Senar GO: Safra 2021/2022: maior produção, maiores desafios

Projeções são de incremento de área e produtividade tanto para soja, quanto para o milho, que tem queda estimada em mais de 30% no Estado na segunda safra do ciclo 2020/2021

Novo recorde para safra de soja e recuperação na produtividade do milho são esperados para o ciclo 2021/2022. O cenário projetado por analistas, porém, também é de alerta quanto aos custos de produção, que, mais altos, vão demandar uma equação quase que perfeita em campo para que os resultados tanto da colheita quanto do ganho financeiro do produtor possam ser positivos.

Coordenador Institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado cita que houve grandes elevações no preço de fertilizantes e de alguns defensivos. “E isso fez com que o custo de produção se elevasse bastante, fazendo com que o produtor não tenha muito espaço para erro nesta safra, uma vez que se tiver algum erro de produção, colher abaixo de uma produtividade esperada, ele pode não ter o resultado econômico como ele espera”, destaca.

O consultor técnico da Associação dos Produtores de Soja, Milho e outros Grãos Agrícolas do Estado de Goiás (Aprosoja-GO), Cristiano Palavro, acrescenta que, por outro lado, a compra dos insumos para a primeira safra aconteceu mais cedo. “O que é um fator positivo, porque quem deixou para comprar no segundo semestre encontrou uma condição ruim”, diz. Ele cita que a safra passada teve custos baixos e preços bons do grão e, agora, o próximo ciclo começa com preços bons da soja, mas os custos se elevaram pelo menos 50% em relação à safra passada para quem deixou para comprar no segundo semestre, tendo casos de produtos, como fertilizantes, que subiram até mais de 100%, além de altas no diesel, energia elétrica, que também impactam. “É uma safra que tem riscos maiores, porque se tiver perdas produtivas ou, eventualmente, queda nos preços da soja até o final da safra, o produtor vai ficar com margens muito apertadas, porque o custo desse ano foi bem alto”, ressalta.

O produtor Rafael Pansani, da Fazenda Cabeceira do Piracanjuba, no município de Silvânia, foi um dos que anteciparam a compra dos insumos para a próxima safra. “Praticamente fechei todos meus custos em meados de março/abril, então consegui fugir um pouco dessa oscilação que está tendo com relação ao preço dos insumos, principalmente com adubo”, conta. Ante ao atual cenário, avalia que o produtor terá que “cada vez maximizar mais a utilização dos insumos e tentar o máximo possível fazer aplicações precisas”, além de tentar enxugar custos. “A alta do dólar ao mesmo tempo está sendo o herói e o bandido, porque ao mesmo tempo que o valor das commodities estão subindo e a gente está conseguindo negociar por um preço um pouco mais adequado aos custos, por outro lado os insumos dispararam”, pondera.

Também com lavoura em Silvânia, o produtor Kleyton da Silva Vale, da Fazenda Titolândia, informa ter comprado a maioria dos insumos para primeira safra com antecedência, no primeiro semestre. “E não tinha aumentado tanto [os preços]”. Ainda assim, ele projeta que terá aumento dos custos em relação à safra passada, mas diz que ainda fez conta para saber “de quanto”.

Leonardo Machado, do Ifag, destaca que, apesar de a maioria dos produtores terem antecipado suas compras de insumos, o quantitativo, porém, foi menor do que no ano passado, e acrescenta que uma das preocupações é quanto à entrega desses produtos. “Uma vez que a gente tem percebido que os principais fornecedores de insumos – a China é o maior – têm reduzido sua produção de fertilizantes, de defensivos, e isso pode afetar alguma disponibilidade de insumos aqui para nossos produtores. Então, temos que acompanhar com muita atenção”, pontua.

Kleylton Vale, que ainda não comprou insumos para a safrinha, vê o cenário como “uma preocupação”. “Não está tendo fertilizante, inclusive ainda estou esperando o meu [que comprou no primeiro semestre, para soja]”. Até 1º de outubro conta que havia recebido só parte do produto adquirido. “A empresa alega falta de matéria prima”, informa.

Área e produção

Apesar de um crescimento expressivo no custo de produção, Machado aponta que o Ifag estima que deverá ocorrer mais um crescimento na área plantada de soja este ano, algo próximo de 5% a mais. “Muito devido a áreas de pastagens que vão ser migradas para soja e algumas outras culturas, que o produtor plantava na primeira safra, que vão deixar de plantar para fazer soja”, explica. Soma-se a isso a questão econômica, que, segundo ele, tem feito os produtores apostarem na cultura. Quanto à produtividade da oleaginosa, o Ifag projeta que ultrapasse os 60 sacos por hectare, “e tenhamos uma produção, aqui em Goiás, recorde em relação aos últimos anos”.

