Tradição e novos conhecimentos se somam no campo durante curso em Pintópolis

Em busca de valorizar os conhecimentos que vêm do campo e contribuir com a geração de renda local, o Sistema Faemg Senar, junto ao Sindicato dos Produtores Rurais de São Francisco, capacitou um grupo de mulheres de comunidades rurais da cidade de Pintópolis que atua com a fabricação de produtos à base de plantas e ervas medicinais. O objetivo foi dar ainda mais qualidade ao que é produzido, ampliar os conhecimentos teóricos e práticos dessas pequenas produtoras rurais, além de reforçar a importância da manutenção dessa tradição da medicina alternativa, que é passada de geração a geração.

“Temos uma política nacional de medicina fitoterápica, que trouxe de volta a valorização desses conhecimentos. Através do uso seguro e eficaz dessas plantas medicinais, do conhecimento científico, para que tudo possa ser feito de forma segura e eficiente pela população, estamos gerando valorização e resgate cultural. As alunas relataram a importância dessa atualização de conhecimentos para realizarem o processo de forma otimizada, aproveitando melhor os fins medicinais de cada planta. Não é porque está sendo feito algo mais artesanal que será de qualquer maneira. A partir de agora todas terão ainda maior padrão de qualidade e segurança”, explica a instrutora do curso, Thaís Cristina Silva.

Durante o curso, as alunas tiveram acesso a instruções para preparo dos remédios caseiros; higienização dos frascos utilizados; cuidados com rotulagem; cuidados com os compostos utilizados no preparo, entre outros. Na parte prática, foram produzidos vários compostos, com base nas novas orientações e instruções técnicas.

Representante da Comissão de Mulheres do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pintópolis, Patrícia Soares dos Santos foi uma das produtoras rurais participantes do curso. Ela, que vive no assentamento quilombola Nova Nazaré, recebeu dos avós os conhecimentos para a produção dos remédios à base de ervas e plantas medicinais, o que ajudou a construir o projeto comunitário de valorização dessa tradição, chamado Espaço Saúde e Vida.

“Faz um ano que estamos atuando de forma coletiva com as plantas medicinais através da associação comunitária dentro do sindicato, no Espaço Saúde e Vida. Agora o curso agregou a esse processo que estamos construindo, de especializar este conhecimento passado de geração em geração. Nosso objetivo é valorizar a mão de obra dessas mulheres, resgatar a cultura antiga na região, gerar renda e mostrar para a comunidade a importância dessa medicina complementar”, destaca Patrícia Soares.

Valorização da natureza

Os remédios produzidos, como pomadas e chás, possuem diversos fins e trazem benefícios para várias condições de saúde. As ervas cidreira e capim santo são duas das matérias-primas mais comuns nas receitas. Elas são encontradas com facilidade nos quintais, onde as famílias plantam em hortas, e na própria natureza, da força do Cerrado norte-mineiro. Estes compostos cada vez mais ganham nova valorização no mercado da saúde.

“A mudança de hábitos das pessoas, com uma maior procura por produtos mais naturais, fizeram com que muitos voltassem mais o olhar para essa preocupação com a saúde. E foi uma lacuna, especialmente durante os anos mais críticos da pandemia da covid-19, que as plantas medicinais passaram a preencher, com maior crescimento deste mercado, que segue em expansão. E aqui no Cerrado temos uma valorização grande das plantas medicinais. Temos plantas já conhecidas, como barbatimão rica em compostos bioativos para cicatrização, que vem ganhando muito destaque”, relata a instrutora do Sistema Faemg, Thaís Cristina Silva.

Alessandra do Nascimento Santos faz parte do projeto que há um ano investe na produção dos medicamentos naturais na região. Descendente de Quilombolas, ela sempre conviveu com a medicina alternativa, como forma de cuidado maior com a comunidade rural onde vive. Ela que recebeu os conhecimentos dos familiares já repassa aos filhos e netos a tradição.

“Isso traz retorno da nossa cultura, resgate histórico de saber tratar a saúde naturalmente. Tanto o projeto quanto a capacitação são de extrema importância para a comunidade. Essas plantas naturais podem ser usadas no tratamento de diversas enfermidades e, por isso, precisamos conscientizar para a preservação da natureza, do Cerrado, zelar o que Deus deu. Meu neto já anda comigo pelas matas, aprendendo sobre a cultura ancestral. Nossos filhos cresceram com estes ensinamentos e os levam para onde quer que seja. Seguem difundindo a importância da natureza”.

“Sempre falo durante os cursos que todo o conhecimento que temos de plantas medicinais se completa. É o empírico tradicional dos povos, a vivência, junto ao científico. Através deste curso conseguimos exatamente essa união, valorizando o conhecimento dos participantes com a parte científica, com o que a Anvisa preconiza. Com isso esperamos ter, cada vez mais, o fortalecimento da cadeia de plantas medicinais, com mais espécies descobertas”, finaliza Thais Cristina Silva.

A maior parte dos produtos fabricados pelas mulheres da comunidade tem a venda realizada na própria região e municípios vizinhos, com os frascos rotulados para melhor descrição do uso correto de cada composto. O objetivo é realizar novas capacitações para que o projeto possa crescer mais.

Fonte:  Ricardo Guimarães