O trigo no Brasil é uma cultura viável e necessária no sistema de produção de soja e milho. A vantagem vem do ambiente de clima temperado/subtropical, que permite dois e até três cultivos por ano, na mesma área. Em regiões de clima temperado e frio, no inverno a renda vem desta única cultura e seus custos também devem ser todos absorvidos pela mesma. Numa análise simplista, o trigo no Brasil melhora a lucratividade da propriedade como um todo, ao dividir os custos fixos diretos, como funcionários, arrendamentos, impostos e outros. Esses custos estarão presentes independentemente de quantas culturas estejam envolvidas. Além disso, a cultura do trigo ainda gera benefícios indiretos na fertilidade química, física e biológica do solo, na supressão natural de pragas e na cobertura vegetal da lavoura.
Certamente, os benefícios vão além da redução de custos já que as culturas de outono e inverno, como o trigo, são necessárias no manejo de plantas daninhas, pragas e doenças. Elas desempenham a função de alternância de culturas no manejo da fertilidade, da supressão de pragas, plantas daninhas e doença, no sistema de produção de culturas de verão. Segundo o engenheiro agrônomo e melhorista da Biotrigo Genética, André Cunha Rosa, o investimento em programas de manejo que envolvam a diversificação de culturas, especialmente com a inclusão do trigo, melhora a sustentabilidade do negócio. “Um dos maiores benefícios é a possibilidade de utilizar a mesma estrutura física e de pessoas que as culturas de soja e milho, reduzindo o impacto dos custos fixos sobre as culturas de verão, melhorando assim, a rentabilidade da propriedade como um todo”, ressalta.
Considerando o manejo da cultura, a inserção do trigo permite ainda o aproveitamento dos investimentos efetuados realizados no solo após a colheita, já que eles são reabsorvidos pela cultura seguinte, como a soja. “O agricultor precisa se dar conta de que é necessário melhorar o manejo da lavoura para controlar as invasoras com os herbicidas disponíveis hoje e não esperar por uma molécula milagrosa, que a indústria não tem previsão de lançar. Uma das ferramentas que traz um bom resultado é a introdução do trigo no manejo da lavoura para controlar de forma barata e eficiente estas invasoras”, complementa Rosa.
A complexidade no manejo dos fatores que determinam a produtividade exige mudanças nas práticas tradicionais de produção de trigo. A escolha da cultivar adequada ligada a um bom manejo possibilita aumentar a renda no inverno em anos adequados e não perder em anos atípicos. Segundo o Engenheiro Agrônomo Dirceu Gassen, o manejo atual permite alcançar as produções até hoje obtidas. No entanto, para manter-se na atividade aumentando as produções, é necessário mudar em todos os processos de produção da lavoura. “Não haverá evolução em agricultura sem incorporação significativa de ciência, de conhecimento e de tecnologia”, afirma.
Estudos realizados com agricultores que apresentam produções médias elevadas e rentabilidade na produção de trigo destacam o capricho nos processos, a execução de práticas na hora certa, a assistência técnica e pessoas com paixão pela agricultura, como diferencial na produtividade de lavouras. “Sempre haverá possibilidade para a redução nos custos e de reavaliação nos investimentos. Entretanto, é necessário considerar que produzir mais demanda investir em tecnologia e tomar decisões com base em dados gerados na lavoura”. Conforme Gassen, a análise da produção por região evidencia que os melhores agricultores produzem 40% acima da média geral, com as mesmas cultivares, clima e solo. “Adicionalmente, as manchas de alta e baixa produção têm custos semelhantes – evidenciando que a melhor solução não passa, necessariamente por maior investimento, como se costuma imaginar”, ressalta.
Semeadura e o potencial de grãos
Gassen explica que as perdas maiores nos processos de produção de trigo ocorrem nas falhas de semeadura e na quantidade elevada de sementes agrupadas, gerando plantas dominadas e incapacidade de compensação nas fases vegetativa e reprodutiva de trigo. “A meta de produção de trigo deveria ser de 400 espigas/m2. A quantidade de sementes usada na semeadura, em geral, é superior à meta desejada de espigas por unidade de área, sem contar com afilhos. Já a semeadora deveria posicionar as sementes entre 3 e 4 cm de profundidade e espaçamento de 1,5 cm entre plantas para distribuir 400 espigas/m2, com espaçamento de 17 cm entre as fileiras de semeadura”, detalha.
A fertilidade de solo e a aplicação de nutrientes é outro fator crítico que limita o potencial de produção. “É necessário considerar que a estimativa de aproveitamento dos fertilizantes aplicados na lavoura é de 50%. Assim, na composição de 4,5 toneladas de grãos de trigo é necessário aplicar aproximadamente 250 kg de ureia, 400 kg de uma fórmula de K2O, a 30% e P2O5, a 15%”, explica.
Já na adubação, orienta que deve ser planejada no sistema de produção. “Desta forma, se reduz o risco de perder os nutrientes com boas práticas agrícolas ou no caso de frustração de safra, pois os minerais são componentes da biomassa vegetal e serão liberados na mineralização do material orgânico”.
Depois da semeadura com qualidade e a adubação necessária para a meta de 16 mil grãos/m2 (400 espigas com 40 grãos), é necessário destacar a importância do índice de área foliar (IAF), para garantir o peso e a qualidade de grãos. Até 1986, quando a média de produção de trigo era de uma tonelada por hectare e o desafio era produzir 1,5 t/ha, difundia-se a importância da folha bandeira, com a contribuição de 80% no peso de grãos por espiga.
Hoje, com metas de 4 a 5 t/ha é necessário destacar que a folha bandeira em 400 colmos/m2 gera 1 m2 de área foliar, enquanto, a necessidade de IAF para pleno enchimento de grãos é de 4:1. Assim, a meta de área foliar deve manter no mínimo três folhas sadias, até o fim da fase de enchimento de grãos, para garantir rendimentos elevados de grãos de trigo.
Segundo Gassen, os preços de grãos são definidos pela composição da oferta e da demanda, mas a rentabilidade do agricultor é determinada pela eficiência nos processos de manejo para altas produções e gestão dos investimentos. Cabe ao agricultor, junto com seu assistente técnico, melhorar a qualidade nos processos de manejo que definem os componentes de rendimento e manejar as plantas para aumentar a produção e gerar rentabilidade no negócio. “Os componentes de rendimento de trigo compreendem 400 espigas/m2, com 40 grãos/espiga e 40 g de peso de mil grãos. A combinação dessas variáveis resultará em 6,4 toneladas por hectare, enquanto os rendimentos médios são de 2,5 t/ha”, estima.
A qualidade da semente e do processo de semeadura, combinados com a proteção, definirão a emergência e o estabelecimento de plântulas. Duas semanas depois a planta definirá o número de afilhos e o potencial de espigas/m2. A área foliar sadia, contendo nutrientes para encher grãos deve ser de três folhas sadias por espiga até o enchimento pleno dos grãos.