Já segundo Palavro, a Aprosoja-GO também estima mais de 5% de aumento da área plantada de soja no Estado no ciclo 2021/2022, equivalente a cerca de 200 mil hectares a mais, com produtividade próxima à do ano passado. Confirmados esses números, a expectativa da entidade é de alta de 4% na produção comparada à safra passada, o que representaria superar 14 milhões de toneladas.

Segundo o 12º levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado em setembro deste ano, na safra 2020/2021 a soja foi cultivada em 3,694 milhões de hectares em Goiás, montante 4,2% acima que o da safra 2019/2020. A produtividade foi estimada em 61 sacas por hectare, e a produção, em 13,723 milhões de toneladas, alta de 4,3% na comparação com o ciclo anterior.

Já no 1º Levantamento da Safra de Grãos 2021/2022, divulgado no início de outubro pela Conab, traz estimativa inicial que a produção total de grãos em Goiás deve aumentar 21,1% na safra 2021/2022. O trabalho aponta que o volume de grãos produzidos deve saltar de 23,8 milhões de toneladas na safra 20/21 para 28,8 milhões de toneladas no novo ciclo, representando novo recorde para o Estado. Os cálculos para área plantada e produtividade também são amplamente positivos: expansão de 4,4% e 16,0%, respectivamente.

“Este primeiro levantamento da Conab para a nova safra mostra que o agronegócio em Goiás está cada dia mais fortalecido, com o nosso Estado apresentando crescimento superior à média nacional em todos os principais quesitos”, ressalta o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tiago Mendonça. O relatório da Conab aponta que, na safra 2021/2022, o Brasil deve crescer 3,0% em área plantada, 9,8% em produtividade e 13,2% em quantidade de grãos. “Com o trabalho conjunto de governos, entidades e empresas, o produtor está acreditando que é possível aproveitar a conjuntura favorável e produzir mais e melhor, isso é muito positivo para o Estado e para o País”, argumenta.

A soja segue como principal produto da pauta agro goiana. A produção da oleaginosa deve crescer 2,9% no Estado, atingindo 14,1 milhões de toneladas na safra 21/22. Com o resultado, Goiás mantém a quarta posição nacional entre os maiores produtores estaduais. A Conab estima avanços significativos nos volumes a serem produzidos em culturas como girassol (56,0%), milho (51,8%), trigo (39,9%), sorgo (26,6%) e caroço de algodão (22,9%). A expectativa é de produção total de milho de 12,8 milhões de toneladas na safra 21/22, o que mantém o Estado na terceira posição nacional. Já o sorgo deve fechar o novo ciclo com 1,1 milhão de toneladas, fazendo com que Goiás permaneça como maior produtor do grão no Brasil.

 “Na primeira safra, a soja é o carro chefe, dificilmente a gente vai ter uma cultura que possa competir com ela”, acrescenta Machado. Ele aponta que pode até haver um crescimento do milho, que também tem uma boa relação de preço, porém, acha “muito difícil” o produtor dispensar a soja para plantar o cereal na primeira safra.

Expectativas para produção de soja em Goiás

**Estimativas da Aprosoja-GO e Ifag

Plantio de soja em fase inicial

Neste ano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ampliou o prazo limite para semeadura de soja em Goiás. O novo calendário prevê possibilidade de iniciar o plantio em 25 de setembro de 2021 e encerrá-lo em 12 de fevereiro de 2022. Antes a data limite era 31 de dezembro.

O consultor técnico da Aprosoja-GO, Cristiano Palavro, informa que o plantio de soja já estava iniciando no final de setembro em algumas lavouras do Sudoeste e Sul do Estado, como Rio Verde, Mineiros, mas ainda não de forma intensa. “O produtor costuma aguardar a chuva consolidar um pouco mais”, cita. A projeção é de que a conclusão do plantio da oleaginosa no Estado ocorra até por volta de 10 de novembro na região Centro-Sul goiana e, no Centro-Norte, prossiga até final de novembro.

No caso dos produtores Rafael Pansani e Kleyton da Silva Vale, apesar de ambos cultivarem lavouras no Sudeste goiano, na região conhecida como Estrada de Ferro, o ritmo de plantio possui diferenças. Vale informou que iniciaria o plantio de soja em área de pivô, com 27 hectares, no dia 4 de outubro. No restante de 240 hectares onde cultiva soja sequeiro, previa iniciar a semeadura em 15 de outubro, “a depender da chuva”. Na safra passada, a média geral de produção na propriedade dele foi de 65 sacas por hectare. “Para a próxima safra quero colher acima dessa média”, diz.

Ele aponta que tem trabalhado para ampliar a produção. Informa que em 2020 cultivou seis variedades de soja ao todo e, neste ano, optaram por três delas, que foram as mais produtivas na safra passada. “Também estamos testando defensivos biológicos para controle de nematoides e apostando num clima melhor”, cita.

Pansani, que até final de setembro estava com “tudo pronto” para o plantio da safra 2021/2022, disse que só aguardava a chuva. A previsão do produtor era de que iniciaria o cultivo após 20 de outubro. “Tudo vai depender de chuva. Prefiro ter um pouco mais de segurança e não plantar no pó, e aguardar um índice pluviométrico um pouco melhor”, diz. Na propriedade, a soja será cultivada numa área de aproximadamente 450 hectares.

Para a safra 2021/2022, Pansani diz que está testando algumas variedades novas de soja, mais adaptadas à condição local, e a expectativa é de pelo menos manter a produtividade, podendo em algumas áreas, devido a essas variedades novas, até melhorar um pouco. “Mas tudo vai depender muito dos fatores climáticos que estão limitando bastante”. A previsão do produtor é de que a produtividade alcance em torno de uns 75 a 80 sacas por hectare.

Leonardo Machado, do Ifag, diz que ainda é muito cedo para poder falar de qualquer coisa em relação ao clima para a safra 2021/2022, mas, segundo ele, a expectativa é de que as chuvas se estabilizem agora em outubro. Ele informa que o produtor geralmente espera em torno de 70 a 80 milímetros de chuva para poder realizar o plantio de forma mais tranquila. “Isso deve ocorrer somente nesse mês de outubro”, diz. Além disso, cita ser esperado que as chuvas “não cortem” após o início, o que é prejudicial quando acontece. “A expectativa é que isso não ocorra e a gente tenha uma excelente safra”, comenta.

Comercialização

Tanto Rafael Pansani quanto Kleyton Vale optaram por não realizar vendas antecipadas da produção. Pansani diz que não trabalha com venda antecipada por achar “um pouco arriscado”, ainda mais na situação de câmbio instável como a atual. “Prefiro não negociar antecipadamente, prefiro colher e depois ver uma melhor condição para comercialização”, cita.

Vale, por sua vez, diz que geralmente realiza vendas antecipadas, antes de travar o custo, mas nesta safra informa que está esperando e “não vendeu nada”. Ele aponta que nos últimos quatro, cinco anos, geralmente as primeiras sacas vendidas saíram mais baratas, por isso, esse ano resolveu segurar um pouco mais para ver se faz uma venda melhor.

Cristiano Palavro, que também é consultor de mercado da Pátria Agronegócios, diz que as negociações antecipadas da safra estão em um ritmo mais lento em relação à média dos anos anteriores. Ele pontua ser um pouco difícil chegar a esses números, mas estima-se para o Brasil entre 30% a 40% da safra negociada antecipadamente e, para Goiás, que entre 25% a 30% da soja do ciclo 2021/2022 já tenham sido comercializadas. Ano passado essas médias (no final de setembro) eram de 50% no Brasil e havia estados com até 60% da safra negociada.

Quanto aos preços praticados nas vendas antecipadas, ele aponta que neste ano estão melhores. Exemplifica que, no primeiro semestre de 2020, a saca da soja estava sendo negociada na casa dos R$ 70. Neste ano, nesse período, ficou em R$ 140 a R$ 150, a saca. “Não é o topo do preço que atingiu os grãos disponíveis, que chegou a R$ 170. Mas começar a vender safra a R$ 150 por saca é interessante”. No caso do milho, diz que neste ano foi possível travar negócios antecipados em R$ 70 pela saca, enquanto ano passado as vendas antecipadas começaram a ser travadas com R$ 40 a saca.

