A disseminação da gripe aviária em importantes Estados produtores de soja dos Estados Unidos pressionou os futuros de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) por causa da perspectiva de redução da demanda por grãos para produção de ração.
A queda das importações chinesas de soja também mexeu com os preços, mas analistas ressaltaram que fevereiro e março não são meses em que as compras são tradicionalmente fortes. Nesta quinta-feira, investidores devem ficar atentos à nova greve programada por caminhoneiros no Brasil.
Ontem, o vencimento julho recuou 5 cents (0,51%) e encerrou a US$ 9,7175/bushel. Para o analista Giovani Damiano, da INTL FCStone, o maior fator de influência foi o problema da gripe aviária nos Estados Unidos. Existe a expectativa no mercado de que a demanda interna por soja para transformação em farelo e uso em alimentação animal possa ser prejudicada pela disseminação da doença em Minnesota, Iowa e Dakota do Sul.
Ontem, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou que o total de galinhas poedeiras infectadas com o vírus da gripe aviária em uma propriedade de Iowa é menor do que o inicialmente calculado. São 3,8 milhões de aves com a doença, menos que as 5,3 milhões estimadas anteriormente.
Ainda assim, persiste a preocupação com mortes de animais. “O setor avícola representa 50% da procura total por farelo”, explicou Damiano. “Isso pode causar impacto significativo na demanda interna nos Estados Unidos.”
O mercado também repercutiu a notícia de queda das importações chinesas de soja em março devido à possibilidade de enfraquecimento da demanda externa por produto norte-americano. O departamento de alfândega da China informou que o país asiático importou 4,49 milhões de toneladas em março, volume 2,81% inferior ao do mesmo mês de 2014. A China é o maior importador mundial da oleaginosa.
“Em dezembro e janeiro, os chineses importaram bem acima do ritmo de anos anteriores, níveis recordes”, disse o analista. “Fevereiro e março vieram um pouco abaixo. Mas não é sazonalmente um momento em que compram muito. Se as compras ficarem abaixo do ano passado nos próximos meses, aí, sim, começa a preocupar.” As compras chinesas costumam ser mais agressivas de abril a julho e depois no fim do ano, apontou Damiano.
Com a demanda no radar do mercado, os números do relatório semanal de exportações que o USDA divulga hoje devem atrair a atenção de traders. Analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires projetam vendas da safra atual e da 2015/16 de 50 mil a 300 mil toneladas, ante 538,8 mil toneladas na semana anterior.
Também nesta quinta-feira, a adesão a uma nova greve de caminhoneiros deve entrar no radar do mercado. Depois de mais uma rodada de negociações na tarde de quarta-feira, os caminhoneiros deixaram a reunião realizada na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciando uma nova greve da categoria para a partir da zero hora desta quinta-feira.
Os caminhoneiros querem uma tabela de custo que possam garantir um preço mínimo para o transporte de mercadorias, mas não houve acordo sobre o tema. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, alegou que é “inconstitucional” qualquer tipo de interferência do governo federal nesta questão, mas listou o atendimento de 15 reivindicações da categoria.
“Nossa avaliação é de que, só após ocorrer uma paralisação de fato, o mercado vai reagir”, explicou Damiano. “O impacto irá depender da sua extensão e duração.” Após os prejuízos causados pela greve de caminhões entre fevereiro e março, granjas e indústrias de carne se prepararam nas últimas semanas para a possibilidade de nova paralisação. “Consumidores tiveram um comportamento mais preventivo.”
Outra questão que pode voltar a influenciar as cotações é o clima nos EUA. Na segunda-feira, o USDA voltou a mostrar leve atraso no plantio de milho em relação à média dos cinco anos anteriores. A preocupação no momento é com migração de áreas, pois o produtor norte-americano tem certa flexibilidade para trocar soja por milho e alguns estão aguardando até o último instante para decidir. “O mercado deve ficar de olho no clima em abril e maio para ver se confirma migração de área ou não”, explicou o analista.
No mercado doméstico, a negociação de soja ocorria em ritmo fraco, com o recuo dos futuros na CBOT e do dólar ante o real.
No Paraná, era possível fechar contratos de R$ 61,50/saca a R$ 62/saca para retirada em maio e pagamento no fim do mesmo mês no entorno de Maringá. Na segunda-feira, havia propostas de até R$ 62,50/saca. Porém, não havia notícias de negócios nos dois dias. “Nesses valores, vendedores não querem negociar”, disse corretor local. Havia ofertas na quarta-feira de R$ 63/saca a R$ 63,50/saca na região.
No Porto de Paranaguá, havia chance de acordos a R$ 66,80/saca, para os mesmos prazos. O agente estima que a colheita na região já tenha sido concluída. Esta semana ele contou não visto novas pedidas de compra e venda para comercialização antecipada da safra 2015/16.
Em Mato Grosso, a negociação de soja perdeu força. Em Rondonópolis, tradings indicavam em torno de R$ 57,50 a saca com entrega no terminal ferroviário ou R$ 57 a saca para retirada em propriedade do município, mas produtores pediam valores acima de R$ 60/saca. Compradores do mercado interno, entretanto, ofereciam preços mais baixos, entre R$ 54 e R$ 55 a saca FOB. Segundo Wezer Lopes, da Mauá Corretora, não têm saído negócios expressivos de soja há alguns dias, mas são comercializados lotes pontuais todos os dias. “Alguns produtores aceitam negociar nesses níveis, quando precisam fazer caixa e uma trading oferece pagamento imediato, mas, no geral, o mercado está travado.”
Na Bahia, as negociações travaram nos últimos dias, contou Pedro Fagundes, da Assessoria em Mercado de Grãos (Asmeg). Segundo ele, o preço caiu desde a semana passada e produtores se retiraram do mercado. Ontem, compradores indicavam R$ 58/saca FOB em Luís Eduardo Magalhães, mas a ideia de vendedores ficava entre R$ 60 e R$ 61 por saca, patamar em que chegaram a ser fechados contratos na semana passada.
“Nesta semana, não chegou a sair compra nova de soja”, contou o corretor. Para negociação antecipada da safra 2015/16, a pedida de compra estava em R$ 63/saca, mas produtores desejavam entre R$ 65 e R$ 66 a saca. “No começo do mês, saíram volumes bons, a R$ 66/saca”, contou Fagundes.
O indicador de preços da soja Esalq, calculado com base nos preços do mercado disponível em cinco praças do Paraná, fechou em baixa de 0,65%, a R$ 62,79/saca. Em dólar, o indicador ficou em US$ 20,85/saca (-0,24%).
Fonte: Agência Estado