entre 50 mil e 300 mil toneladas das duas safras. Os embarques da oleaginosa ao exterior somaram 155,9 mil toneladas, queda de 72% na comparação com a semana anterior e de 75% ante a média apurada nas últimas quatro semanas. “Os números de venda vieram dentro do esperado, mas na banda de baixo. E os embarques diminuíram bastante. O ritmo terá que ser maior para chegarmos no fim da safra com exportações de 48,7 milhões de t”, disse o analista.
COTAÇÕES DO COMPLEXO SOJA NA BOLSA DE CHICAGO
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CBOT/Agência Estado
No mercado doméstico, o ritmo de negócios era lento. Em algumas praças, havia relatos de redução do interesse em virtude da greve dos caminhoneiros. Em outras, corretores indicavam que compradores e vendedores seguiam atuantes no mercado, mas havia pouco acordo sobre preços. O dólar fechou abaixo de R$ 3 pela primeira vez desde 4 de março, a R$ 2,9780, em baixa de 1,13%, a terceira queda seguida.
No Rio Grande do Sul, os preços caíram ontem com o recuo do dólar, e produtores se retraíram das negociações. A greve de caminhoneiros agravou a situação, deixando tanto vendedores quanto compradores mais apreensivos. “Vendedores estão mais resistente, até porque já negociaram uma boa parte da produção”, contou Claiton dos Santos, da TS Corretora de Grãos. Ele estimou que 40% da produção já tenha sido comercializada. Segundo o agente, chegaram a sair lotes pontuais, de menos de mil toneladas, durante a manhã, enquanto o dólar operava em alta ante o real, a R$ 64 a saca para retirada em Passo Fundo. Para entrega no Porto de Rio Grande, a indicação de compra era de R$ 68/saca na manhã de ontem. Entretanto, a moeda norte-americana virou, derrubando as propostas. À tarde, havia chance de negócios a R$ 62 e R$ 62,50 a saca em Passo Fundo e R$ 67/saca no porto.
Segundo o corretor, a ideia de produtores estava em torno de R$ 65 e R$ 66 a saca, e há algumas semanas são negociados apenas lotes pequenos para suprir necessidades pontuais de geração de caixa. Por outro lado, o agente contou que compradores tampouco mostravam interesse em adquirir volumes grandes. “Tradings já têm um bom volume comprado e estão com dificuldades de levar o produto para o porto”, explicou.
Em Mato Grosso, produtores seguravam seus estoques. Com os bloqueios em rodovias, compradores também ficaram mais retraídos, temendo adquirir lotes e não conseguir embarcar. Ontem, a referência de compra estava em R$ 53 a R$ 53,50 a saca para retirada em propriedade de Nova Mutum, mas produtores pediam pelo menos R$ 56/saca, sem registro de negócios. Corretora de Nova Mutum contou que não saem lotes grandes já há algumas semanas na região.
No Paraná, a negociação avançou pouco. Para retirada em Cascavel, as pedidas oscilaram entre R$ 62/saca e R$ 60/saca ao longo da semana, contou corretor da região. Ontem, era possível fechar acordos a R$ 60,50/saca no spot. No Porto de Paranaguá, era possível fechar contratos no disponível a R$ 67/saca, mas o agente relatou ter visto negócios ao longo da semana por R$ 67,50/saca com entrega até o fim da semana. As negociações antecipadas da safra 2015/16 travaram na região com o recuo do câmbio futuro. Dois corretores do Estado relataram por enquanto pouco impacto da greve nas negociações de soja, apesar dos relatos de pontos de bloqueio ontem no Estado e de novas interrupções programadas para hoje.
O indicador de preços da soja Esalq, calculado com base nos preços do mercado disponível em cinco praças do Paraná, fechou em alta de 0,05%, a R$ 62,82/saca. Em dólar, o indicador ficou em US$ 21,09/saca (+1,15%).
EVOLUÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO FÍSICO DE LOTES
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Cepea/Agência Estado
MILHO
O recuo do dólar, que fechou abaixo de R$ 3 pela primeira vez desde 4 de março, e as manifestações de caminhoneiros em importantes rodovias travaram as negociações de milho no mercado físico, que já estavam lentas nos últimos dias. O câmbio pressionou os preços pagos pelo cereal, o que afastou os produtores do mercado. Já compradores de alguns Estados demonstraram receio em adquirir lotes no mercado spot, com medo de não conseguir transportar a carga. Ontem, o dólar à vista caiu 1,13% e fechou a R$ 2,9780. Às 18h, a Polícia Rodoviária Federal registrava interdições em pelo menos 17 rodovias do País por conta de protestos de caminhoneiros.
Os preços do milho no médio norte de Mato Grosso acompanharam o dólar nesta semana e produtores se retiraram das negociações. Por causa dos bloqueios em rodovias do Estado, compradores também ficaram mais retraídos, evitando negociar lotes do cereal disponível, com receio de não conseguir embarcar o produto, contou uma corretora de Nova Mutum. Ontem, a indicação de compra ficava entre R$ 15,50 e R$ 16 a saca FOB, mas produtores pediam pelo menos R$ 17.
A queda do dólar futuro também afetou a negociação antecipada da safrinha. Compradores ofereciam R$ 15,50 a saca para retirada em junho ou julho e pagamento em outubro, mas vendedores não se interessam em negociar lotes com prazos de pagamento tão longos e não fecham acordos abaixo de R$ 17/saca. A corretora contou ter fechado bom volume antecipado há mais ou menos um mês, quando o preço estava em torno de R$ 17 a R$ 17,20. Agora, a maioria dos produtores já cobriu seus custos e não aceita os valores propostos. O clima segue favorável ao desenvolvimento do milho na região, com chuvas regulares, o que beneficia o cereal plantado tardiamente.
No Paraná, as negociações ocorriam em ritmo mais lento do que nas semanas anteriores. Ao longo da semana, os preços ficaram estáveis em R$ 23,50/saca para retirada em Cascavel e região, patamar em que rodaram lotes acima de mil toneladas na segunda, terça e quinta-feira. “Saem negócios, mas era para rodar mais volume nesta época”, disse corretor da região. Para a comercialização antecipada da safrinha 2015, compradores ofereciam R$ 23/saca para retirada em junho e julho no oeste do Estado e pagamentos 30 dias após a retirada, mas produtores pediam pelo menos R$ 23,50/saca. No Porto de Paranaguá, era possível fechar contratos para os mesmos prazos entre R$ 28 e R$ 28,50 por saca. “A R$ 29 e R$ 29,50 por saca rodariam mais negócios”, estimou o agente. A queda do dólar futuro ante o real pesou sobre os preços, reduzindo o interesse de venda na região. “Com chuvas frequentes e o clima ajudando, produtor veio para o mercado para fechar negócios querendo preços de um mês atrás, mas não tem comprador nos mesmos níveis.” Corretores do Paraná comentaram não ter visto influência da greve dos caminhoneiros sobre a negociação no mercado físico ontem.
No Rio Grande do Sul, saem lotes pontuais, mas a maioria dos produtores ainda espera negociar a valores mais altos. Os preços caíram desde a semana passada, acompanhando o dólar e o farelo de soja, o que reduziu o volume de negócios. Os bloqueios em rodovias agravaram a situação, deixando tanto vendedores quanto compradores mais retraídos na região. Na quarta-feira, foram negociados lotes pontuais, de menos de mil toneladas, a R$ 25 a saca para retirada em propriedade de Passo Fundo e R$ 26/saca para entrega em fábrica da região. Ontem, compradores indicavam os mesmos valores, mas não foram registrados acordos.
Claiton dos Santos, da TS Corretora de Grãos, afirma que vendedores seguram a produção, na expectativa de vender o milho entre R$ 28 e R$ 30 a saca. “Está uma queda de braço. A indústria alega que preços acima de R$ 25 ou R$ 26 inviabilizam a produção, mas vendedores não aceitam os valores propostos”, contou Santos. Ele estima que 60% da safra de verão já tenha sido comercializada, e apenas alguns produtores, com necessidades pontuais de geração de caixa, aceitam negociar nos preços atuais. O agente disse não ter visto indicação de preço no Porto de Rio Grande ontem, mas estimou valores entre R$ 27 e R$ 28 a saca.
O indicador do milho Cepea/Esalq/BM&FBovespa fechou em queda de 0,22% na quinta-feira, a R$ 26,93 a saca de 60 quilos. Em dólar, o preço ficou em US$ 9,04/saca (+0,89%).
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NO MERCADO FISICO
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Na Bolsa de Chicago (CBOT), os futuros do milho recuaram na quinta-feira, apesar de sinais de aumento da demanda pelos estoques dos Estados Unidos. Participantes atentaram, entretanto, para os amplos estoques mundiais e a forte competição no fornecimento do cereal. O vencimento julho recuou 2,75 cents (0,72%) e fechou a US$ 3,7675 por bushel.
As cotações chegaram a operar em forte alta pela manhã, após a divulgação do relatório semanal de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), e o vencimento julho chegou a avançar 4,50 cents, alcançando a máxima de US$ 3,84 por bushel. Segundo o governo norte-americano, exportadores privados venderam 867,9 mil toneladas de milho da safra 2014/15 na semana encerrada em 16 de abril. O volume é 48% maior que o apurado na semana anterior e representa alta de 68% na comparação com a média das últimas quatro semanas. Para embarque na temporada 2015/16, os EUA venderam 6,2 mil toneladas. O resultado superou a expectativa de analistas, que previam vendas totais de entre 350 mil e 750 mil toneladas.
Segundo participantes, a perspectiva de oferta global ampla influenciou os negócios. Ontem, o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) elevou em 10 milhões de toneladas sua estimativa de produção mundial de milho em 2015/16, para 951 milhões de toneladas.
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