No dia 5, foi o Dia Mundial do Meio Ambiente. A criação dessa data teve como objetivo a conscientização da população sobre os temas ambientais, principalmente aqueles que dizem respeito à preservação. Por meio de sua atuação sustentável, a pecuária brasileira vem contribuindo muito para o meio ambiente. Mas a criação de animais no país usa espaço demais e emite gases de efeito estufa demais pelo que entrega, dizem. Será?
A pecuária transforma biomassa não comestível em um alimento de alto valor nutricional e também é capaz de ocupar terras que não são adequadas à agricultura. A criação de animais é essencial para a vida de cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo. Pastagens podem ser enormes sumidouros de carbono. O próprio índice usado para converter metano em equivalente carbono tem sido contestado por pesquisadores do porte de Gylvan Meira Filho, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e ex vice-presidente do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). A mudança nesse índice mudaria completamente a participação da pecuária nas emissões globais. Portanto, a pecuária não é o problema, é uma aliada na solução do problema.
Não podemos esquecer que o Brasil tem uma história recente de ocupação territorial, e a pecuária desempenhou inegável papel na expansão das fronteiras agrícolas brasileiras.
Novas tecnologias foram sendo incorporadas ao campo, a melhoria genética, pastagens mais produtivas, inovações em manejo sanitário e nutricional. A integração entre lavoura, pecuária e floresta, última palavra em tecnologia agropecuária tropical, mal começa a entregar suas imensas possibilidades de aumento de eficiência no campo. A incorporação de tecnologia na produção incrementou a produtividade de tal forma que, nos últimos 17 anos, a área de pastagens diminuiu no país ao mesmo tempo em que o rebanho, a produção e a exportação, foram impulsionados.
EFICIÊNCIA
Nesse período, a pecuária passou a reduzir a área que ocupa, e ainda assim continua a aumentar sua produção. Entre os concorrentes, segundo estudo da Faculdade de Zootecnia da USP, o Brasil foi o que mais reduziu as emissões de metano para cada quilo de carne produzida nos últimos 20 anos, efeito do aumento de eficiência. Ao mesmo tempo, um alimento antes caro e escasso passou a ser acessível.
O desmatamento novo, transformado em pastagens, deriva muito mais da ausência do Estado e de sua incapacidade em gerir o próprio território nas regiões de fronteira agrícola e nas áreas com infraestrutura em expansão do que dá necessidade de novas áreas produtivas pelo setor.
Se, por um lado, o aumento da produtividade reduz a pressão por desmatamento, a lei do novo Código Florestal e seus instrumentos, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) nacional e o Programa de Regularização Ambiental (PRA), sem paralelos no mundo, certamente ajudarão a vencer o desafio da gestão territorial.
A indústria representada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), por sua conta, assumiu a responsabilidade de controlar sua cadeia de fornecimento estabelecendo critérios socioambientais na compra de gado e usando geotecnologia para criar o maior monitoramento privado do mundo na origem de sua matéria-prima.
Produzir mais com menos. É o que o Brasil tem feito. E esse é um lema que tem levado os diferentes atores envolvidos com a pecuária a trabalhar juntos em busca de soluções para o grande desafio de conciliar produção, preservação e mudanças climáticas.
A própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO – sigla em inglês), em sua publicação Tackling Climate Change trough Livestock, reconhece a função da pecuária na mitigação de mudanças climáticas, e pilota a Agenda of Action, iniciativa global que atua na busca de consensos e soluções. Assim como atua a Mesa Redonda Global sobre Carne Sustentável (Global roundtable on Sustainable Beef), iniciativa que reúne multinacionais, produtores, indústrias e ONGs na formulação de princípios e critérios para uma pecuária sustentável.
No Brasil, o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), entre inúmeras iniciativas, trabalha na disseminação de boas práticas de produção em diferentes regiões do país. Sustentabilidade, nunca é demais lembrar, baseia-se em um tripé ambiental, econômico e social. De um lado do mundo, pessoas estão comendo carne, algumas pela primeira vez, porque estão saindo da pobreza. Aqui, deste lado, pessoas têm a chance de sair da pobreza porque participam, direta ou indiretamente, de um sistema agroindustrial que movimenta US$ 170 bilhões no país, gerando emprego e renda em regiões carentes de oportunidades.
É claro que a atividade ainda tem muito a melhorar. Obviamente, existem ainda desafios imensos pela frente, que envolvem o acesso a crédito e tecnologias na produção, a segurança jurídica, a gestão territorial, entre muitos outros. Tendo como um dos seus pilares a melhoria contínua, o GTPS foi criado justamente para debater e propor soluções a esses desafios.
* Fernando Sampaio é Diretor-executivo da Abiec e integrante da Comissão. Artigo publicado no Estado de Minas