Maria Conceição Pessoa, Jeanne Marinho-Prado e Luiz Alexandre de Sá, pesquisadores do Laboratório de Quarentena “Costa Lima” da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) disponibilizaram estudos sobre avaliação do potencial desenvolvimento de Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) em cultivo de soja na região de Barretos – norte do estado de São Paulo. O Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 63 está disponível para acesso e download (link ao lado).
O objetivo foi avaliar o potencial desenvolvimento do inseto considerando as necessidades térmicas de suas diferentes fases de desenvolvimento, as características do cultivo de soja e as condições climáticas predominantes no município de Guaíra, localizado na região administrativa de Barretos. A região norte do estado está exposta à potencial dispersão de H. armigera proveniente de infestações já relatadas em Goiás e tem importância significativa no setor agropecuário paulista. Foi escolhido por ser grande produtor estadual de soja e pela sua proximidade aos outros municípios com cultivos hospedeiros preferenciais da praga, tanto na regional administrativa de Barretos, como na de Franca, com destaque para a importância da regional administrativa de Barretos que abrange 19 municípios (cerca de 3,3% do território estadual) responsáveis por 0,9% dos empregos formais do estado.
A agropecuária da região participa com 5,6% do total estadual deste segmento, empregando 7,6% da mão de obra estadual desse setor. Entre seus principais cultivos destacam-se a cana-de-açúcar, a laranja e a soja, muito embora tenha milho, seringueira e outras fruteiras (outras espécies de Citrus sp., goiaba e manga).
Os resultados indicam potencial para o desenvolvimento de três gerações completas de H. armigera durante o ciclo da planta, com pupas da quarta geração ainda em desenvolvimento no solo.
Observou-se também o tempo de duração de outras gerações do inseto após o encerramento da colheita, passíveis de ocorrer caso mantidas as plantas de soja tiguera ou guaxa; que favorecem a permanência do inseto no campo e sua posterior migração para colonizar cultivos de soja tardios e de milho safrinha. O ciclo ovo emergência do adulto de cada geração completa-se praticamente dentro de um mesmo mês até a 6ª geração do inseto, onde foi observada a existência de um mesmo padrão de tempo de desenvolvimento das fases de ovo, lagarta e pupa do inseto até a sexta geração, diferenciados daqueles observados para larvas e pupas das 7ª e 8ª gerações.
O grande potencial de impacto da praga em diversos cultivos, principalmente em tomate, algodão, milho, soja e feijão já foram constatados, após detectada sua presença nos estados da Bahia, Goiás e Mato Grosso em 2013, danos estes da ordem de milhões de reais. Desse modo, estudos do comportamento de H. armigera em condições que retratem características nacionais, são imprescindíveis para apoiar as estratégias de Manejo Integrado de Pragas locais, acredita Maria Conceição. Outros trabalhos foram realizados pelos mesmos pesquisadores do LQC/Embrapa Meio Ambiente para a avaliação do potencial desenvolvimento de H. armigera em cultivos de soja, milho, algodão, feijão e tomate, considerando aspectos climáticos do sudoeste do estado de São Paulo, outra grande região produtora. Esses trabalhos já foram apresentados em eventos técnico-científicos e encontram-se disponíveis para consulta na forma de resumo na Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (www.bdpa.cnptia.embrapa.br/consulta/ )
Acrescenta-se ainda que as estratégias de controle também requerem ações preventivas à sua maior disseminação e estabelecimento em áreas não infestadas, entre outras ações. Os danos e a facilidade de dispersão do inseto reforçam a necessidade de que seja comunicada aos órgãos estaduais locais, responsáveis pela defesa fitossanitária, toda suspeita da presença de H. armigera em propriedades brasileiras, para que o Mapa seja informado para realizar a coleta do material in loco e o encaminhar para identificação em laboratório, credenciado pelo ministério , para a confirmação da presença ou não da praga.
“Conhecer as exigências térmicas das diferentes fases de desenvolvimento de insetos possibilita inferir o efeito de diferentes temperaturas sobre o seu ciclo de desenvolvimento e, consequentemente, prever a disponibilidade de gerações esperadas para diferentes localidades, além de subsidiar informações para a utilização de estrategias de controle biológico em períodos mais favoráveis à presença de fases preferenciais do hospedeiros”, continua Maria Conceição.
Desse modo, o acompanhamento dessas gerações é importante, tanto para a identificação do padrão de desenvolvimento do inseto em períodos climáticos diferenciados, quanto como estratégia para a sensibilização dos produtores para a importância da destruição de restos culturais, dada a possibilidade de dispersão da área de cultivo principal para outros locais, inclusive de municípios vizinhos.
Por: Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente