O mercado futuro de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) voltou a repercutir as paralisações de caminhoneiros no Brasil. Os preços subiram depois que o acordo entre o governo e os motoristas não surtiu o efeito esperado e vários trechos de rodovias federais no País seguiam bloqueados. O vencimento maio, atualmente o mais líquido, subiu 15,75 cents (1,56%) e encerrou a US$ 10,2650/bushel, perto da máxima do dia, de US$ 10,27/bushel. O março avançou 16,25 cents (1,61%), para US$ 10,24/bushel, maior patamar de fechamento desde 9 de janeiro.
Após o impulso da manutenção da greve no Brasil, investidores que estavam vendidos cobriram posições com a proximidade do fim do mês, ajustando suas carteiras. Novas altas, todavia, só devem ocorrer se o movimento persistir. Ontem, reportagem do Broadcast informou que as propostas do governo para debelar a greve dos caminhoneiros sofrem forte rejeição tanto por sindicatos que participaram da negociação conduzida pelo Palácio do Planalto quanto por lideranças de motoristas autônomos. Minutos antes de o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, conceder entrevista coletiva na qual afirmou que o governo irá multar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por hora, individualmente, os caminhoneiros que bloquearem rodovias e que a Polícia Federal, a Força Nacional e a Polícia Rodoviária Federal vão encerrar novas paralisações, o Comando Nacional do Transporte lamentou em nota a criminalização do movimento. “Não é aplicando multas, tampouco colocando a polícia para bater em pais de família que as coisas vão se resolver”, assinalou o documento.
Ontem à noite, a Polícia Rodoviária Federal estimava mais de 80 interdições em rodovias federais. Segundo a mesma reportagem, o Planalto se vê em dificuldades porque não tem como interferir no que está efetivamente emperrando as negociações: o valor do preço do frete, pois seria uma interferência no mercado. Entre investidores na CBOT, a maior preocupação é de que compradores chineses deixem de buscar soja no Brasil em março para se voltar novamente para a oferta norte-americana, contrariando o movimento normal para esta época, quando a oleaginosa está sendo colhida no País. Entretanto, analistas ressaltam que a China, maior importador de soja, está com estoques amplos, o que pode impedir um movimento desse tipo.
Para o vice-presidente da Newedge Michael McDougall, o governo brasileiro adotou uma atitude mais firme, mas o mercado tem dúvidas sobre um recuo nas paralisações. “Mato Grosso continua com problemas de transporte”, destacou. “Obviamente os problemas dos últimos dias afetaram o recebimento de produto nos portos. E isso demora para recuperar.” Sobre o temor de migração da demanda chinesa, ele ressaltou que “por enquanto, não vemos sinais de que isso está acontecendo”. “Mas existe a memória dos problemas de logística no Brasil de alguns anos atrás, quando ocorreu a virada da demanda de volta para os EUA.”
SOJA
Os dados de exportação divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ontem chegaram a exercer pressão sobre a CBOT, mas não o suficiente para derrubar os preços. Os cancelamentos superaram as vendas de farelo da safra 2014/15 dos EUA em 6,4 mil toneladas na semana encerrada em 19 de fevereiro. Na semana anterior, as vendas haviam somado 316,6 mil toneladas. Para entrega em 2015/16, foram vendidas 91,4 mil toneladas. Analistas ouvidos pela Dow Jones previam vendas totais de 100 mil a 300 mil toneladas. Além disso, seguem circulando rumores de que os EUA estariam importando farelo da Argentina, porém ainda não há confirmação. No caso da soja em grão, as vendas somaram 459,2 mil toneladas do ciclo atual e 36,2 mil t da próxima temporada, dentro do intervalo esperado pelo mercado (350 mil a 650 mil toneladas) para as duas safras. Os embarques se mantiveram acima de 1 milhão de toneladas, embora tenham recuado 19% na comparação semanal.
Segundo McDougall, além da evolução da paralisação de caminhoneiros no País, outro fator que pode despertar a atenção de investidores nos próximos dias é o clima na Argentina. A expectativa é de que o tempo fique mais seco no sul do país, o que não favorece as lavouras ainda em desenvolvimento.
COTAÇÕES DO COMPLEXO SOJA NA BOLSA DE CHICAGO
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CBOT/Agência Estado
No mercado doméstico, a incerteza sobre como ficará o valor do frete quando as paralisações terminarem afastava alguns compradores das negociações no Centro-Oeste e Sul do Brasil. Outros, todavia, voltaram a negociar na expectativa do arrefecimento das interrupções em rodovias.
Em Mato Grosso, há compradores presentes no mercado, mas os prazos de embarque são para após o fim da greve. “O que está ocorrendo é que algumas empresas decidiram não arriscar fazer negócio por não saber o valor do frete que será cobrado logo após abertura desse bloqueio. Outras empresas entraram no mercado e continuam mostrando preços”, disse o corretor Gilmar Meneghetti, da Diversa. “Mas são lotes bem pontuais que estão saindo.” Compradores indicavam R$ 57/saca base Rondonópolis, com entrega até 15 de março e pagamento logo após a entrega. Nesse patamar, rodaram 600 toneladas ontem, 50 centavos acima dos níveis indicados no dia anterior. Produtores não estão aceitando negociar volumes grandes nesse nível de preço, mas se as cotações chegarem a R$ 60/saca, a negociação pode acelerar, na avaliação do corretor. Também havia propostas a R$ 54/saca em Primavera do Leste e R$ 51/saca em Sorriso e Lucas do Rio Verde. De acordo com o agente, a preocupação não é mais negociar em reais. Produtores querem vender lotes em dólar para pagar os custos de fertilizantes, principalmente, que são negociados na moeda norte-americana. “Estão pensando mais em travar em dólar que real.”
No Paraná, vendedores desejavam R$ 62/saca para retirada em Guarapuava no disponível, mas compradores indicavam R$ 59/saca e R$ 60/saca, temendo aumentos de até 20% nos preços do frete após o fim dos bloqueios. Algumas multinacionais não têm indicado valor de compra devido à insegurança sobre como fica o valor do transporte de agora em diante. Saíram mil toneladas entre quarta e quinta-feira a R$ 61/saca com retirada a a partir da metade de março e pagamento no mesmo mês, contou o corretor Beto Xavier, da Beto Agro. A colheita de soja na região já começou e o clima é considerado favorável: chove, mas não tanto que interrompa os trabalhos no campo.
Na Bahia, compradores indicavam R$ 58/saca, com retirada assim que os bloqueios terminarem, e R$ 60/saca, com retirada em abril e pagamento em maio, no oeste do Estado ontem, acima dos R$ 57/saca (spot) e R$ 58/saca (futuro), respectivamente, propostos na semana passada. “O disponível está parado, ninguém querendo fazer com medo de não embarcar”, salientou o corretor Pedro Fagundes, da Assessoria em Mercado de Grãos (Asmeg). A região começava a colher soja irrigada e precoce e o fluxo para fábricas e portos vinha acelerando. Mas atualmente o oeste da Bahia tem três vias com bloqueios de caminhoneiros. Esmagadoras da região temem não receber lotes com retirada programada para o início de março e existe o risco de interrupção do processamento. Os negócios que saíram esta semana foram para abril/maio, a R$ 60/saca. Rodaram cerca de 60 mil toneladas na região. Alguns produtores já venderam o volume necessário para quitar contas e agora pedem R$ 61/saca.
O indicador Cepea/Esalq, calculado com base nos preços em cinco praças do Estado do Paraná, terminou a quinta-feira em queda de 0,39%, a R$ 61,38/saca. Em dólar, o indicador ficou em US$ 21,33/saca (-0,70%). A moeda norte-americana fechou cotada a R$ 2,8780 (+0,31%).
EVOLUÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO FÍSICO DE LOTES
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MILHO
São Paulo, 27/02/2015 – O mercado de milho brasileiro voltou a registrar negócios, mas pontuais, na expectativa de um arrefecimento dos bloqueios de caminhoneiros em rodovias do País. As entregas, entretanto, serão realizadas apenas após o fim da greve, o que ainda não ocorreu. Participantes do mercado especulam que os preços possam recuar quando as manifestações terminarem. Um dos pontos que haviam sido acordados entre governo e caminhoneiros é a elaboração de tabela referencial de frete, e a expectativa é de que isso encarecesse o transporte de cargas. Para safrinha 2014/15, compradores seguem apresentando propostas para o quarto trimestre, mas produtores desejavam valores mais altos para negociar nesses prazos.
