Zarc aponta 80% de chance de sucesso para plantio de arroz irrigado em grande parte do Tocantins

Uma atualização recente do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) aponta que, no período de 1º de outubro a 20 de novembro, a chance de sucesso do plantio de arroz irrigado no Tocantins é de 80%, considerando os efeitos do clima. O estado é hoje o terceiro maior produtor nacional dessa cultura e o mais proeminente da Região Norte. O Zarc é uma ferramenta fundamental para auxiliar os produtores tocantinenses na gestão de riscos e contribuir para expandir a área de cultivo, tanto em áreas de várzeas como em plantios irrigados em outras áreas.

Atualmente, cerca de 20% do arroz brasileiro é produzido em ambiente tropical, com destaque justamente para o Tocantins, que responde por cerca de 6% do total nacional. Os demais 80% são cultivados em condições subtropicais, especialmente nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, os dois primeiros do País.

A produção em ambiente tropical é importante porque, além de facilitar a logística de distribuição para os estados do Norte e do Nordeste, diminui os riscos de oferta causados por impactos de fenômenos climáticos severos no ambiente subtropical. São, portanto, locais que se complementam em termos de fortalecer a produção nacional e, sobretudo, a segurança alimentar dos brasileiros.

Fatores climáticos são os que mais influenciam a produtividade em diversas culturas agrícolas; no caso do arroz, não é diferente. Na região sudoeste do Tocantins, foco do estudo, as variáveis climáticas que mais limitam a produção do arroz irrigado são a luminosidade e as altas temperaturas.

A época ideal de semeadura, uma das principais informações disponibilizadas pelo Zarc, tem papel fundamental como prática de manejo que reduz os riscos climáticos. Isso ocorre porque, seguindo as orientações, o produtor rural aumenta as chances de que as fases consideradas críticas ou sensíveis da planta não coincidam com o período de maior frequência dos fenômenos climáticos adversos.

Como é feito o zoneamento

As indicações do Zarc envolvem um trabalho criterioso e complexo. Segundo Balbino Evangelista, geógrafo e analista de pesquisa na Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), o trabalho “exige equipamentos sofisticados e técnicas avançadas de análises de dados”.

As informações e dados necessários envolvem os sistemas de produção de arroz, as cultivares adaptadas e os respectivos ciclos de desenvolvimento, a necessidade de água, as temperaturas ideais para cultivo, as características dos solos (químicas, físicas e hídricas) e, sobretudo, uma longa série de dados climáticos, com destaque para chuva e temperatura.

ORYZAv3 é um modelo de simulação do crescimento, do desenvolvimento e da produtividade da cultura do arroz que tem sido usado no Brasil com acurácia. Ele foi recentemente adotado nos estudos de Zarc pelo seu bom desempenho, já que gera simulações precisas sobre a realidade do campo.

É importante salientar que, no processo de calibração do modelo para que ele faça a simulação do desenvolvimento e do rendimento do arroz irrigado, não se consideram ocorrências de deficiências hídrica e de nutrientes, nem estresses bióticos durante o cultivo. Ou seja, a pesquisa admite e trabalha com o cenário em que o produtor vai adotar as tecnologias e as práticas recomendadas, a exemplo do controle de pragas e doenças e da oferta adequada tanto de água como de nutrientes.

Pela parametrização do modelo, obtêm-se os coeficientes de uma cultivar usando-se dados observados em experimentos de campo, a exemplo dos índices de produtividade. Nessa pesquisa, foram usados dados de ensaios realizados em Goianira (GO) e na região de Formoso do Araguaia (TO) para parametrizar o ORYZAv3 na simulação da BRS Catiana, uma das principais cultivares de arroz da Embrapa.

O arroz no Tocantins

O Tocantins é o terceiro maior produtor de arroz do Brasil, atrás apenas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A colheita da safra de arroz 2023/2024 foi finalizada e a estimativa é que sejam alcançadas 619 mil toneladas com o grão, um aumento de cerca de 19% em relação à safra anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Esse montante é obtido, principalmente, em sistema irrigado em cerca de 100 mil hectares, o que corresponde a aproximadamente 95% da área total plantada com arroz no Tocantins. Os principais municípios produtores são Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão. A produção abastece o mercado interno e estados vizinhos das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Rodrigo Sérgio, analista da Embrapa Arroz e Feijão (GO), estima que em torno de 88 mil hectares (90% da área total com arroz) no Tocantins sejam plantados com sementes geradas pela Embrapa. Oito cultivares com a genética da empresa são importantes para a orizicultura do estado. Em relação ao cultivo em sistema irrigado, destacam-se a BRS A706 CL, a BRSA705, a BRS A704, a BRS Catiana e a BRS Pampeira. No que diz respeito ao sistema de produção de terras altas, as principais cultivares são a BRS A504 CL,a BRS A502 e a BRS Esmeralda.

A relevância do papel desempenhado pelas cultivares da Embrapa no Tocantins emergiu nos últimos cinco anos e, conforme o analista, reflete o trabalho de melhoramento genético do arroz que foi sendo aprimorado ao longo de mais de quatro décadas e remonta também à história de projetos de irrigação, como o Projeto Rio Formoso (1979), de sistematização de extensas áreas de várzeas.   

“O Tocantins, que tem uma história de produção a partir da abertura de áreas irrigadas, possui hoje entre 100 mil e 120 mil hectares para o plantio do arroz, sendo a Lagoa da Confusão o principal produtor. Há ainda potencial para alcançar 300 mil hectares de várzeas tropicais. No passado, no início desse processo, faltava genética adaptada à região e é essa genética que foi gerada pela pesquisa que está fazendo a diferença atualmente”, pontua Sérgio.

Ele lembra que, nos primórdios do cultivo irrigado de arroz no Tocantins, as cultivares plantadas vinham da Região Sul e possuíam uma genética adaptada para o ambiente subtropical, mas não estavam aprimoradas para a orizicultura local. Com o trabalho de melhoramento genético específico para as condições tropicais, começaram a surgir cultivares mais produtivas para essas regiões, sendo que um dos diferenciais desse trabalho foi o desenvolvimento de resistência a doenças.  

“Para citar apenas a principal doença, a brusone, o Tocantins é um ótimo hotspot (local de intensa pressão da doença) para teste. Se existem 64 raças de brusone mapeadas, 62 ocorrem lá. Por isso, buscar incorporar resistência genética nas próprias cultivares é sempre uma prioridade em ambiente tropical e esse trabalho se reflete hoje com materiais mais resistentes.

Fonte: Agência de Notícias Embrapa