Bernard Mallet, diretor regional do Cirad, Centro de Pesquisa Agronômica, e representante do órgão no Brasil, explica como clima e agricultura se afetam mutuamente. “Para começar, a agricultura depende muito do clima porque, como sabemos, as plantas crescem graças ao sol, graças à água, então o clima é particularmente importante. Mas nesta época de alterações climáticos, a agricultura pode ser vítima, com modificações na produção agrícola e atraso na temporada de produção”, afirma. “Mas, ao mesmo tempo, a agricultura e a pecuária são emissoras gases de efeito estufa. Então é uma relação de duplo sentido.”
Segundo Mallet, o governo francês, levando em conta os problemas relacionados à mudança climática, promove uma transição rumo à agroecologia. “A França quer que a agricultura continue a ser produtiva e permita que os agricultores vivam bem, mas que, ao mesmo tempo, provoquem menos impacto sobre o meio ambiente e emitam menos gases de efeito estufa.”
O diretor regional do Cirad diz que a agricultura brasileira também avança para a agroecologia. “O Brasil tomou medidas importantes, tanto em nível de governo como em nível de pesquisa, com a Embrapa, que desenvolveu o plano ABC, Agricultura de Baixo Carbono, com medidas que vão também na direção da agroecologia. Há o desejo de uma agricultura que seja economicamente importante e produtiva, mas com menos impacto no meio ambiente.”
Produtos orgânicos
Seguindo a linha agroecológica, os produtos orgânicos têm um setor especial dentro do salão e se tornam cada vez mais populares no país, como ressalta Elisabeth Mercier, diretora da Agência Francesa para o Desenvolvimento e a Promoção da Agricultura Orgânica.
“Em 2014 os consumidores residentes na França confirmaram o seu interesse pelos produtos orgânicos. No total, o crescimento no consumo foi de 10% em relação a 2013. Isso mostra um movimento que vem crescendo ao longo dos anos. A compra de produtos orgânicos dobrou de 2007 a 2012, e a tendência continua”, diz. “O setor agrícola também se desenvolve para atender a essa demanda. Houve um aumento das áreas cultivadas e do número de produtores e processadores com o compromisso de colocar os produtos no mercado à disposição dos consumidores.”
Os números, que Elisabeth revela com orgulho, impressionam: atualmente na França, há mais de 1,1 milhão de hectares cultivados organicamente, 25,5 mil fazendas e 13 mil processadores. “É um setor que gera muitos empregos. Temos mais de 63 mil empregados nas fazendas orgânicas e 27 mil processadores e distribuidores, o que soma mais de 90 mil empregos diretos, além dos indiretos, como nos estabelecimentos mistos, por exemplo.”
Vacas, porcos e ovelhas
Mas nem só de política agrícola-ambiental vive o salão. O setor dedicado aos animais, que somam mais de 4000 entre touros, vacas, porcos, ovelhas, cabras e galinhas, é um dos mais populares entre o público. Este ano, a estrela da área dedicada à pecuária, eleita a embaixatriz do evento, é a vaca de pelo acaju Filouse, da raça Rouge Flamande. “É um grande orgulho para nós criadores, para a raça, porque a coloca em evidência. Mas também as raças locais e regionais de toda a França”, afirma o criador Dominique Macke, dono do animal.
O Salão Internacional da Agricultura, que conta ainda com áreas especializadas em jardinagem, cachorros, cavalos, produtos dos territórios ultramarinos franceses e gastronomia mundial – incluindo uma churrascaria brasileira – vai até o dia 1° de março.