Em Mato Grosso, saíam negócios pontuais, com previsão de entregas para quando a paralisação terminar, explicou o corretor Gilmar Meneghetti, da Diversa. Compradores indicavam na quarta-feira R$ 19,50/saca em Rondonópolis e R$ 19/saca em Primavera do Leste, onde rodaram 900 toneladas com embarque após o fim do bloqueio e pagamento na sequência. O milho seria enviado a fábrica de ração do Sul do Brasil. No médio-norte de Mato Grosso, a pedida de compra estava em R$ 15,50/saca a R$ 16/saca.
Quanto à safrinha 2014/15, rodaram 16 mil toneladas a R$ 15/saca na quarta-feira com entrega em agosto em Sorriso e pagamento em setembro. Em Rondonópolis, havia propostas de R$ 19/saca a R$ 20/saca ontem, mas para embarque e pagamento em novembro, sem registro de negócios. “Produtores já venderam neste nível, agora querem mais 50 centavos”, assinalou Meneghetti. O agente estima que, nos últimos 30 dias, rodaram mais de 1 milhão de toneladas da safra que está sendo plantada a R$ 19/saca a R$ 20/saca em Rondonópolis, R$ 18/saca a R$ 19/saca em Primavera do Leste e Campo Verde e R$ 15/saca a R$ 17/saca no médio-norte. No Porto de Santos, a referência para compra chegou a bater em R$ 30,50/saca para entrega em setembro e pagamento em outubro esta semana.
No Paraná, a pedida de compra estava em R$ 24,50/saca em Guarapuava, patamar em que rodaram ontem 3 mil toneladas. A retirada será realizada assim que ocorrer a liberação da passagem em rodovias. O prazo de pagamento é 35 dias. No início da semana, os preços estavam em torno de R$ 23,80/saca. O entorno de Guarapuava registra vários bloqueios, o que tem atrapalhado a comercialização no spot. “Os armazéns estão ficando cheios. Há vendedores, mas eles não conseguem transportar”, disse o corretor Beto Xavier, da BetoAgro. Na região, cerca de 20% da safra de verão 2014/15 já foi retirada das lavouras. Chove com frequência, mas há períodos de sol, por isso a colheita não está sendo prejudicada. Para retirada em agosto e pagamento em setembro em Guarapuava, compradores ofereciam R$ 24,50/saca. Já para entrega no Porto de Paranaguá nos mesmos prazos, havia pedidas a R$ 29/saca.
Na Bahia, granjas indicavam R$ 26/saca no disponível no oeste do Estado, mesmo patamar em que rodaram 5 mil toneladas na semana passada. Alguns produtores, entretanto, pediam R$ 27/saca. Esta semana, não havia notícia de negócios, com exceção de lotes pequenos a R$ 27/saca, mas para consumo humano, com padrão de qualidade mais elevado. Granjas do Nordeste eram os principais interessados em comprar milho, mas a dificuldade de embarque freava a negociação para embarque imediato. Para entrega no segundo semestre, não havia pedidas de compra, com vendedores do oeste baiano evitando a comercialização futura. Produtores ainda falam de perdas no milho devido à estiagem e ao calor em janeiro, mas o clima está mais favorável na região. A previsão é de que as chuvas continuem na primeira quinzena de março, o que deve ser benéfico para as lavouras. A colheita baiana deve ocorrer em abril e maio, para os produtores que semeiam milho como principal cultura, e de maio em diante, para os produtores que fazem rotação com a soja.
O indicador Cepea/Esalq fechou em alta de 0,31%, a R$ 29,03/saca. Em dólar, o preço ficou em US$ 10,09/saca (estável). O dólar à vista fechou cotado a R$ 2,8780 (+0,31%).
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NO MERCADO FISICO
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Na Bolsa de Chicago, os futuros do milho fecharam em alta, apesar da redução das exportações dos Estados Unidos. Conforme o USDA, as vendas da safra 2014/15 somaram 715,8 mil toneladas na semana passada, queda de 23% ante o volume apurado na semana anterior. O vencimento maio avançou 4,75 cents (1,24%) e terminou a US$ 3,8850 por bushel. Entretanto, o resultado das exportações efetivas deu sustentação ao mercado. Os embarques alcançaram 865,1 mil toneladas na semana passada, incremento de 24% ante o volume reportado na semana anterior.
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