Na sexta-feira (17), foi realizado na Embrapa Cerrados Dia de Campo onde foram apresentados dois novos capins da espécie Panicum maximum: BRS Tamani e BRS Zuri. Cerca de 80 pessoas estiveram presentes e percorreram as quatro estações do evento. Uma delas foi o produtor familiar Lúcio Pereira, vice-presidente da Cooperativa Agropecuária de São Sebastião (COPAS). “Principalmente os pequenos produtores precisam de orientações como as que são passadas nesses eventos”, afirmou. Opinião compartilhada também pelo produtor de leite do Núcleo Rural Tabatinga, Paulo Horta. “Hoje em dia o produtor de leite também tem que ser agricultor, não tem como ser diferente”, afirmou o pecuarista, considerado referência na região.
A primeira estação do Dia de Campo foi de responsabilidade da pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Liana Jank. Foi essa Unidade, localizada em Campo Grande (MS), a responsável por coordenar as pesquisas de seleção e melhoramento genético envolvendo as duas cultivares. Foram abordados diversos aspectos como a origem africana dos dois materiais, como e quando foram feitos os trabalhos de pesquisa e as características gerais de cada um deles: BRS Zuri – cultivar de porte alto e folhas largas, com alto grau de resistência a mancha foliar e resistente à cigarrinha das pastagens; e BRS Tamani- cultivar de porte baixo com folhas finas de alta qualidade, alto perfilhamento e, também, resistente às cigarrinhas das pastagens.
A estudiosa também apresentou as principais comparações feitas entre os dois novos capins com outras cultivares de Panicum maximum. Segundo ela, a BRS Zuri apresenta de 10 a 12% mais produtividade que as cultivares Tanzânia e Mombaça. Possui folhas e colmos mais largos, espiguetas mais claras e sementes maiores. No caso da BRS Tamani, quando comparada com a cultivar Massai, proporciona cerca de 11% de aumento no ganho de peso individual de bovinos de corte. A pesquisadora também apresentou os resultados das avaliações agronômicas feitas em seis regiões do país, incluindo a Embrapa Cerrados, localizada em Planaltina (DF).
O manejo e o desempenho animal em pastagens de BRS Tamani e BRS Zuri foram os assuntos das duas estações seguintes. A palestra sobre a BRS Tamani foi apresentada pela pesquisadora da Embrapa Cerrados Giovana Maciel. Além de repassar informações sobre as características gerais da nova cultivar e como foram realizados os ensaios de pastejo na Embrapa Cerrados nos últimos três anos e meio, ela também apresentou as recomendações que devem ser seguidas pelos produtores na hora do plantio e no momento do pastejo de estabelecimento, que deve ser leve e realizado de 70 a 90 dias após o plantio. “Essa prática possibilita a entrada de luz na base da touceira e, com isso, ocorre o estímulo para aumento do perfilhamento e, consequentemente, da produção”, explicou.
Ao final, a pesquisadora apresentou algumas vantagens da BRS Tamani em relação a outros capins: facilidade de manejo devido ao porte baixo, alta produção e proporção de folhas, elevada cobertura do solo, melhor valor nutritivo que o capim Massai, resistente à cigarrinha das pastagens e boa opção para diversificação e intensificação da pecuária de corte no Cerrado. Ela, no entanto, fez um alerta. “Trata-se de um material muito bom, mas o pecuarista deve avaliar as condições e características de sua propriedade e de seus animais, só depois decidir ou não por utilizá-lo”, enfatizou. De alto valor nutritivo, a cultivar é indicada para pastagens manejadas intensivamente e estabelecidas em solos bem drenados de média a alta fertilidade.
A palestra sobre a BRS Zuri ficou a cargo do pesquisador da Embrapa Cerrados, Gustavo José Braga. Ele apresentou as características gerais da cultivar e os resultados comparativos da BRS Zuri com as três principais cultivares de Panicum maximum cultivadas no país (Tanzânia, Mombaça e Massai). Foram abordados os resultados de ganho de peso e taxa de lotação em três ensaios conduzidos pela Embrapa em Rio Branco (AC), Campo Grande (MS) e Planaltina (DF), respectivamente.
“Em todos os três ensaios a BRS Zuri apresentou um bom desempenho e superou os demais materiais”, afirmou o pesquisador. Uma preocupação, segundo ele, foi avaliar se o material de alta produtividade e alto valor nutritivo era muito exigente com relação à fertilidade do solo. “Chegou-se à conclusão, no entanto, que as exigências em nutrição mineral da BRS Zuri são semelhantes às das demais cultivares de Panicum maximum, especialmente em relação ao capim Mombaça”, informou.
O pesquisador também apresentou as recomendações que devem ser seguidas pelos produtores no momento do plantio e durante o estabelecimento da pastagem. Ele fez uma ressalva, no entanto, ao uso da BRS Zuri. “Por seu porte alto e intenso crescimento de hastes, não é indicada para diferimento de pastagem ou feno em pé, que é quando uma determinada área da propriedade é vedada no período das chuvas, como forma de garantir o fornecimento de forragem durante a seca”, explicou.
O Dia de Campo foi encerrado com a palestra do gerente-executivo da Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), responsável pela comercialização das sementes, Marcos Roveri. Ele repassou informações sobre a associação, fundada em 2002, e a parceria firmada com a Embrapa. “Trata-se de uma cooperação técnico-financeira. Não apenas compramos o produto final, participamos de todo o processo de produção das sementes”, explicou.
De acordo com o gerente da Unipasto, um dos objetivos da associação é oferecer ao mercado novas cultivares de forrageiras. “O cenário atual é de risco por conta da baixa diversidade de forrageiras. Hoje, mais de 50% das áreas de pastagens do país são cultivadas com a cultivar Marandu”, informou. Ele explicou ainda como é realizado o principal método de colheita (varredura) das sementes e como se dá a avaliação do grau de pureza no momento da comercialização. Ao final, abordou o problema da pirataria de sementes, que é quando cultivares protegidas são utilizadas sem a devida autorização do obtentor.