AsSsAN Cículo, da UFRGS, e Instituto Fome Zero pretendem auxiliar nas políticas públicas de combate à fome e à desnutrição. O instituto tem a liderança do ex-diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva
“Se nós não alcançarmos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030, nós poderemos estar entrando numa rota irreversível, que ameaça a própria história da humanidade”, declarou o ex-diretor-geral da FAO, professor José Graziano da Silva ao apresentar o Instituto Fome Zero em entrevista ao podcast “Que tal um mate?”. O instituto firmou uma parceria de trabalho com Círculo de Referência em Agroecologia, Sociobiodiversidade, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, o AsSsAN Círculo, ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objetivo é promover a Segurança Alimentar e Nutricional como estratégia de política pública para o enfrentamento dos desafios da atual sindemia, à qual a humanidade está exposta, que se caracteriza pelas pandemias da desnutrição, obesidade e mudanças climáticas.
Para a coordenadora do AsSsAN Círculo, Gabriela-Coelho-de-Souza, uma política pública de enfrentamento à fome deve priorizar a Segurança Alimentar e Nutricional. “O nosso trabalho tem sempre o olhar voltado à sociobiodiversidade, ao manejo sustentável dos ecosistemas nativos, a partir da concepção de conservação pelo uso, sendo essa uma forma de criar e gerar renda para as comunidades”, ressaltou. Num primeiro momento, o AsSsAN Círculo vai apoiar na divulgação dos objetivos do instituto, junto aos municípios e territórios rurais, nos quais já vem atuando. “Além disso, pretendemos contribuir no assessoramento aos municípios e estados para a implantação do Sistema Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN)”, completa Gabriela.
Segundo o professor Graziano, a partir de 2003, a implementação do Programa Fome Zero e as políticas de transferência de renda elevaram o Brasil à condição de primeiro dos grandes países em desenvolvimento a deixar o Mapa Mundial da Fome, já em 2014. No entanto, menos de seis anos depois, o país retrocedeu em seus níveis de segurança alimentar e nutricional. Com isso, o Brasil voltou a integrar a lista dos países em que a fome é considerada um problema estrutural, situação que deverá se agravar com a COVID – 19 e os seus efeitos, especialmente para as populações mais pobres e vulneráveis.
“O Instituto Fome Zero (IFZ) nasce para manter essa bandeira da erradicação da fome e com o propósito de lutar de forma permanente com iniciativas em benefício da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil e junto à comunidade internacional. Coloca-se, ainda, a missão de preservar a história do combate à fome no Brasil e desenvolver estudos, pesquisas, seminários e troca de experiências que possam retomar o papel de pioneirismo e liderança do nosso país nesse tema”, salienta Graziano.
O AsSsAN Círculo coordena o comitê técnico científico da Plataforma de Gestão do Conhecimento em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Plagesan). Essa rede nacional de pesquisa está sendo criada junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e será abrigada pela UFRGS, por meio do AsSsAN Círculo. Essa plataforma traz dados sobre Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e a Sociobiodiversidade em diferentes níveis, pensando em todo o Brasil, nos biomas, nas regiões, nos estados e nos municípios. “O nosso desafio junto ao instituto, através do compartilhamento de dados e indicadores, é chegar nos grupos locais, porque muitos desses grupos são povos de comunidades tradicionais, povos indígenas, migrantes, ou seja, públicos que se encontram em maior estado de fragilidade, vulnerabilidade e insegurança alimentar e nutricional”, concluiu a professora Gabriela.
Fonte: Por Silvana Granja