Novo “fôlego” para o milho

Estimativa da Conab, divulgada em setembro, aponta uma produção total de milho no Brasil de 85,749 milhões de toneladas na safra 2021/2022, montante 16,4% menor que no ciclo anterior. Para Goiás, estima-se uma queda de 33,2% no mesmo comparativo, alcançando 8,431 milhões de toneladas. Com produção concentrada na segunda safra, o tombo da produção nesse ciclo em 2020/2021 foi ainda maior, de 20,8% nacionalmente e de 34,7% no Estado, com uma colheita estimada em 6,792 milhões de toneladas, ante 10,398 milhões em 2019/2020.

Coordenador Institucional do Ifag, Leonardo Machado aponta que a queda expressiva da produção do cereal ocorreu devido às condições climáticas desfavoráveis durante a segunda safra. “A gente teve condições de chuvas bem menores do que nos últimos anos, com regiões que tiveram geada, ataques severos de cigarrinhas, foi uma tempestade perfeita em relação ao prejuízo do milho. Tivemos todos os problemas que se poderia ter, fazendo com que nossa produtividade reduzisse”, cita. Machado informa que a estimativa do Ifag é de quase menos 40% de produtividade na segunda safra 2020/2021.

Com lavoura em Silvânia, o produtor Rafael Pansani diz que conseguiu colher em torno de 68 sacas por hectare do milho segunda safra, um volume abaixo do esperado. “Mesmo a gente plantando dentro da janela de plantio, ocorreu um pouco de falta de água na fase de enchimento de grão. Aqui na minha região eu tive problema e vários produtores em volta tiveram problemas com milho safrinha.” Para a segunda safra 2021/2022, ele espera melhores resultados, mas diz que vai depender do início do plantio. “Se a gente tiver condições climáticas favoráveis, [a expectativa é colher] em torno de uns 90 a 100 sacos [por hectare]”.

Machado, do Ifag, diz que o milho, como qualquer outra commodity, está no processo de valorização, tanto internamente quanto externamente. Internamente favorecido, ainda mais pelas questões cambiais. O atual cenário, segundo ele, faz com que projetem elevação na área plantada na segunda safra do cereal. “E, se tudo der certo, se plantar no período certo, se tiver chuvas condizentes com a cultura, teremos sim uma recuperação na produtividade e na produção, e o Brasil produzindo mais de 100 milhões de toneladas de milho. É o que a gente espera para a próxima safra”, cita.

Palavro diz que para segunda safra ainda é cedo para fazer muitos prognósticos. “Depende da janela de plantio da soja”. Segundo ele, plantando mais cedo a oleaginosa, abre-se uma perspectiva positiva, com área maior de safrinha. Porém, pontua ter o lado negativo do aumento de custos para quem ainda vai comprar insumos.

Apoio para os produtores

O gerente de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Goiás (Senar Goiás), Guilherme Bizinoto, informa que a assistência técnica oferecida pelo Senar é uma ação que favorece a tentativa de recuperar as perdas da safra passada. Ele explica que, via ATeG, o técnico orienta o produtor na preparação do solo, na estratégia de plantio, nas adubações, pensando no aumento drástico que teve em todos os insumos, além de orientar nos manejos por talhão de forma mais detalhada.

“É lógico que, como são culturas a céu aberto, as condições climáticas são decisivas, mas a assistência técnica é uma fonte de orientação de qualidade para o produtor”, diz. Bizinoto pontua que as orientações técnicas dependem muito da realidade de cada produtor.

Atualmente, segundo ele, são atendidos pela ATeG do Senar Goiás, na área de grãos, 58 produtores, em 11 municípios goianos, entre eles Ipameri, Silvânia e Rio Verde. O trabalho ocorre por meio da formação de grupos de produtores, por cadeia produtiva. “Os interessados procuram os sindicatos rurais, preenchem um termo de intenção de participação”, cita. Segundo ele, quando o grupo é formado (com entre 25 a 30 produtores), os sindicatos encaminham a solicitação, o Senar busca o técnico de campo no mercado, realiza o credenciamento da empresa desse profissional, fornece a capacitação da metodologia da ATeG e começa os atendimentos, que compreendem visitas mensais de quatro horas por produtor, durante 24 meses.

O produtor Rafael Pansani, que recebe a assistência técnica e gerencial do Senar há um ano, diz que tem trabalhado na parte de custos da fazenda e com a interpretação dos resultados apurados. “Já venho colhendo os frutos desta parceria. Hoje eu consigo diagnosticar os custos de cada operação na fazenda”, cita.

Fonte: Comunicação Sistema Faeg/Senar/Ifag